Com o que já temos a situação da formação do preço da moeda americana acentua sua apreciação, mas poderá ocorrer piora se o FOMC na sua reunião de amanhã (quarta-feira) sinalizar de forma mais firme, além do término do QE3, a mudança da política monetária americana que provocará a elevação do juro nos Estados Unidos.
Para o preço da moeda americana chegar aonde já chegou ontem, R$ 2,3506, há razões e motivos fundamentados de sobra para dar-lhe sustentabilidade, e não são predominantemente políticos mas macroeconômicos, mas eventual sinalização do FOMC de que a política monetária americana, em breve, será alterada tem capacidade de agregar pressão adicional nos fluxos de recursos retirantes do país, acentuando a demanda e apreciando o preço do dólar.
As eleições estão muito próximas e já está muito arriscado especular com base nas pesquisas que por vezes são relativamente assimétricas entre si nos detalhes e já não permitem que seja um jogo sem riscos de inviabilidade de reversão rápida.
Por isso, passam a predominar os fundamentos do “status quo” que deve ainda predominar no curto/médio prazos, seja qualquer um dos candidatos o eleito. A mudança de perspectivas e expectativas não tem condições de viabilização a não ser no longo prazo, pois antes o Brasil precisa reconstruir-se, redirecionar-se e dar certo nos seus novos propósitos programático.
Afirmar que vai interromper a intervenção do BC no mercado de câmbio de imediato é desconhecer a real situação de como ocorre esta intervenção e a carência de fluxos de recursos externos com que o país convive na atualidade, embora detenha reservas cambiais, que busca manter intocáveis, de US$ 380,0 Bi, o que já não se configura tão fácil em perspectiva.
A redução da intervenção pode ser um anseio, mas a estratégia para executá-la depende mais dos outros (investidores estrangeiros, balança comercial, etc.) que precisam convergir para a geração de fluxos cambial líquidos largamente positivos, o que não é projetável para o curto/médio prazo, já que tudo precisa dar certo para que se viabilize o equacionamento da questão cambial.
Afora o movimento natural de saída de recursos estrangeiros do país que está sendo intensificado e que poderá ser alavancado em decorrência de anúncio ou indicações do FED relativas à mudança na política monetária americana, observamos que a despeito dos estrangeiros estarem saindo com seus recursos, seus posicionamentos comprados líquidos no mercado futuro continuam crescendo. Podem estar ocorrendo, como já salientado dias atrás saídas de recursos do país, sem desmonte do “hedge” que assim passa a ser especulativo, aguardando para ser revertido quando a taxa cambial estiver mais elevada.
E este pode ser mais um foco de pressão adicional sobre a formação do preço da moeda americana.
Além destes pontos adversos, temos salientado que é muito razoável a presunção de que os IED´s neste 2º semestre registrem montantes menores do que os esperados, pois nos parece cautelar por parte dos investidores estrangeiros aguardarem as eleições e as novas diretrizes que serão adotadas para fazer sucumbir o negativismo presente e criar perspectivas de retomada da atividade econômica e crescimento.
Há sinalização concreta de que as captações externas por empresas brasileiras sofre retração neste 2º semestre, como era previsto já que anteciparam suas captações no 1º semestre.
Havendo motivos concretos para fomentar a saída de recursos do país e provocar a retração dos ingressos, é inevitável que a taxa cambial deva repercutir o fato elevando o preço do dólar.
A ação do BC intervindo no mercado com extraordinário volume de contratos de “swaps cambiais” não tem sido reduzida, pois na medida em que deixa de rolar parte das posições vincendas acrescenta oferta de contratos novos. Contudo, é possível admitir-se que grande parte da demanda por “hedge” pelas empresas está satisfeita, restando os bancos como tomadores tendo em vista a ocorrência da expansão das suas posições vendidas. Mas, o ponto questionável é se o nível de oferta de swaps cambiais, rolados ou novos, já não suplanta a necessidade efetiva por “hedge” e pode estar aumentando a posição comprada de especuladores.
Ontem, o dólar voltou a se fortalecer, porém reduziu seus ganhos em relação às principais moedas globais após a divulgação de relatórios norte-americanos mistos, mas mesmo assim ainda permaneceu perto de altas de 14 meses. O FED de NY informou que o seu índice de condições gerais de negócios atingiu em setembro a maior alta em cinco anos registrando 27,5 pontos, após 14,7 pontos em agosto e projeção dos analistas de 16,0 pontos para setembro. Por outro lado, a produção industrial americana caiu 0,1% em agosto ante projeção de alta de 0,3%.
Mas, de toda forma, a moeda americana permaneceu forte frente as moedas globais e em relação aos emergentes valorizou-se 0,31% frente ao dólar e desvalorizou-se 0,12% frente ao peso mexicano, 0,38% frente a lira turca e 0,43% frente ao rand sul africano, todas taxas por volta das 16hs.
O Boletim FOCUS fez uma revisão estranha na sua mediana para o preço do dólar ao final do ano reduzindo-a de R$ 2,33 para R$ 2,30, parecendo mais um anseio do que uma projeção com visão prospectiva apurada. Em contraposição, não alinhada projetou a redução do crescimento do PIB de 0,48% para 0,33%, ao mesmo tempo, em que elevou a projeção para o déficit em transações correntes de US$ 81,20 Bi para US$ 81,60 Bi, sem praticamente alterar os fluxos positivos de balança comercial e IED´s.
A tendência, no nosso entendimento, é de pressão gradual apreciando o preço do dólar, salvo uma nota mais explicita do FED amanhã sobre a mudança da política monetária americana, que agilizaria mais o processo.
É preciso também ficar atento ao “yeld” dos T-Bills americanos que tem se elevado rapidamente. Ontem para os papéis de 10 anos, referencial do mercado, a taxa cedeu de 2,61% para 2,59%, mas na medida em que tende a se aproximar de 2,70% passa a ser mais atrativa aos investidores que estão nos países emergentes.