Decisões da autoridade monetária costumam ser esperadas com grande antecipação pelo mercado e suas palavras analisadas com minuciosidade para compreender exatamente quais são as implicações sobre os juros futuros. No entanto, podemos afirmar com alguma certeza de que “esta vez será diferente”. O Copom realizará sua 250ª reunião na próxima quarta-feira (26/10), poucos dias antes do segundo turno das eleições no Brasil e das Midterms nos EUA. Nesse ambiente, é razoável supor que a autoridade monetária optará por não trazer grandes novidades ao debate.
Primeiramente, vale considerar o porquê da relevância das reuniões do Copom. Já tratamos os aspectos teóricos e práticos de movimentos de juros algumas vezes em posts passados. No entanto, vale lembrar que a política monetária impacta a demanda agregada e o preço de ativos por diversos canais (expectativas, juros, câmbio etc.), o que justifica a atenção elevada dos agentes para sua trajetória futura.
Em nosso relatório pré-Copom, apontamos diversos fatores que ensejam cautela para a autoridade monetária neste momento. Há dúvidas consideráveis sobre a perspectiva fiscal futura do Brasil que dependem ao menos em parte da resolução do segundo turno da eleição. Outro fator relevante é a dinâmica inflacionária. Apesar da dinâmica de deflação registrada no terceiro trimestre, esta permanece concentrada nos preços administrados. Em contrapartida, preços livres avançaram e, dada a baixa taxa de desemprego, provavelmente, permanecerão pressionadas nos próximos trimestres.
O cenário externo também é mais desafiador para a autoridade monetária. A divulgação da taxa de desemprego e da inflação dos EUA nas últimas duas semanas demonstram de forma inequívoca a dificuldade da tarefa do FED (o Banco Central dos EUA) para controlar o processo inflacionário. Consequentemente, a expectativa de juros terminais subiu para 5% (ainda abaixo da nossa projeção).
Nota-se que este cenário externo implica necessariamente redução da liquidez global, provocando valorização do dólar (já amplamente observada) e aumento da volatilidade global. Ante a perspectiva também de preços de commodities energéticas e alimentícias sustentadas, há uma série de economias emergentes que podem estar ante um ano de 2023 bastante complicado.
O caso brasileiro é diferente. Ainda que estejamos sujeitos a essa redução de liquidez global, temos de considerar que nossa pauta de exportação é positiva para o momento, além do fato de que as amplas reservas cambiais ajudam a atenuar movimentos fortes na moeda.
Portanto, dada a quantidade de incertezas presentes e o fato de o Banco Central já ter elevado consideravelmente a taxa de juros, nossa perspectiva é de que a reunião do Copom seja um “non-event” (i.e., sem impactos relevantes para os mercados). Por enquanto, mantemos nossa projeção de Selic inalterada em 13,75% até o final do primeiro semestre de 2023.