Ao longo das últimas décadas, gerações de brasileiros cresceram ouvindo o vaticínio de Stephen Zweig de que “o Brasil é o país do futuro”, mas esse “futuro” nunca chegava. O Brasil é um país em desenvolvimento que está sujeito aos mesmos vícios dos seus vizinhos sul-americanos: corrupção, falta de liberdade econômica, instituições fracas e legislação que não para de mudar, tudo sob o pulso firme de um estado interventor nos moldes keynesianos.
No espectro político brasileiro, não importava se o governante era de direita ou de esquerda, a palavra de ordem era gastar. A última recessão se deveu em grande parte ao modelo de crescimento baseado no endividamento, que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2015. Isso permitiu a emergência e a popularização do pensamento liberal clássico nos debates públicos, que acabou influenciando diretamente a eleição do presidente Jair Bolsonaro.
Assim nascia uma improvável aliança entre um grupo militar e liberais clássicos, na forma de um casamento político entre o presidente e seu Ministro da Economia, Paulo Guedes. Defensor do livre mercado, ex-banqueiro e Ph.D. pela Escola de Economia de Chicago, Guedes afirmou que seu objetivo era ser o grande reformador da economia brasileira, o “Chicago boy” do país.
A seguir, elencamos quatro razões macroeconômicas que explicam por que o momento do Brasil pode estar chegando
1. Privatização de empresas estatais
Antes mesmo de assumir o cargo de Presidente da República, Jair Bolsonaro fazia campanha defendendo a privatização de empresas estatais. Guedes já anunciou seu plano de desestatização de R$ 80 bilhões que, segundo ele, está avançando pela "via expressa". O plano está sendo encabeçado pela BR Distribuidora (SA:BRDT3).
O governo também anunciou sua intenção de privatizar 17 empresas do governo, entre elas os Correios, na área de serviços postais, e a Eletrobras (SA:ELET3), no setor de energia. A única limitação é que a privatização depende da aprovação do Congresso.
2. Empresas brasileiras estão refinanciando suas dívidas
Ao longo deste ano, observou-se uma tendência negativa no fluxo cambial estrangeiro do Brasil, o que geralmente é interpretado como um sinal de que os investidores internacionais estão pessimistas com o país. Neste ano fiscal, a Bolsa de Valores de São Paulo registrou uma retirada recorde de fundos desses investidores estrangeiros, mas, por outro lado, contou com depósitos recordes em IPOs (aberturas de capital), fazendo com que o saldo ficasse positivo em R$ 1,72 bilhão.
Observando mais de perto, é possível notar que esse movimento foi em grande parte motivado pelo fato de que as empresas brasileiras estão refinanciando suas dívidas com taxas de juros menores. Com a emergência da era dos juros negativos na Europa, surgiu uma oportunidade única, nas palavras do diretor de política monetária do Banco Central do Brasil, que chegou mesmo a afirmar que a recente crise na Argentina não tinha qualquer influência na depreciação do Real brasileiro.
3. Ibovespa ainda está com um desconto de mais de 40%
À primeira vista, o fato de a Bovespa estar acima dos 100.000 pontos poderia levar a crer que o pico anterior à crise de 2008 ficou para trás e que o mercado brasileiro está prosperando. Mas é aí que está a questão, porque, ao analisar o gráfico da Bovespa em dólares BVSPUSD, é possível perceber que seus preços estão com um desconto de 43% em comparação com a máxima de 2008, como mostramos abaixo.
4. Reforma Previdenciária e Tributária
O governo brasileiro queria desarmar a bomba-relógio do sistema previdenciário e, por isso, apresentou um plano de reforma que elevou a idade de aposentadoria, retirou benefícios de alguns segmentos e propôs a criação de um sistema de capitalização como o existente no Chile. O objetivo é economizar até R$ 900 bilhões ao longo de uma década.
Apesar de ser alvo de protestos e mudanças, o plano principal foi aprovado pelo Congresso, e a expectativa é que seja aprovado pelo Senado no fim desta semana. O governo afirmou que a reforma da Previdência seria a “reforma das reformas”. No ano que vem, o governo também espera aprovar um plano de reforma tributária, cujo teor ainda será divulgado pelo Planalto.
Elencamos a seguir três razões que explicam por que o momento talvez não seja agora
1. Desemprego ainda está perto da máxima histórica
O mercado de trabalho ainda é um desafio para os brasileiros. A força de trabalho do país ainda não se recuperou do desastre econômico de 2015, de forma que cerca de 11,8% da população ativa encontra-se desempregada. A perspectiva de curto prazo ainda é de desemprego elevado nos próximos anos.
2. Elevada capacidade ociosa
De acordo com um relatório da indústria automotiva, cerca de 40% da capacidade do setor não está sendo utilizada, o que também pode ser visto em outros segmentos da economia. O setor de construção, por exemplo, está em segundo lugar, com uma capacidade ociosa de 31%.
3. Consumo e endividamento das famílias
Números recentes indicam que o consumo das famílias, apesar de estar positivo e acima das expectativas, ainda se encontra em níveis historicamente baixos. A razão se deve em grande medida ao alto nível de endividamento que atingiu 64% dos lares, sendo que cerca de 10% deles não consegue honrar seus débitos.
Conclusão
Investir no Brasil é arriscado, já que o país atualmente não possui qualquer grau de investimento. Levando isso em consideração, bem como o fato de que os ativos brasileiros ainda estão desvalorizados e seu governo está disposto a realizar a tão necessária reforma econômica, é possível vislumbrar uma oportunidade de investimento. A visão de Zweig parece estar se tornando palpável.