Apesar das oscilações nos preços do complexo soja no decorrer de março, no balanço do mês, os valores se sustentaram. O movimento de alta foi observado em boa parte do período, influenciado pela firme demanda doméstica e pelo expressivo aumento na procura externa – tendo em vista a política de tarifas de exportação de farelo e óleo de soja na Argentina, principal fornecedora global desses coprodutos. O governo desse país oficializou o aumento das tarifas de exportação de farelo e óleo de soja, de 31% para 33%. Esse cenário acirrou a disputa pelo grão entre as indústrias brasileiras e os consumidores internacionais, resultando em novos recordes de preços no spot nacional. As valorizações também estiveram atreladas ao contexto de menor oferta da safra na América do Sul e, consequentemente, à diminuição na relação estoque/consumo final global, que, ressalta-se, é a menor desde 2013/14, segundo o USDA. Para agravar a situação e reforçar o movimento de alta nos preços, do lado da oferta, houve incertezas quanto à disponibilidade de óleo de soja na Argentina, devido à menor colheita de grão nesta temporada. Com isso, importadores redirecionaram as aquisições ao Brasil e aos Estados Unidos. O significativo aumento na demanda mundial por óleo de soja levou os preços do derivado a atingirem patamares recordes no Brasil e nos Estados Unidos. Além disso, a redução nas exportações de óleo de girassol por parte da Ucrânia (devido ao conflito com a Rússia) e a escassez de óleo de palma da Indonésia aqueceram a procura por óleo de soja.
Os preços do farelo de soja também foram impulsionados pela firme demanda e por perspectivas de aumento também na procura externa pelo derivado nacional, devido ao aumento na tarifa de exportação na Argentina. Nas duas últimas semanas do mês, entretanto, os preços do complexo soja se enfraqueceram, influenciados pela desvalorização do dólar frente ao Real – a moeda norte-americana recuou expressivos 4,4% entre as médias de fevereiro e março, a R$ 4,97 no último mês, a menor cotação nominal em dois anos. Além disso, as cotações foram influenciadas pela proximidade da finalização da colheita de soja em importantes áreas do Brasil, pelo início da colheita na Argentina e pelas estimativas de aumento de área nos Estados Unidos. O USDA estima que a semeadura norte-americana deve totalizar 91 milhões de acres (36,8264 milhões de hectares), um recorde. O anúncio de que o governo norte-americano deve liberar reservas de petróleo para conter a inflação dos preços também pressionou os valores futuros do óleo e do farelo. Esse cenário pode reduzir o incentivo em misturar biodiesel ao óleo diesel, diminuindo, consequentemente, a demanda por óleo de soja, a principal matéria-prima na produção de biodiesel. Vale ressaltar que uma parte dos produtores também está resistente em negociar, preferindo armazenar o volume colhido. Com isso, representantes de cooperativas e cerealistas sinalizam falta de espaço para armazenar o grão, o que, por sua vez, pode fazer com que produtoresfixem novos volumes no curto prazo.
PREÇOS – A média do Indicador ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá (PR) subiu 2,3% em relação à de fevereiro, a R$ 199,60/sc de 60 kg, a segunda maior da história, em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-DI de fevereiro/22), abaixo apenas da de novembro/20. O Indicador CEPEA/ESALQ – Paraná avançou 2,2% de fevereiro para março, a R$ 195,85/sc de 60 kg, o maior desde novembro/20, em termos reais. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, entre as médias de fevereiro e março, as cotações registraram altas de 3,3% no mercado de balcão (pago ao produtor) e de 2,6% no de lotes (negociações entre empresas). Os preços do óleo de soja na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS incluso) aumentaram expressivos 9% entre fevereiro e março, com média de R$ 9.353,96/tonelada, recorde real da série do Cepea (iniciada em jul/98). Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os valores do farelo de soja subiram 3,6% entre os dois últimos meses. Em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-DI de fevereiro/22), os preços desse derivado foram os maiores desde fevereiro/21 nas praças de Campinas (SP), Mogiana (SP), Dourados (MS), Rio Verde (GO), Triângulo Mineiro (MG), Ponta Grossa (PR), Norte e Oeste do Paraná. Na CME Group (Bolsa de Chicago), o primeiro vencimento da oleaginosa subiu 5,7% de fevereiro para março, a US$ 16,7974/bushel (US$ 37,03/sc de 60 kg), a maior desde agosto/12, em termos nominais. O preço médio do farelo de soja em março foi o maior desde maio/14, considerando-se o contrato de primeiro vencimento, a US$ 480,08/tonelada curta (US$ 529,20/t) no último mês, com aumento de 6,6% sobre fevereiro. Para o óleo, a elevação foi de expressivos 13,4% entre os dois últimos meses, atingindo recorde em março, de US$ 0,7586/lp (US$ 1.672,41/tonelada).