Terras Raras: Novo xadrez geopolítico e econômico

Publicado 02.05.2025, 11:35

Nos últimos meses, o termo “terras raras” ganhou destaque na mídia global e tem sido citado por personalidades de alto escalão, como o presidente Trump, em discursos recentes ao Congresso americano. Mas afinal, o que são terras raras e por que elas estão no centro de tantas discussões?

O que são Terras Raras?

Terras raras são um grupo de 17 elementos químicos – incluindo o escândio, o ítrio e os 15 elementos da série dos lantanídeos – que, apesar do nome, não são necessariamente raros em termos de abundância na crosta terrestre. O que os torna valiosos é a dificuldade de sua extração e processamento, além de sua importância estratégica para a fabricação de produtos de alta tecnologia, como smartphones, veículos elétricos, turbinas eólicas e equipamentos militares. Segundo a BBC, “terras raras” é um termo usado para se referir a esses minerais essenciais que, em diversas aplicações, são indispensáveis para setores que vão da medicina à eletrônica.

Relevância Estratégica e Geopolítica

A crescente demanda por tecnologias avançadas elevou a importância estratégica das terras raras. Países que controlam grandes reservas desses minerais possuem uma vantagem competitiva significativa. O Brasil, por exemplo, é apontado pelo Ibram como um dos países com as maiores reservas de terras raras do planeta, e projetos de mineração – como o anunciado pelo governo de Minas Gerais, que atraiu um aporte de R$ 1,35 bilhão para um projeto em Poços de Caldas – reforçam o potencial estratégico do país nesse setor. Além disso, o cenário global vem se reconfigurando com iniciativas inovadoras de empresas brasileiras. Um exemplo é o IPO da Brazilian Rare Earths na Austrália, conforme reportado pelo Brazil Journal, que demonstra a capacidade do Brasil em atrair investimentos internacionais e competir no mercado global de terras raras. Essa iniciativa ressalta não apenas a relevância das reservas brasileiras, mas também o movimento de internacionalização e diversificação das fontes de financiamento para a exploração desses minerais estratégicos.

Além disso, o cenário geopolítico atual é marcado por disputas e acordos em torno da exploração e comercialização desses minerais. Em uma reunião que envolveu declarações contundentes e gritos contra Zelensky, conforme noticiado pelo G1 e pelo O Globo, terras raras foram discutidas como um tema central nas negociações envolvendo a Ucrânia e os Estados Unidos, com o presidente Trump defendendo medidas para garantir o acesso e a competitividade desses recursos.

Especialistas apontam que as restrições à compra de chips americanos por países como a China também impulsionaram a busca por fontes alternativas desses elementos, ampliando o debate sobre a segurança econômica e a autonomia tecnológica. Assim, a discussão sobre terras raras não se resume apenas à mineração, mas envolve uma complexa teia de relações comerciais, ambientais e de segurança nacional.

O monopólio de terras raras da China está diminuindo

Imagem 1 – Produção global de terras raras em minas. Fonte: Desenvolvida pelo autor dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos

Esse gráfico mostra a diminuição do monopólio da China na produção de terras raras ao longo do tempo, com o aumento da participação de outros países como os Estados Unidos, Mianmar, e Austrália.

Exploração de Águas Profundas no Pacífico e a Nova Fronteira Econômica

Recentemente, tem crescido o interesse na exploração de águas profundas no Pacífico, especialmente em regiões como a Zona Clarion-Clipperton, conhecida por abrigar vastos depósitos de minerais estratégicos. Essa área é rica não apenas em metais comuns, mas também em elementos raros e essenciais – incluindo terras raras – que são fundamentais para a produção de tecnologias avançadas, desde eletrônicos e veículos elétricos até sistemas de energia renovável.

A extração desses recursos em águas profundas representa um desafio tecnológico e ambiental, mas também abre uma nova fronteira econômica. Governos e empresas estão investindo em tecnologias inovadoras para viabilizar a mineração submarina, diversificando as fontes de minerais estratégicos em um cenário de crescente demanda global. As ilhas do Pacífico e as regiões oceânicas se tornam, assim, potenciais centros de produção mineral, transformando o panorama econômico mundial e criando oportunidades – ao mesmo tempo em que levantam debates sobre sustentabilidade e riscos ambientais.

Essa nova perspectiva reforça a importância de se manter informado sobre as tendências globais e os desafios tecnológicos, e pode ser integrada ao debate sobre a cadeia de suprimentos de terras raras e outros minerais estratégicos, ampliando o leque de oportunidades e riscos que compõem o cenário geopolítico atual.

No Cenário Global

  • China Northern Rare Earth Group (SS:600111): Uma das maiores produtoras e exportadoras de terras raras, dominando grande parte do mercado global.
  • China Minmetals Rare Earth Co (SZ:000831): Outro gigante chinês que desempenha papel crucial na cadeia de suprimentos de terras raras, beneficiado pelo controle de grandes reservas.
  • Lynas Rare Earth (ASX:LYC) (Austrália): Considerada a maior produtora de terras raras fora da China, a Lynas é vista como uma alternativa estratégica para diversificação do fornecimento global.
  • MP Materials (NYSE:MP) (Estados Unidos): Responsável pela operação da mina Mountain Pass, é a única mina de terras raras em funcionamento nos EUA e tem potencial para ganhar destaque conforme a demanda por elementos estratégicos cresce.
  • Arafura Resources (ASX:ARU) (Austrália): Em fase de desenvolvimento, essa empresa está focada na exploração e produção de terras raras, com potencial para se tornar um player importante no mercado global.

No Cenário Brasileiro

No Brasil, o potencial para se beneficiar do setor de terras raras ainda está em fase de desenvolvimento, mas há oportunidades promissoras:

Empresas de mineração com reservas de terras raras: Embora o Brasil seja apontado como um dos países com as maiores reservas do planeta, ainda há espaço para que grandes mineradoras – como a Vale (BVMF:VALE3), caso decidam investir ou expandir para esse segmento – ou novas empresas especializadas em exploração e processamento de terras raras possam emergir e se beneficiar significativamente.

Projetos e investimentos governamentais: Iniciativas, como o projeto em Poços de Caldas em Minas Gerais, que já atraiu investimentos bilionários, indicam que há um movimento para explorar esses recursos no país. Esse cenário pode abrir espaço para novos players e parcerias estratégicas no setor de mineração.

Terras Raras e a Guerra Comercial entre China e EUA

A disputa comercial entre Estados Unidos e China vem escalando, especialmente no que diz respeito a tecnologias críticas. Recentemente, a China proibiu a exportação de minerais essenciais para a produção de chips avançados, usados em diversas indústrias americanas, como parte de sua estratégia geopolítica. Paralelamente, os EUA implementaram restrições à venda de chips de alta tecnologia para a China, tentando frear o avanço das IAs chinesas.

Essas ações refletem a crescente tensão entre os dois países, ambos buscando garantir seu domínio tecnológico e econômico. Esse cenário de restrições mútuas torna vital para investidores e tomadores de decisão monitorar atentamente o mercado de terras raras, que é um componente estratégico tanto na guerra comercial quanto no desenvolvimento de tecnologias de ponta. As implicações dessas medidas transcendem a tecnologia, afetando indústrias de semicondutores, energia renovável e veículos elétricos.

Análise Conclusiva

Terras raras emergem como o novo xadrez geopolítico, definindo o rumo de inovações tecnológicas e estratégias de segurança nacional. Enquanto países como o Brasil demonstram um potencial robusto com suas extensas reservas e projetos de mineração, as tensões globais e as restrições comerciais estão remodelando a dinâmica desse mercado estratégico. As declarações do presidente Trump e as negociações internacionais evidenciam que o futuro da indústria e da economia global passa, cada vez mais, pelo domínio desses recursos.

Para investidores e tomadores de decisão, compreender a complexidade do mercado de terras raras é crucial para proteger e potencializar seus investimentos. Em um cenário de alta volatilidade e transformação, estar bem informado e contar com análises especializadas pode ser decisivo para identificar oportunidades e gerenciar riscos. Ademais, com muitos investidores optando por dolarizar seu patrimônio – e, consequentemente, se expondo às oscilações dos mercados americanos de tecnologia e energia – agir agora se torna imperativo para não ser pego de surpresa por mudanças abruptas.

Bons investimentos.

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