Os títulos públicos Tesouro IPCA+ são conhecidos por investidores brasileiros como uma das opções mais seguras e rentáveis, que buscam proteção contra a inflação. Esses títulos garantem o pagamento de uma taxa de juros real (acima da inflação medida pelo IPCA) no vencimento do título. Por serem emitidos pelo governo federal, este é um tipo de investimento com menor risco de crédito possível – o chamado “risco soberano”.
Eles possuem duas componentes de retorno: uma taxa fixa definida no momento da compra e a variação da inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Isso significa que o investidor, no momento da compra do título, contrata uma taxa de retorno real acima da inflação. Mas esse retorno é garantido apenas se o investidor mantiver o título até o vencimento; caso decida vende-lo antes, ele estará sujeito às variações do mercado, que são influenciadas por fatores macroeconômicos e expectativas futuras.
Desde abril de 2024, as taxas indicativas dos títulos Tesouro IPCA+ têm superado a marca de 6%. Atualmente, o Tesouro IPCA+ 2029 oferece uma taxa de IPCA+ 6,33%, enquanto o Tesouro IPCA+ 2045 apresenta uma taxa de IPCA+ 6,27%.
Um fato curioso nesse cenário é que o título de prazo mais curto (2029) oferece um rendimento maior do que o de prazo mais longo (2045). Isso sugere que os investidores estão precificando mais risco no curto prazo, uma situação incomum no mercado de títulos, onde normalmente títulos de prazo mais longo oferecem um prêmio de risco maior devido à maior incerteza sobre o futuro.
Essa inversão pode ser explicada por diversos fatores, como preocupações fiscais no Brasil, incertezas políticas e expectativas quanto à inflação e à política monetária. A deterioração fiscal e o cenário de incertezas políticas podem estar levando os investidores a exigir um prêmio de risco maior para manter títulos no curto prazo, acreditando que a situação pode melhorar no longo prazo ou que os riscos serão ajustados.
Reflexão: Até Quando Esse Cenário Vai Persistir?
A grande pergunta agora é: até quando as taxas vão permanecer nesse patamar elevado? Com o cenário de incertezas econômicas e fiscais no Brasil, não há como prever com precisão o comportamento futuro das taxas IPCA+. O que podemos afirmar é que taxas acima de 6% são historicamente raras nos títulos Tesouro IPCA+.
Entre janeiro de 2009 e agosto de 2024, considerando os títulos IPCA+ 2035 e 2045, houve apenas 17,6% e 18,4% dos dias úteis, respectivamente, em que a taxa era superior a 6,30%. Excluindo o período de crise financeira global de 2008/2009, essas taxas só subiram acima de 6,5% entre 2014 e 2016, durante uma grave recessão no Brasil. Para que as taxas voltem a esse patamar, seria necessário que o país passasse por outra crise profunda. Embora essa possibilidade pareça improvável no momento, não é impossível, dada a imprevisibilidade dos mercados.
Como Investir em Títulos Tesouro IPCA+
Para quem deseja aproveitar a segurança e rentabilidade dos títulos Tesouro IPCA+, existem duas formas principais de investimento:
1. Títulos Individuais do Tesouro IPCA+: Ao investir diretamente em um título Tesouro IPCA+, o investidor pode “travar” a taxa indicativa contratada no dia do investimento. Isso significa que, independentemente do que aconteça no mercado, se o investidor mantiver o título até o vencimento, ele receberá a inflação acumulada mais a taxa contratada. No entanto, a desvantagem é que, para títulos de longo prazo, a volatilidade é alta. O preço desses títulos pode variar conforme as expectativas de mercado em relação à inflação e à política monetária. Vender o título antes do vencimento pode resultar em ganhos ou perdas dependendo da taxa de juros vigente no momento.
2. ETFs de Renda Fixa: Os Exchange Traded Funds (ETFs) de renda fixa são uma alternativa interessante para quem deseja exposição aos títulos IPCA+ sem se comprometer com um único vencimento. Os ETFs proporcionam o rendimento médio dos títulos que compõem sua carteira e, ao comprar ETFs de menor duração, os investidores podem ter uma volatilidade mais controlada. Outra vantagem é a alíquota fixa de 15% de Imposto de Renda, que é aplicada independentemente de quando o investidor decida vender suas cotas, seja no curto ou longo prazo.
A Importância da Diversificação
Independentemente de as taxas estarem altas ou baixas, é sempre uma boa estratégia ter títulos IPCA+ soberanos na carteira. Eles fornecem proteção contra a inflação e ajudam a preservar o poder de compra do investidor ao longo do tempo. No entanto, a diversificação é fundamental. Ter uma carteira balanceada, que combine renda fixa e variável, é essencial para minimizar riscos e maximizar retornos.
Assim, o investidor deve estar preparado para enfrentar diferentes cenários econômicos e aproveitar as oportunidades que surgem, sem precisar prever os movimentos exatos do mercado. Afinal, como vimos, o futuro das taxas de juros e da inflação é sempre incerto.