Nos últimos meses, a volatilidade tomou conta dos mercados globais. A cada notícia, uma reação imediata. Sequências de grandes quedas, seguidas de dias de recuperação. Assim foi o dia a dia dos mercados no início deste ano, principalmente no primeiro quadrimestre. Em momentos como este, quando o sobe e desce atinge grande parte dos ativos, os gestores de carteiras, instituições financeiras e investidores tentam se equilibrar para tentar se manter do lado positivo. Ferramentas para análises não faltam, mas uma, em especial, se enquadra perfeitamente neste contexto: os testes de estresse.
De modo geral, os testes são feitos para calcular o comportamento de diferentes ativos e carteiras diante de cenários tumultuados. São realizadas simulações, aplicando-se choques aos principais dados que, geralmente, afetam o mercado. Como exemplos podemos citar taxas de juros, câmbio, preços de ações e commodities, além de índices macroeconômicos. Ou seja, são criados cenários extremos para identificar como um determinado ativo se comportaria.
Os testes de estresse começaram a ser utilizados de forma mais estruturada ao longo da década de 1990 e incluídos ao arcabouço regulatório no Acordo de Basileia já em 1996. Já nessa época o Federal Reserve (FED), o Banco Central americano, começou a estimular o uso de modelagens baseadas em cenários extremos, o que se tornaria a base conceitual dos testes de estresse modernos. Longe de serem meramente exercícios teóricos, esses testes ajudam a antecipar perdas potenciais, calibrar buffers prudenciais e adaptar a estrutura de capital e liquidez diante de movimentos abruptos. Recentemente, o próprio FED levantou discussões sobre ajustes metodológicos e abrangência dos cenários.
O principal objetivo da autoridade monetária norte-americana é avaliar como as instituições financeiras conseguiriam suportar momentos de grande crise ou até mesmo uma recessão. O teste de estresse impacta no provisionamento de cada banco e a metodologia continua sendo revista. Em consulta pública até o dia 23 de junho e implementação prevista para 1o de janeiro de 2026, o FED quer que os bancos calculem a média dos testes de estresses no período dos últimos dois anos. Essa alteração visa reduzir a volatilidade ano a ano nas exigências de capital.
No Brasil, mais recentemente, o Bacen também começou a indicar uma diretriz mais clara e proativa quanto ao uso dos testes de estresse como ferramenta preventiva e de supervisão prudencial. Um exemplo notável é a Resolução CMN nº 5.222/2025 (atualização da 4.557/2017). O texto introduz a exigência de considerar riscos ambientais, sociais e climáticos nos exercícios de estresse, apontando para um alinhamento com as melhores práticas internacionais, como as recomendadas pelo Financial Stability Board (FSB) e o BCBS (Comitê de Basileia).
Considerando que as crises não são previamente anunciadas, é importante sempre lembrar que a análise de estresse não deve entrar no processo somente quando o cenário já estiver fora do controle. Pelo contrário. É esperado que os resultados influenciem diretamente os limites de alocação e risco, além dos planos de capital e liquidez. O objetivo é prevenir e reduzir os impactos e não simplesmente gerenciar as crises após elas acontecerem.
Vale ressaltar ainda que, além da questão regulatória e do objetivo de provisionamento do setor bancário, o teste de estresse também deve fazer parte do dia dos gestores de investimentos para uma análise de risco mais eficiente. Juntamente com o Value-at-Risk (VaR), Expected Shortall e outras indicadores de risco, o teste de estresse, quando bem implementados, transforma-se em uma poderosa ferramenta de governança e planejamento estratégico, conectando métricas quantitativas de risco à tomada de decisão.
Em um ambiente onde eventos extremos se tornam cada vez mais intrincados e os fatores de riscos se tornam mais interconectados, antecipar o impacto de cenários adversos é, acima de tudo, um imperativo de sobrevivência e competitividade. Se não é possível fazer uma blindagem total contra crises, com os testes de estresse, pelo menos, é possível estar mais preparado para enfrentar os tsunamis que, mais cedo ou mais tarde, certamente, irão impactar os mercados, os investimentos e as instituições.