O mercado financeiro global é altamente seletivo com os ativos que considera elegíveis para compor carteiras institucionais.
Essa seletividade não se baseia apenas em fundamentos econômicos, mas em fatores práticos como liquidez, rastreabilidade, dados de mercado confiáveis e estrutura operacional consolidada. Quando essas condições não estão presentes, vários ativos acabam sendo ignorados; não por falta de valor, mas por não se enquadrarem nos critérios técnicos exigidos pelas gestoras, fundos e reguladores.
A tokenização de ativos surge como uma solução concreta para esse problema estrutural e técnico. Ao representar digitalmente ativos do mundo real (Real-World Assets - RWA) em uma blockchain, cria-se uma infraestrutura onde qualquer ativo pode ser rastreado, fracionado, auditado e negociado de forma segura, transparente e global.
O que antes era exclusivo de mercados desenvolvidos passa a ser acessível em escala global, com regras claras, dados consistentes e liquidação instantânea.
Ativos como imóveis em mercados emergentes, créditos privados, participações em empresas de capital fechado, commodities, propriedade intelectual e colecionáveis físicos agora podem ser representados por tokens digitais.
Isso abre caminho para que passem a integrar estratégias sofisticadas de investimento, antes restritas a ações listadas ou títulos públicos.
A transformação não está apenas na teoria, mas também em desenvolvimento prático.
Considerando dados de abril de 2025, o volume total de ativos financeiros tokenizados ultrapassa US$12 bilhões em crédito privado, enquanto os fundos de mercado monetário on-chain já somam mais de US$1 bilhão em ativos sob gestão.
As stablecoins, consideradas os primeiros RWAs de sucesso, movimentam cerca de US$2 trilhões por mês, evidenciando sua funcionalidade como meio de troca e reserva de valor dentro e fora do ecossistema cripto.
A capitalização de mercado tokenizado está em mais de US$20 bilhões sem considerar as stablecoins e quase US$250 bilhões ao considerar as stablecoins.
A adoção inicial se concentra em ativos com baixa complexidade técnica e alta eficiência operacional quando digitalizados. É o caso de bonds, fundos e instrumentos de crédito estruturado.
Projetos como Maple Finance, Centrifuge, Ondo Finance e Figure já demonstram escala e maturidade nesse novo modelo.
Apesar dos avanços, o mercado enfrenta um problema de liquidez limitada, o que inibe a adesão de grandes emissores e compradores. Para superar essa barreira, surgem as chamadas cadeias de valor mínimas viáveis (Minimum Viable Value Chains - MVVCs); através de uma cooperação entre vários agentes institucionais para operar de forma coordenada para garantir viabilidade econômica e técnica à emissão e negociação de ativos tokenizados.
Essa dinâmica já é visível em iniciativas como o Onyx da J.P. Morgan, os repos tokenizados da Broadridge, e projetos regulatórios como o Project Guardian em Singapura. Nessas redes, ativos circulam com transparência, interoperabilidade e governança integrada, sem as fricções operacionais típicas da infraestrutura financeira tradicional.
A infraestrutura blockchain, por sua vez, avança em direção a uma convergência entre redes públicas e permissionadas, equilibrando liquidez, segurança, privacidade e conformidade. Plataformas públicas como Ethereum oferecem composabilidade e liquidez nativa, enquanto redes permissionadas garantem privacidade e controle regulatório.
Entre os principais benefícios da tokenização estão a eliminação de intermediários redundantes, redução de custos administrativos e transacionais, liquidação em tempo real, transparência regulatória automatizada e acesso global.
Esses avanços não apenas otimizam processos operacionais, como também geram impactos estruturais mais amplos, promovendo a redistribuição de fluxos de capital, desintermediação de serviços financeiros e ampliação do acesso a ativos globais.
Como consequência, há uma maior inclusão de investidores e emissores antes excluídos do sistema financeiro institucional devido a barreiras técnicas ou geográficas.
A tokenização redefine o que pode ser considerado passível de investimento por classificações técnicas definidas pelos agentes institucionais. E quando os dados históricos se acumularem, a liquidez se consolidar e a infraestrutura atingir maturidade, os gestores e instituições que já estiverem posicionados captarão um diferencial competitivo substancial.
Este é o momento para revisar portfólios, identificar os ativos mais adequados à digitalização e avaliar como a tokenização pode acelerar estratégias de expansão, inovação e rentabilidade.
No futuro, a separação entre o mercado financeiro tradicional e o mercado cripto deixará de existir. Haverá uma integração total, na qual bolsas tradicionais, como a NYSE ou a B3 (BVMF:B3SA3), estarão conectadas a blockchains, criptomoedas e criptoativos em geral, incluindo os ativos tokenizados.
Fontes:
Rwa.xyz
Insights4vc