Em novembro, a colheita de uma safra recorde de trigo foi praticamente finalizada no Brasil. Entretanto, estimativas oficiais divulgadas no mês indicaram reajustes negativos para as ofertas nacional e mundial. No Brasil, a Conab diminuiu a produtividade esperada em vários estados, com destaque para o Paraná e o Rio Grande do Sul. Em termos globais, o USDA (Departamento de Agricultura Norte-Americano) também reduziu as estimativas de produção, o que, por sua vez, pode levar os estoques de passagem em 2021/22 para os menores volumes desde 2015/16. Quanto aos preços, apesar da maior disponibilidade interna, seguiram firmes em novembro, sustentados pelos altos valores externos, pela menor oferta mundial e pela paridade de importação. A maior parte dos produtores armazenou o cereal de maior qualidade, no intuito de negociá-lo no início do próximo ano, na expectativa de preços maiores. Já do lado comprador, muitos estiveram à espera de queda nos valores, fundamentados na colheita recorde, e os mais ativos no mercado acabam importando o cereal. Em novembro, o preço médio do trigo no mercado disponível no Paraná foi de R$ 1.609,45, alta de 2% frente ao de outubro/21 e 14,8% maior que o de novembro/20. No Rio Grande do Sul, a média de novembro foi de R$ 1.497,45, avanços de 1,6% no mês e de 6,1% no ano. Em São Paulo, a média foi de R$ 1.702,52/t, elevações de 0,9% frente à de outubro/21 e de fortes 22,7% na comparação com novembro/20. Em Santa Catarina, a média foi de R$ 1.538,59/tonelada, aumentos de 0,2% no mês e de 6,5% em um ano.
DERIVADOS – A maioria das farinhas se valorizou de outubro para novembro. De acordo com colaboradores do Cepea, houve necessidade de elevação nos preços das farinhas, devido à alta dos custos neste último ano, com destaque para o cereal. Entretanto, agentes alegaram dificuldades nesse repasse ao consumidor. Já os preços dos farelos continuaram cedendo de forma expressiva em novembro. Segundo colaboradores do Cepea, a demanda por farelo de trigo diminuiu, tendo em vista que muitos demandantes substituíram este componente na ração animal por triguilho (com a piora da qualidade do trigo do Paraná) e pela casca de soja.
ESTIMATIVAS – A Conab reduziu a estimativa de produtividade da safra de trigo no Brasil, devido aos impactos de geadas e seca durante o desenvolvimento da cultura, agora indicada em 2,832 toneladas por hectare, 6,4% abaixo do relatório anterior, mas ainda 6% superior à de 2020. A área com o cereal cresceu 16% sobre a temporada anterior, para 2,715 milhões de hectares. Com isso, a produção ficou estimada em 7,68 milhões de toneladas, queda de 6,1% frente ao relatório de outubro, porém, forte aumento de 23,3% em comparação à temporada anterior (6,23 milhões de toneladas). No relatório de novembro, a disponibilidade interna (estoque inicial + produção + importação) foi estimada em 14,035 milhões de toneladas, 9,1% acima da safra anterior. Do lado da demanda, o consumo interno continuou previsto em 12,34 milhões de toneladas, 3,76% maior que na última temporada. A exportação entre agosto/21 e julho/22 permaneceu em 900 mil toneladas pela Conab, mas, com a redução da expectativa da produção nacional, a importação foi elevada para 6,2 milhões de toneladas. Assim, o estoque final, em julho/22, foi novamente reduzido e deverá ser de 789 mil toneladas, ainda expressivamente superior às 146,9 mil toneladas estimadas para julho/21.
Em termos mundiais, o USDA, em relatório divulgado em novembro, reduziu em 0,1% a estimativa de produção global da safra de trigo 2021/22 frente aos dados indicados em outubro, agora apontada em 775,27 milhões de toneladas, principalmente em decorrência das menores produções na União Europeia, Reino Unido e Turquia, apesar de um aumento na Rússia. Ainda assim, a produção global deverá ser 0,1% superior à temporada anterior. De acordo com o USDA, a Rússia elevou a estimativa de produção em comparação ao relatório de outubro, atingindo 74,5 milhões de toneladas. Apesar disso, ainda é expressivamente inferior (12,7%) à da safra passada (85,35 milhões de toneladas). Quanto ao consumo, o USDA indicou leve alta em comparação ao relatório anterior, passando de 787,05 milhões de toneladas para 787,42 milhões de toneladas, o que representa acréscimo de 0,7% entre 2020/21 e 2021/22. Os estoques mundiais recuaram 0,5% frente ao relatório de outubro e 4,2% em relação aos da safra 2020/21, com um volume de 275,80 milhões de toneladas, ainda o menor desde 2016/17. Assim, a relação estoque/consumo piorou, saindo de 35,2% para 35%, a menor desde 2015/16. Em relação às exportações da safra 2021/22, o USDA prevê 205,008 milhões de toneladas transacionadas, elevações de 1,6% em comparação ao relatório passado e de 3,5% da safra anterior, com reajustes de maiores volumes da União Europeia, Rússia e Índia. Os maiores exportadores permanecem sendo a União Europeia (36,5 milhões de toneladas) e a Rússia (36 milhões de toneladas).
IMPORTAÇÕES – De acordo com dados preliminares da Secex, nos 20 dias úteis de novembro, foram importadas 381,03 mil toneladas de trigo, contra 308,91 mil toneladas em novembro/20. Em relação ao preço de importação, a média de novembro/21 esteve em US$ 282,5/t FOB origem, 25,34% acima da registrada no mesmo mês de 2020 (de US$ 225,4/t).
PREÇOS E SAFRAS EXTERNOS – Nos Estados Unidos, considerando-se as médias de outubro e novembro, o primeiro vencimento do contrato Dezembro/21 do Soft Red Winter da Bolsa de Chicago (CME Group) se valorizou 8,17%, a US$ 8,0648/bushel (US$ 296,33/t). Na Bolsa de Kansas, o contrato de mesmo vencimento do trigo Hard Winter avançou expressivos 9,32%, a US$ 8,2464/bushel (US$ 303,0/t). Na Argentina, segundo informações da Bolsa de Cereales, a projeção de produção foi elevada para 20,3 milhões de toneladas, alta de 19,4% em comparação à anterior.