O BC rolou até o momento tão somente 53% da posição vincenda de contratos de “swaps cambiais” ao final do mês e mantém a dúvida se continuará ou não a partir de abril com o programa que contempla oferta mensal de rolagem destes instrumentos e mais uma “ração diária” adicional.
Ao que tudo indica a autoridade monetária e por assim dizer o governo e sua equipe econômica parecem sinalizar com esta atitude que o preço dólar mais elevado é o instrumento mais rápido para a imprescindível revitalização da atividade econômica, a partir dos seus setores produtivos mais relevantes e, na margem, catalisar para o país investimentos especulativos, oriundos da liquidez internacional, direcionados para Bovespa e renda fixa e desta forma prover o país com fluxos cambiais que se prestarão a atenuar o viés negativo ou até a equilibrá-los.
Mas, o preço do dólar mais elevado pressionará a inflação, que não parece ser a prioridade maior neste momento por parte do governo, que a combate com a elevação da SELIC, mas a retomada da atividade parece ser a preocupação maior.
O dólar com preço mais elevado, como já repetimos inúmeras vezes, impacta favoravelmente na indústria nacional possibilitando-a recuperar a parte perdida para os importados no mercado interno e potencializando a sua competitividade para vendas no mercado externo, e desta forma retomando a geração de emprego e renda, que são dois fatores relevantes que vem dando evidências negativas com viés de agravamento.
Ainda, será extremamente benéfico para os exportadores de commodities, agrícolas e metálicas, compensando parte das quedas ocorridas nos preços internacionais.
Ao eliminar o real sobrevalorizado passa a atrair capitais especulativos para o país e poderá, também, desde que o governo seja mais ágil do que tem sido, investimentos na infraestrutura em programas de privatização ou qualquer nome similar que o governo queira utilizar.
Por este caminho, provavelmente o governo consiga resultados mais rápidos do que se esperar os efeitos das medidas que vem adotando e que encontram resistências políticas no Congresso.
O país precisa efetivamente implementar mudanças altamente relevantes, mas cuja maturação demandará mais tempo, por isso o dólar pode ser o atalho mais conveniente no momento para encurtar a relação causa-efeito.
Todavia, o setor produtivo ao receberem, via preço do dólar, aumento de competitividade, devem fazer a sua parte investindo focando o aumento da produtividade, caso contrário a expectativa do governo pode ser frustrada.
Há em perspectiva riscos relevantes postos para o país. Eventual mudança da política monetária americana poderia arrastar grande parcela de recursos aqui locados, mas o pior dos cenários pode surgir se o país não conseguir manter o seu “grau de investimento”.
O Boletim FOCUS divulgado hoje reduz a expectativa de superávit primário de 1% para 0,8%, valendo lembrar que o compromisso assumido pelo governo é de 1,2%.
Este é mais um fato propulsor de alta do preço da moeda americana no nosso mercado, pois evidencia a percepção de agravamento do risco de perda do grau de investimento pelo não atingimento da meta a que se comprometeu o governo.
Contudo, neste momento o dólar se fragiliza no exterior tendo em vista o alongamento da perspectiva de mudança da política monetária americana, o que é estratégico para os Estados Unidos evitarem que sua moeda venha a sofrer pressão altista excessiva a ponto de prejudicar sua atividade econômica, face ao encarecimento do seu produto em contraposição ao barateamento do importado.
O Boletim FOCUS aponta projeção para o IPCA-2015 em alta para 8,12%, mantendo, contudo a SELIC em 13% e elevando o dólar para o final do ano para R$ 3,10, ao mesmo tempo em que acentua a queda do PIB-2015 para 0,83%.
Os motivos e razões internas que colocam pressão sobre o preço da moeda americana no momento no nosso mercado e em perspectiva continuam as mesmas, o que sugere que a queda do preço da moeda americana em nosso mercado não evidencie alinhamento pleno com o comportamento externo da moeda americana como esta ocorrendo.
Há como um hiato nos embates locais, o que não quer dizer que as divergências tenham sido contornadas, por isso consideramos como potencial o risco da moeda americana vir a sofrer apreciação forte e pontual, de forma absolutamente imprevista, o que nos leva a sugerir atenção a este movimento baixista que se presencia, que tem baixíssima sustentabilidade.