Você também caiu na febre do morango do amor? O que isso diz sobre suas finanças?

Publicado 12.08.2025, 13:30
Na coluna anterior, comentei sobre a tendência crescente de brasileiros optarem por empreender em vez de buscar um emprego formal. A busca por mais autonomia, flexibilidade e controle sobre a própria renda tem levado milhões de pessoas a encontrar no trabalho por conta própria o caminho para o sustento e, para muitos, para realizar sonhos.
Pensando nesse público, que vive atento a novas oportunidades, vamos refletir sobre como agir diante da próxima grande onda de consumo. Porque, cedo ou tarde, vai surgir um novo fenômeno comercial, como o atual “morango do amor”. E quando isso acontecer, é importante saber como aproveitar o momento sem comprometer o futuro.

A nova febre

Se você andou pelas redes sociais ou visitou alguma feira no último mês, é provável que tenha esbarrado na nova paixão nacional: o morango do amor. Trata-se de uma fruta inteira mergulhada em uma calda doce, geralmente feita com açúcar cristal e corante vermelho, que endurece ao secar, criando uma crosta brilhante e crocante, como uma maçã do amor, mas com o toque ácido e delicado do morango.
O doce viralizou de forma meteórica. Segundo levantamento do iFood a pedido da CNN, os pedidos dispararam nas plataformas de entrega: em junho, foram cerca de 11 mil pedidos, número que saltou para 257 mil em menos de um mês. Um aumento de 2.300%. Somente em julho foram entregues mais de 524 mil unidades, alta de mais de 2.490% em relação ao mês anterior. Na prática, a cada pedido são vendidas cerca de duas unidades.
A escalada começou em maio, quando o crescimento foi de 649,89%. A popularidade atraiu novos vendedores: em junho, 830 lojas atenderam pelo menos um pedido da sobremesa; em julho, o número saltou para mais de 10.300, um avanço de 1.140%.
Visualmente chamativo, fácil de preparar e com uma margem de lucro estimada em até 400% por unidade, o morango do amor se espalhou rápido pelo país. Em São Paulo, já vi sendo vendido entre R$ 5 e R$ 18, dependendo da cobertura. Em poucas semanas, vídeos viralizaram, criadores lucraram e milhares de pessoas correram para fazer igual.
Tem casos de gente faturando R$ 3 mil em um único final de semana, apenas com a venda dos morangos em feiras ou nas calçadas. Quem pegou o bonde cedo, surfou bem a onda.
Mas e depois?

O que aprendemos com as paleterias mexicanas?

Esse roteiro já é conhecido. Lembra das paleterias mexicanas? Em 2014, elas explodiram no Brasil com produtos coloridos, “gourmetizados”, margem alta e fácil fabricação. Em um ano, parecia que toda esquina tinha uma. Em dois, quase nenhuma sobrou.
Antes delas, teve a moda dos cupcakes, das brigaderias, das franquias de iogurte congelado, dos food trucks, das hamburguerias artesanais. Em comum, todos começaram como tendências quentes, e poucos sobreviveram quando o público migrou para o próximo hype.

Vale a pena apostar nas tendências?

Sim, mas com ressalvas. Vamos entender:
Quem empreende precisa mesmo aproveitar os ventos a favor. Em tempos de guerra comercial, juros altos e consumo sensível às redes sociais, aproveitar uma boa maré pode fazer diferença no caixa do mês. Mas é fundamental entender a natureza da onda: ela vem e vai.
Aproveitar o momento é inteligente. Apostar tudo no momento, não.
O morango do amor é um bom negócio? Pode ser. Mas não deve ser o plano de aposentadoria, o produto principal da loja que você pensa em abrir. É caixa de curto prazo. Em outras palavras, pode ser a pescaria do fim de semana, mas não é garantia de colheita pelo resto da vida.
Além disso tudo, é preciso sempre estarmos atentos ao fato de que, nas mídias sociais, algoritmos mudam mais rápido que o tempo em cidade litorânea. Uma palavra que ranqueava muito bem nas buscas em altas posições ontem, já não funciona hoje.
Um vídeo que bombava com certa trilha sonora agora é punido por direitos autorais. Aquela estratégia de tráfego pago que entregava ótimos resultados na semana passada pode virar um buraco negro no orçamento da próxima.
Por isso, é importante, sim, estar ligado nas tendências, claro. Mas elas não devem ser o seu norte. O principal é a autenticidade da sua mensagem e o valor que você entrega à sua comunidade.
Tendência é só a embalagem. É o conteúdo que constrói o relacionamento de longo prazo.

Quando até a carona vira um alerta importante

No livro Calma sob Pressão, Henrique Meirelles relata um episódio de 2007, quando chegou a Nova York para uma série de reuniões pelo Banco Central. No aeroporto, entrou em um carro alugado (com motorista), conduzido por uma brasileira.
Conversando, ela contou com entusiasmo que havia comprado uma casa financiada. Como o imóvel dobrou de valor, usou essa valorização como garantia para fazer outro empréstimo e comprar mais uma. Com o dinheiro do aluguel da primeira, pagava o financiamento da segunda. E, animada, completou: “E os preços do mercado imobiliário continuam subindo!
Agora, a minha meta é comprar uma terceira casa.”
Meirelles não respondeu, mas pensou consigo:
“Não tem como isso dar certo.”
Era um sinal claro de bolha. Quando qualquer pessoa, sem preparo ou reserva, aposta tudo em um único ativo só porque ele está valorizando rápido, o risco se multiplica. E quanto mais gente embarca nessa euforia coletiva, mais alto vai o castelo de cartas. Até cair.

Por isso, diversifique até nas modas

A melhor forma de aproveitar uma tendência é não depender dela 100%. Use o lucro do morango para investir em outro projeto. Pegue parte do que entrou e monte uma reserva. Aprenda com o movimento, mas não se case com ele.
Cuidado com muitas novidades nas finanças. Produtos ou ativos não testados no longo prazo servem para, caso você realmente acredite neles, apenas uma parte pequena do seu portfólio (a famosa “pimenta” que dá sabor, mas que não deve ser o prato principal).
Também é preciso resistir ao efeito manada. Quando todos ao seu redor parecem correr para comprar ou investir na mesma coisa, é exatamente aí que vale parar, analisar e decidir com base em números e não em euforia. Essa disciplina é o que separa quem surfa várias ondas ao longo da vida de quem se afoga na primeira.
A onda do morango vai passar. E outras virão. Quem tiver preparo, liquidez e atenção consegue surfar mais de uma e construir algo sólido no longo prazo.

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