As flores começam a escassear e começa a restar somente os espinhos, esta é a síntese do sentimento atual em torno do novo e transitório governo.
O mercado financeiro, opositor forte ao antigo governo que está afastado, parece relutar em partir para as criticas ao atual que tanto apoiou, mas, certamente, já não há tantas perspectivas favoráveis quanto dantes quando imaginou que “milagres” são possíveis, a partir de bons nomes na gestão, desconsiderando a grandiosidade da crise efetivamente econômica e fiscal que assola o país e as questões políticas de pressão sobre o governo, no uso da velha pratica política de que é dando que se recebe para ter apoios.
Avanços concretos o país teve poucos, além de sancionar politicamente o déficit fiscal magnânimo para este ano em torno de R$ 170,0 Bi, já se falando em R$ 150,0 Bi para 2017. Números desastrosos que conduzem o Brasil para um contexto em que não pode ficar tentando atribuir movimentos de seus mercados ao que acontece no exterior, ainda que envolvam fatos consideráveis como a saída do Reino Unido da União Europeia e o contumaz receio de elevação de juro pelo FED. Há por aqui razões mais fortes que devem necessariamente preponderar sobre a formação dos preços dos ativos, afastando a errática ideia de que podemos refletir em linha o que ocorre no mundo, já que neste momento estamos diferentes e para muito pior.
O restante foi e são discursos contendo anseios bonitos, mas desprovidos de fundamentos e o fato concreto é que persiste o desestimulo ao empresariado produtivo do país, que assim não investe, promovendo a continuidade do desemprego, com concomitante queda da renda e do consumo.
As expectativas contidas no Boletim Focus estão afastadas da realidade, mais parecendo postura ainda defensora do novo governo.
Grandes grupos negociam dividas expressivas e encontram baixa probabilidade de retorno face ao estado mórbido da economia que continua afundando, pode ser até de forma mais lenta porque nutria expectativas favoráveis, mas que poderá acelerar ao não constatar ações efetivas por parte do governo, que está mais para agravar a situação com foco na arrecadação do que em fazer concessões que não estão ao seu alcance no momento.
As ações perante o Congresso nacional perduram inertes e sugerem, como vem sendo noticiado pela imprensa, que velhas táticas de conquistas de apoio já estão em linha, o que é efetivamente desalentador, pois deveria haver a pretensa coesão em torno dos interesses do país.
Assim, pode ser que o novo governo transitório já esteja prestes a trafegar por práticas antigas que o farão tão igual quanto aos demais.
A expectativa é que tivéssemos algo mais dinâmico no novo e sem práticas arcaicas para avançar na recuperação do país.
Parece que o país não está muito distante do momento em que foi assumido pelo novo governo, com enorme euforia e integrado por nomes bem referenciados.
E os sinais já não são alvissareiros.
A indústria produtiva e exportadora já reclama do preço do dólar, no nosso entender bastante afastado da dura realidade com a qual o país se defronta, visto que os pedidos externos começam a recuar e, então, acentua o estado de desanimo.
O BC sob nova direção, inicialmente se mostrou alheio ao problema e assim o preço da moeda americana acentuou a forte depreciação, deixando a nítida impressão de que o interesse é utilizar o preço do dólar pró combate à inflação e de ganho fiscal com o aumento dos ganhos sobre o estoque liquido de swaps cambiais em poder do mercado.
A queda das exportações já está apontada como tendência e naturalmente haverá o aumento das importações, já que o mundo está precisando vender e está concedendo descontos, e é enganoso imaginar-se que o preço do dólar é fruto do aumento de confiança no país, etc.... Teoria à parte, no atual quadro dólar a preço baixo acentua o afastamento do investidor estrangeiro, já que o mesmo vislumbra risco cambial expressivo.
A despeito do muito falar que está entrando recursos e está deixando de sair por esta ou aquela via, o fato concreto é que o “caixa” (fluxo cambial liquido) está negativo em US$5,0 Bi até a semana da mais recente divulgação pelo BC.
Depois da insensibilidade longa, entrar com ofertas de 10.000 contratos diários de swaps cambiais reversos não pode ser considerada intervenção, sendo mais um “faz de conta”, pois além do aparente interesse próprio em manter o dólar depreciado, pode estar acontecendo que os detentores de posições compradas em cada oportunidade até acentuem especulativamente a depreciação do dólar com o intuito de que o BC realiza ofertas de swaps cambiais reversos e possam sair de suas posições.
Num governo que já não encanta tanto quanto antes por suas perspectivas, se o BC também errar pode ser o caos para a economia, pois se quiser efetivamente intervir no mercado de câmbio precisará fazer ofertas diárias em torno de 50.000 contratos de swaps cambiais reversos.
A taxa cambial se presta a inúmeras coisas, sendo a que tem reação mais rápida e contundente na relação causa/efeito na economia, sem exigir recursos imediatos por parte do governo e altamente motivadora ao investimento do setor produtivo.
Contudo, posta em antagonismo com os interesses da economia brasileira, poderá ser altamente danosa a atividade e agravar mais ainda o que já é soberbamente grave.
A situação brasileira é altamente complexa, tem inúmeros vetores e tentáculos e tem como desafio acertar sua política fiscal, que, contudo depende da retomada da atividade econômica, que por sua depende de inúmeros fatores que suscitam muita atenção quanto a ocorrência de erros no trato.
Consideramos o dólar como o fator principal e estamos errando ao desvirtuar o uso do seu preço.