Por Sabrina Valle e Marianna Parraga e Roslan Khasawneh
RIO DE JANEIRO/CIDADE DO MÉXICO/CINGAPURA (Reuters) - O Brasil está aumentando suas exportações de óleo combustível marítimo para lucrativos centros "premium" do setor na Ásia, onde leis que exigem um teor mais baixo de enxofre têm feito com que seus pares latino-americanos se afastem do mercado, de acordo com fontes e dados.
As exportações de óleo combustível são a segunda maior fonte de receita com o setor de energia para a maior parte dos países produtores de petróleo da América Latina. No entanto, as leis mais rígidas sobre emissões levaram Cingapura, o maior mercado de abastecimento marítimo do mundo, a reduzir as importações do produto latino-americano para 94 mil barris por dia (bpd) neste ano, ante 167 mil bpd em 2016, segundo dados da agência comercial Enterprise Singapore.
As regras da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) reduziram o teor de enxofre nos combustíveis navais para 0,5%, contra 3,5% anteriormente. O movimento foi positivo para os poucos produtores da América Latina com petróleo "sweet" --especialmente o Brasil, cujo óleo combustível atende ao padrão com pouca necessidade de mistura, atraindo a demanda e preços firmes.
A Petrobras (SA:PETR4) alterou sua estratégia de comercialização para se aproveitar da mudança no mercado. A companhia disse que enviou três quartos de suas exportações de óleo combustível para Cingapura no primeiro trimestre, e espera que as cotações elevadas do produto com baixo teor de enxofre persistam por anos.
A sigla de mercado (em inglês) para o óleo combustível com baixo teor de enxofre é LSFO, enquanto o óleo combustível com alto teor de enxofre é conhecido como HFSO.
A Petrobras disse que a mudança global em favor do LSFO impulsionou temporariamente os preços do óleo combustível brasileiro para patamar superior ao do diesel --um produto refinado mais leve e geralmente mais caro-- no ano passado. O Brasil foi responsável por dois terços das exportações de óleo combustível da América Latina para Cingapura neste ano, ante participação de apenas 10% há cinco anos.
A Petrobras disse à Reuters que se afastou dos contratos de longo e curto prazos firmados com grandes consumidores industriais no Caribe, Europa e Ásia, passando a utilizar principalmente contratos "spot", destinados a clientes dispostos a pagar mais por cargas de última hora.
Em contraste, produtores de óleo "heavy sour", como México e Venezuela, que não investiram o suficiente em ajustes a refinarias para reduzir o teor de enxofre dos produtos, agora precisam oferecer descontos significativos aos preços ou focar em mercados como China e Oriente Médio, onde o combustível mais "sujo" é negociado.
"O Brasil conseguiu preencher o espaço que eles deixaram para trás", disse Marcelo De Assis, chefe de Latin America Upstream Research da Wood Mackenzie.
Uma média recorde de cerca de 129 mil bpd de LSFO do Brasil chegou à Ásia em 2020, de acordo com a companhia de inteligência de dados Kpler. Metade desse volume passou por Cingapura, segundo números da Enterprise Singapore.
Neste ano, o LSFO está sendo negociado com um prêmio de 15% sobre o petróleo Brent, disse uma pessoa com conhecimento dos acordos.
O óleo combustível "sweet" da Argentina também têm registrado vendas firmes, com Porto Rico e Cingapura absorvendo a maior parte do volume que o país pode exportar, de acordo com dados e fontes.
(Reportagem de Sabrina Valle, no Rio de Janeiro; Marianna Parraga, na Cidade do México; e Roslan Khasawneh, em Cingapura; reportagem adicional de Ana Isabel Martinez e Adriana Barrera, na Cidade do México)