Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A poucas semanas do início do plantio de uma safra de grãos que pode ser recorde no Brasil, empresas do setor de fertilizantes ainda sentem restrição nas vendas devido ao cenário de crédito mais apertado para os produtores rurais, em meio a preços mais baixos das commodities agrícolas nos mercados globais.
Executivos reunidos em um congresso realizado pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) destacaram nesta terça-feira que as liberações de crédito --fundamentais para o fechamento de encomendas de fertilizantes-- ainda não ocorrem em níveis satisfatórios.
"O que está preocupando um pouco é o ritmo de liberação do custeio agrícola. Está um pouco atrasado, mas temos uma expectativa de avançar mais rápido nos próximos dias", disse à Reuters o diretor-presidente da Fertilizantes Heringer (SA:FHER3), Dalton Carlos Heringer.
As entregas de fertilizantes nos primeiros sete meses do ano ficaram quase 8 por cento abaixo do volume de 2014, segundo os dados mais recentes divulgados pela Anda, com uma menor antecipação nas compras em 2015 ante o mesmo período do ano passado.
Com essa menor antecipação e o cenário econômico mais complicado, o executivo da Fertilizantes Heringer projeta uma redução de 3 a 4 por cento no volume de vendas do setor em 2015 no país.
Segundo ele, os atrasos iniciais dos negócios não serão recuperados.
O plantio de soja (principal produto agrícola do Brasil) em Estados líderes de produção, como Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul, começa oficialmente em 15 de setembro, com o fim do período oficial de restrições conhecido como vazio sanitário.
MOVIMENTO ATÍPICO
Agosto e setembro, que tradicionalmente são meses calmos para as vendas, com praticamente todas as encomendas finalizadas, ainda deverão ser de atividade intensa dos departamentos comerciais das companhias.
"Comparado a anos anteriores, proporcionalmente, talvez tenha mais negócios por fazer que nos anos anteriores, num cenário mais complicado", disse o presidente da divisão brasileira da gigante Yara, Lair Hanzen.
"O agricultor precisa muito mais reais que precisava ano passado (para financiar seus insumos) em um momento em que o Brasil tem menos dinheiro disponível e com juros mais caros", disse o executivo.
A cadeia distribuição de fertilizantes é uma das mais longas do agronegócio, já que cerca de 75 por cento das matérias-primas são importadas, trazidas de navio para os portos brasileiros, misturadas nas indústrias e depois levadas de caminhão em longas viagens até o interior do país.
"As empresas que importaram fertilizantes trouxeram esse produto para o Brasil com expectativa que tivesse fluidez semelhante aos anos passados. Não saiu no mesmo ritmo. Congestionou porto, mas foi algo que já foi equacionado", disse o presidente do conselho da Anda, George Wagner.
"Existem atrasos nas decisões e na liberação de financiamento. Os grandes grupos agrícolas... têm avançado. Mas os agricultores menos estruturados têm postergado suas aquisições devido ao crédito. Podemos ter problemas na concentração e dificuldade na entrega", afirmou Wagner, que preferiu não fazer projeções para o volume final de vendas de fertilizantes este ano.
Hanzen, da Yara, lembrou que a situação logística só não será caótica para as entregas de última hora em 2015 porque a oferta de caminhões é alta no país atualmente, devido à desaceleração da atividade de outros setores da economia.
O aperto de crédito, decorrente do enxugamento realizado dentro do ajuste fiscal do governo federal e de uma aversão ao risco pelas instituições que emprestam dinheiro, também tem afetado diretamente as indústrias de adubos, que precisam de grandes volumes de recursos para operacionalizar seus negócios.
"As linhas de crédito para fazer as importações também sofreram suas restrições. É um quadro delicado", disse Wagner.