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EXCLUSIVO-Principais indústrias de café do Brasil elevam preços

Publicado 11.12.2024, 16:24
Atualizado 12.12.2024, 15:56
© Reuters. Café não torradon4/12/2024nREUTERS/Maynor Valenzuela

Por Maytaal Angel

LONDRES (Reuters) - As principais torrefadoras de café do Brasil, incluindo a JDE Peet's (AS:JDEP), uma das maiores empresas de café do mundo, deverão aumentar seus preços no mercado interno a partir do início do próximo ano, depois que as condições climáticas adversas causaram um aumento nos preços do grão verde.

Os preços globais do café atingiram níveis recordes esta semana e subiram cerca de 80% este ano, já que o clima adverso no Brasil e no Vietnã, os maiores produtores de café do mundo, afetou as perspectivas de safra, e os consumidores internacionais provavelmente sentirão o impacto já no final de março.

A JDE Peet's, fabricante de marcas como Jacobs, L'Or, Tassimo e Douwe Egberts, aumentará os preços no Brasil em uma média de 30% no próximo ano, disseram dois traders à Reuters nesta quarta-feira, citando documentos enviados aos clientes da empresa.

A JDE Peet's não estava imediatamente disponível para comentar.

O Brasil é o segundo maior país consumidor de café do mundo, depois dos Estados Unidos. No entanto, os traders disseram que as multinacionais do café também procurarão aumentar os preços em outros mercados, muitos deles no final deste mês ou no início do próximo ano, quando seus contratos de longo prazo com os varejistas expirarão.

"Acho que todo mundo vai aumentar os preços no ano que vem", disse um trader da Europa.

Outra grande torrefadora brasileira, a 3Corações, aumentará os preços em 11% em janeiro, depois de aumentá-los em 10% em dezembro, enquanto a Melitta, também uma grande empresa no Brasil, aumentou em 25% este mês, depois de um "recente" aumento de 12%, segundo documentos enviados a clientes e vistos pela Reuters.

PREÇOS DE VAREJO DEVEM AUMENTAR

A JDE Peet's se referiu a "questões climáticas" em uma mensagem aos clientes que dizia que estaria aumentando os preços do café torrado e moído, grãos inteiros, solúvel, cápsulas e cappuccino, de acordo com os traders que viram o documento confidencial.

A Melitta disse que continua a enfrentar o aumento dos custos do café devido à "situação climática", enquanto a 3Corações, uma joint venture entre a brasileira São Miguel e a israelense Strauss, citou o clima, o aumento da demanda e a instabilidade econômica.

Tanto o Brasil quanto o Vietnã sofreram com a seca este ano, e o clima tem sido irregular nos últimos anos.

A 3corações afirmou em nota à Reuters que monitora as "oscilações históricas nas cotações dos grãos, amplamente influenciadas pelas mudanças climáticas e pelas quebras de safra, fatores que pressionam fortemente os custos do café verde, nossa principal matéria-prima".

"Apesar de termos absorvido essas variações ao máximo, a persistência desse cenário tornou necessária uma revisão de nossos custos operacionais, resultando em um ajuste nos preços", disse a companhia, reiterando ter "compromisso em implementar esse ajuste de forma gradual e responsável, sempre com o objetivo de minimizar o impacto para o consumidor".

A Melitta afirmou que tem como política não comentar informações relacionadas à estratégia comercial ou política de preços.

Somente nas últimas cinco semanas, os preços do café verde subiram cerca de 30% nos mercados internacionais de commodities.

"Alguns grandes torrefadores na Europa já estavam planejando um aumento de 10% para o final de dezembro ou início de janeiro antes dessa recente mudança", disse um comerciante de café baseado na Europa. Ele acrescentou que os consumidores de supermercados poderão perceber os aumentos de preços até o final de março.

Embora o consumo de café seja, em geral, inelástico, os consumidores, especialmente os dos países em desenvolvimento, poderiam eventualmente reagir ao aumento dos preços bebendo menos, disse ele.

Os especialistas dizem que o crescimento da demanda das torrefadoras provavelmente sofrerá uma desaceleração mais significativa, pois, diferentemente dos compradores, as empresas de café podem reagir aos preços altos, por exemplo, reduzindo os estoques.

De qualquer forma, as empresas de café, especialmente as que vendem para supermercados, têm lutado este ano para repassar o aumento dos preços, já que os consumidores estão cada vez mais em busca de bebidas mais baratas em meio a uma crise de custo de vida.

O chefe da Nestlé, a maior empresa de café do mundo, foi demitido no início deste ano depois que a diretoria ficou insatisfeita com o fraco crescimento das vendas e a perda de participação no mercado devido aos aumentos de preços.

© Reuters. Café não torrado
4/12/2024
REUTERS/Maynor Valenzuela

A Nestlé não respondeu imediatamente às perguntas para comentar seus planos de preços.

As ações da Nestlé e da JDE Peet's caíram mais de 20% este ano, em meio a uma compressão das margens, já que os consumidores rejeitam seus aumentos de preços. Em contrapartida, os preços globais das ações subiram quase 20%.

(Reportagem de Maytaal Angel, com reportagem adicional de Marcelo Texeira e Richa Naidu)

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