Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - As exportações de café verde do Brasil somaram 3,146 milhões de sacas de 60 quilos em fevereiro, queda de 14,3% no comparativo anual, disse nesta sexta-feira o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), citando que está atento à guerra na Ucrânia e que se preocupa com o possível impacto a vendas para a Rússia.
Do total, os embarques do grão tipo arábica atingiram 3,016 milhões de sacas, recuo de 10,2% no comparativo ano a ano, enquanto as vendas externas da variedade robusta baixaram 58,6%, para 129,8 mil sacas, na mesma base.
O presidente da entidade, Nicolas Rueda, disse em nota que por se tratar de um período de entressafra de um ciclo menor na produção, o resultado é considerado positivo, "não ficando distante do desempenho de fevereiro de 2021, que foi bastante significativo".
O conselho identificou melhora no cenário logístico, o que contribuiu para a performance do mês passado, mas ainda há instabilidade para os embarques.
"A disponibilidade de contêineres e espaços nos navios continuam insuficientes para escoar o que estava represado no porto e embarcar as cargas que estão chegando para exportação, exigindo que os departamentos logísticos dos exportadores antecipem a confirmação de seus bookings para a consolidação de seus volumes", disse Rueda.
Ele afirmou também que a disparada nos preços do café, especialmente da variedade arábica, gerou um rearranjo nos blends da indústria nacional.
"Observa-se que o segmento industrial do país está com forte demanda pelos cafés conilons (robusta), o que, consequentemente, tem reduzido a participação dos canéforas nas exportações brasileiras."
Em receita cambial, os embarques de fevereiro renderam 782,6 milhões de dólares, alta de 50% ante igual período do ano anterior.
Segundo o Cecafé, o preço médio das exportações brasileiras da commodity chegou a 227,44 dólares por saca, um salto de 73,6% no comparativo anual.
GUERRA
Na avaliação do conselho, o desencadeamento da guerra entre Rússia e Ucrânia passa a gerar preocupações e acende uma luz de alerta ao setor exportador do Brasil.
"Além de todo o trágico fator humano que uma guerra implica, como lamentavelmente temos visto, a suspensão das atracações de navios nos dois países, por parte dos armadores, e a retirada de algumas instituições financeiras russas do sistema financeiro Swift criam dificuldades que podem refletir nos próximos embarques para a Rússia", analisa o presidente do Cecafé.
Ele disse que ainda é cedo para se fazer uma projeção sobre os reais impactos, uma vez que a base de informação é o certificado de origem da Organização Internacional do Café (OIC), requerido para amparar todas os embarques do país, e ainda não há números que permitam a realização de um diagnóstico preciso.
Em 2021, a Rússia importou 1,22 milhão de sacas de café do Brasil, gerando uma receita de 177,1 milhões de dólares, o que colocou o país na sexta posição do ranking dos principais destinos do produto nacional, conforme dados da entidade.
No primeiro bimestre deste ano, os russos seguem na sexta colocação da lista, respondendo pela compra de 233.642 sacas, montante 14,4% maior do que o importado no primeiro bimestre do ano passado.
O Cecafé mencionou ainda dados recentes disponibilizados pela OIC, os quais mostram que as importações conjuntas totais realizadas por Rússia e Ucrânia, de todas as origens, giram entre 7,5 milhões e 8 milhões de sacas.
(Por Nayara Figueiredo)