MP 1303 caiu: comemoração ou preocupação do mercado, eis a questão?
SÃO PAULO (Reuters) - As exportações de café verde do Brasil somaram 3,45 milhões de sacas de 60 kg em setembro, queda de 18,3% em relação ao mesmo período do ano passado, com as tarifas dos Estados Unidos ao produto brasileiro limitando os embarques, apontou nesta quinta-feira o Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé).
A comparação com forte base comparativa do ano passado, quando o Brasil exportou volumes recordes, também ajuda a explicar a queda nos embarques. O país exportou no mês passado, por exemplo, mais do que o visto no mesmo período de 2023, 2022 e 2021, conforme tabela divulgada pelo Cecafé.
Os embarques de café arábica recuaram 10,1% ante setembro de 2024, para 2,97 milhões de sacas, enquanto as exportações de grãos canéforas (robusta e conilon) somaram 489,7 mil sacas, redução de 47,4% na mesma comparação.
"O desempenho em setembro, na safra e no acumulado do ano, era esperado após termos exportado volume recorde de café em 2024 e vermos a disponibilidade do produto diminuir, com menores estoques nos armazéns e safra novamente afetada por adversidades climáticas", disse o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, em nota.
Mas ele ressaltou que "o declínio foi potencializado pelo tarifaço de 50% imposto pelo presidente americano, Donald Trump, sobre os cafés do Brasil, que impactou fortemente os embarques aos EUA, que são o maior consumidor mundial e (tradicionalmente) o principal importador do produto brasileiro".
No mês passado, o segundo com a vigência das taxas dos EUA, os norte-americanos reduziram em 52,8% as importações dos cafés do Brasil ante setembro de 2024, adquirindo 332.831 sacas.
Com isso, os EUA desceram ao terceiro posto no ranking mensal de importadores --em agosto já havia perdido a liderança. A líder foi a Alemanha (654.638 sacas) e a segunda colocada a Itália (334.654 sacas), mas ambos também registraram quedas nas compras, de 16,9% e 23%, respectivamente.
Ferreira reforçou que não é possível renunciar ao mercado dos EUA, que permanecem na liderança das exportações dos cafés do Brasil no acumulado do ano, e pediu negociação.
"O Poder Executivo precisa se mobilizar com urgência em prol do país. Não existe mais o receio de não haver abertura ao diálogo diplomático...", disse Ferreira, lembrando dos recentes contatos entre os presidentes Lula e Trump.
Considerando a exportação do produto industrializado, o Brasil exportou 3,750 milhões de sacas de 60kg, queda de 18,4% ante o mesmo mês de 2024.
Em receita cambial, o desempenho é inverso, com o país recebendo em setembro 11,1% a mais do que no mesmo intervalo comparativo, para US$1,369 bilhão, diante de preços médios 36,2% mais altos do produto.
(Por Roberto Samora)