Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - As receitas com exportações de minério de ferro do Brasil deverão crescer cerca de 60% em 2021 ante o ano passado, para 41,25 bilhões de dólares, com a commodity mineral desbancando a soja da liderança do ranking em geração de divisas do país após seis anos, avaliou nesta terça-feira Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Com a alta do minério, em ano em que a soja também pode fechar com volumes exportados recordes e preços em disparada, o Brasil deve encerrar 2021 com um superávit comercial em máxima histórica de todos os produtos, de quase 80 bilhões de dólares, superando uma marca de 2017 (67 bilhões de dólares), disse o presidente-executivo da AEB, José Augusto de Castro, à Reuters.
A análise foi feita após um salto nos preços do minério de ferro, na esteira de uma firme demanda da China, que tem pago prêmios pelo produto de melhor qualidade da Vale (SA:VALE3), responsável pela maior parte das exportações do país.
"Por enquanto, alterei só preço (do minério de ferro), pode ser que o volume mexa alguma coisa mais adiante", disse Castro, que realizou uma atualização preliminar nas estimativas.
Em previsão anterior para 2021, divulgada no final do ano passado, a AEB havia indicado que as exportações de minério de ferro atingiriam 35,7 bilhões de dólares, com impulso de um aumento preço de 42%, estimado até aquele momento. Em 2020, os embarques do mineral renderam cerca de 26 bilhões de dólares ao país.
Agora os valores estão ainda maiores. No primeiro quadrimestre, os preços do minério embarcado ao exterior pelo Brasil avançaram 77,6% --enquanto a soja subiu 18%--, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), refletindo baixos estoques na cadeia e menor oferta sazonal, além da demanda externa.
Um dos maiores exportadores globais de minério de ferro, o Brasil vendeu a commodity em abril por um valor médio de 129,8 dólares por tonelada, ante 67,6 dólares por tonelada no mesmo mês do ano passado, segundo a Secex.
Sozinhos, minério de ferro e a soja responderiam por mais de 30% das exportações totais do país, estimadas pela AEB em 253,6 bilhões de dólares, ainda abaixo do recorde registrado em 2011, segundo dados compilados associação.
O recorde de 2011, de 256 bilhões de dólares da exportação do Brasil, foi registrado em ano em que outras commodities exportadas pelo Brasil, como petróleo e celulose, estavam com valores mais altos, ainda que os volumes fossem menores.
FORÇA DA SOJA
Diferentemente do minério de ferro, com oferta da Vale ainda abaixo da capacidade, o Brasil produziu neste ano uma safra recorde de soja, estimada em 136,3 milhões de toneladas pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o que seria um crescimento de 6,5%.
Já o volume exportado pelo país, maior exportador e produtor global de soja, deverá somar um recorde de 84,5 milhões de toneladas, alta de 1,8%, em ano que os preços estão também crescentes, tendo atingido máximas de cerca de oito anos na bolsa de Chicago recentemente, refletindo um aperto na oferta e dados de plantio nos Estados Unidos.
A Abiove estima até o momento que as receitas geradas com a exportação de soja poderão atingir 37,2 bilhões de dólares, versus 28,56 bilhões de dólares em 2020, com os preços médios saltando anualmente cerca de 100 dólares, para 440 dólares por tonelada.
Somando os embarques de soja, farelo e óleo de soja, as exportações totais da indústria da oleaginosa atingiriam uma máxima histórica de 45,4 bilhões de dólares, mais de 10 bilhões de dólares acima de 2020, segundo a Abiove.
(Por Roberto Samora)