Por Roberto Samora e Ana Mano
SÃO PAULO (Reuters) - O Ministério da Agricultura anunciou nesta quarta-feira a destinação de 400 milhões de reais para estimular a comercialização de trigo da safra 2023/2024, uma vez que os preços de mercado estão abaixo do mínimo de garantia de custos estabelecido pelo governo federal.
O auxílio será concedido por meio de leilões de prêmios (Pepro e PEP) a serem realizados pela estatal Conab, que permitirão que produtores possam receber o preço mínimo estabelecido pelo governo para o trigo, potencialmente favorecendo vendas no mercado.
O preço mínimo para o trigo tipo 1 pão é de 1.462,83 reais/tonelada (87,77 reais por saca de 60 kg), enquanto o valor de mercado no Paraná, importante produtor, está mais baixo, em torno de 1.000 reais/tonelada, o que limita o interesse de venda no momento.
"É um bom recurso que esperamos que seja suficiente... O histórico mostra isso quando você lança o Prêmio, o mercado já se aquece", disse o ministro Carlos Fávaro, destacando a importância do apoio à comercialização do trigo.
Os preços estão em patamares baixos, entre outros fatores, porque o Brasil está colhendo uma nova grande safra em 2023, acima de 10 milhões de toneladas, bem perto do recorde de 2022 (de 10,5 milhões de toneladas), segundo dados da Conab.
Na última vez que tais programas foram realizados pelo governo brasileiro, em 2017, o mercado utilizou o subsídio para escoar o trigo para a exportação.
Contudo, para o gestor de risco de trigo da StoneX, Jonathan Pinheiro, viabilizar exportação de trigo com os portos já tomados de grande safras de soja e milho pode não ser tarefa simples.
"A logística portuária limitaria a exportação mesmo com o subsídio", disse ele.
O Brasil é importador relevante de trigo, mas também vem exportando o cereal em maiores volumes nos últimos anos, sem contar com tais programas. No ano passado, diante da disparada dos preços internacionais pela guerra na Ucrânia, as vendas externas foram robustas.
De acordo com Pinheiro, o volume de recursos disponibilizado pelo governo talvez possa apoiar a comercialização de algo próximo de 1 milhão de toneladas de trigo.
"Esperamos que dê liquidez para o mercado principalmente para o trigo de boa qualidade", disse um integrante do setor cooperativista do Sul do país, que considera que o programa possa estimular exportações, como ocorreu no passado.
Em uma mensagem por escrito, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, disse que o governo pretende apoiar o aumento da produção de trigo, garantindo preços mínimos para os produtores.
"Ainda será implementado. Não haverá impacto imediato no mercado", disse Barbosa.
Para Pinheiro, é difícil dizer se o programa vai ter efeito relevante nos preços do trigo.
Mas ele ponderou que problemas eventualmente maiores na safra gaúcha por conta das chuvas excessivas também podem ajudar na recuperação das cotações.
Os subsídios serão concedidos pelos programas de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural e/ou sua Cooperativa (Pepro) e do Prêmio para Escoamento de Produto (PEP), ofertados em leilões públicos que serão realizados pela Conab.
Poderão participar dos leilões do Pepro produtores rurais e cooperativas. No caso do PEP, participam indústrias moageiras de trigo e comerciantes de cereais.