Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Um aumento da mistura de etanol anidro na gasolina, conforme projeto de lei do Combustível do Futuro lançado nesta quinta-feira, daria um impulso de cerca de 5% para a produção do biocombustível, estimou o presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Evandro Gussi.
O texto encaminhado ao Congresso Nacional prevê que o teor máximo de etanol na gasolina possa subir de 27,5% para 30% --atualmente, o país mistura 27%.
Segundo Gussi, a indústria não teria problema em elevar a oferta de etanol anidro e já mostrou a sua capacidade de atender um eventual incremento da demanda no passado.
"Com o atual parque é possível, mas isso tende também a ativar a capacidades ociosas, e também com reflexos no campo", disse Gussi, em entrevista por telefone, após ter participado do lançamento do projeto de lei, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma maior produção de etanol poderia desviar parte da cana utilizada para a produção de açúcar, com eventuais impactos no mercado global, considerando que o Brasil atualmente é responsável por cerca de metade do comércio internacional do adoçante.
Mas Gussi destacou que o setor tem apostado em novas variedades de cana, mais produtivas. E citou que tem também havido um forte incremento da produção de etanol de milho, o que ajudaria a atender a uma mistura maior.
Gussi concordou que uma demanda firme de uma mistura maior de anidro na gasolina impulsionaria investimentos, mas disse que o setor ainda estima o volume de aportes que poderia ser gerado.
Ao todo, o projeto de lei "Combustível do Futuro" tem potencial de viabilizar investimentos de 250 bilhões de reais, disse o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
A iniciativa visa a descarbonização da matriz de transportes, com metas de redução das emissões de gases de efeito estufa do setor aéreo e estímulo ao uso e produção de biocombustíveis avançados.
Mas tem frente importante na elevação da mistura de anidro, condicionada à constatação de viabilidade técnica. O projeto também altera o percentual mínimo da adição do biocombustível, de 18% para 22%.
Segundo o representante da Unica, o projeto de lei também traz a ambição do governo de melhorar a qualidade da gasolina em termos de performance (pela maior octanagem do biocombustível) e sustentabilidade, já que o etanol é renovável.