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Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - As usinas do centro-sul do Brasil, maior região de cultivo de cana-de-açúcar no maior produtor global, foram capazes de manter "um ritmo de processamento inédito" para dezembro, ampliando os volumes recordes acumulados na safra 2023/24, afirmou nesta quinta-feira a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
A moagem somou no mês passado cerca de 24 milhões de toneladas, quase o triplo do volume processado em dezembro do ano passado, quando mais usinas já tinham encerrado a safra pela menor oferta de matéria-prima, em um período em que normalmente as chuvas são mais frequentes, dificultando os trabalhos.
Mas a Unica ressaltou em nota que dezembro de 2023 foi um mês "suficientemente seco para operacionalização da colheita", algo atípico.
"Desde 2015 o setor não ultrapassava a marca de 20 milhões de toneladas processadas no último mês do ano civil. Graças a essas condições, a moagem do centro-sul atingiu um patamar recorde", afirmou.
No acumulado da safra, o setor já havia registrado recordes de moagem e produção de açúcar na temporada 2023/24 considerando os volumes acumulados até a primeira quinzena de dezembro, tal a quantidade adicional de matéria-prima, por conta de um tempo favorável e investimentos nos canaviais.
No acumulado da safra 23/24 até o final de dezembro, a moagem atingiu 644,14 milhões de toneladas, avanço de 18,76% na comparação com o mesmo período do ciclo anterior.
A associação de produtores de açúcar e etanol indicou ainda, que, com a forte moagem registrada em dezembro, deve haver uma redução na oferta de cana "bisada" para a próxima temporada, em referência à matéria-prima que por vezes sobra nos campos de uma temporada para a outra.
"Se há alguns meses havia expectativa de cana bisada em quantidade nunca vista, esse cenário parece ter se exaurido com o desempenho excepcional da colheita no último terço da safra 2023/2024", acrescentou a Unica.
Nesta semana, a corretora e analista hEDGEpoint Global Markets sinalizou que a próxima safra do centro-sul será menor, entre outros fatores, pela menor oferta de cana bisada.
A safra de cana-de-açúcar do centro-sul na nova temporada 2024/25 (abril/março) foi estimada em 620 milhões de toneladas, abaixo da previsão anterior de 640 milhões de toneladas e versus 651,5 milhões de toneladas no ciclo 23/24, um número revisado para cima após a forte moagem de dezembro, segundo a hEDGEpoint.
Operaram na segunda quinzena de dezembro 100 unidades produtoras na região centro-sul, sendo 85 unidades com processamento de cana, oito empresas que fabricam etanol a partir do milho e sete usinas flex, versus 49 unidades no mesmo período da temporada 2022/23.
A produção de açúcar na segunda metade de dezembro já foi relativamente pequena, somando 235,76 mil toneladas. No acumulado desde 1º de abril, a fabricação do adoçante totalizou 42,05 milhões de toneladas (+25,43%), uma máxima histórica.
"Vale destacar que o recorde na produção de açúcar também se estende para as exportações do produto que, segundo dados da Secex, encerrou 2023 com um 31,38 milhões de toneladas embarcadas, o maior valor de toda a série histórica", lembrou a Unica, confirmando dados previamente reportados pela Reuters.
Na segunda quinzena de dezembro, o setor produziu 526,11 milhões de litros de etanol (+62,88%), enquanto no acumulado da safra até 31 de dezembro a fabricação do biocombustível totalizou 31,44 bilhões de litros (+14,39%).
VENDAS DE ETANOL
As vendas de etanol pelas unidades produtoras totalizaram 2,88 bilhões de litros em dezembro, um aumento de 11,25% em relação ao mesmo período da safra 22/23, segundo dados da Unica.
O volume comercializado de etanol anidro no período foi de 941,95 milhões de litros, queda de 18,61% na mesma comparação, uma vez que o produto é utilizado na mistura com a gasolina, cujas vendas perderam força após a maior competitividade do etanol hidratado.
Já as vendas de etanol hidratado aumentaram mais de 35% em dezembro, para 1,93 bilhão de litros, com os preços mais competitivos que os da gasolina em boa parte do país, após a safra recorde.
No mercado doméstico, as vendas de etanol hidratado em dezembro totalizaram 1,81 bilhão de litros, alta de 39,22% em relação ao ano passado.
"O volume robusto comercializado reflete a competitividade do biocombustível nas bombas...", disse a Unica, ponderando que se aguarda informação da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) sobre as vendas pelas distribuidoras, para se ter ideia da intensidade do aumento nos postos.
No acumulado da safra 23/24, a comercialização de etanol somou 23,95 bilhões de litros, avanço de 6,59%. O hidratado respondeu por volume de 14,37 bilhões de litros (+10,71%), enquanto o anidro, de 9,58 bilhões (+0,95%).
(Por Roberto Samora, com reportagem adicional de Gabriel Araujo)