Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O plantio de soja em Mato Grosso em 2019/20, atrasado na comparação com a temporada passada, gera preocupações sobre a posterior safra de milho, mas isso não tira o ânimo de produtores diante da possibilidade de um mercado favorável à frente, em meio a possíveis problemas adicionais na safra dos Estados Unidos.
"Tem bastante risco para a safra (de milho), vai atrasar bem o plantio de milho (após o atraso na soja). A safra vai depender do período chuvoso... Mas se tiver umidade boa até o final de abril, com certeza teremos uma boa safra de milho", afirmou o presidente da Aprosoja-MT, Antonio Galvan, por telefone.
Ele lembrou que o Mato Grosso colheu uma safra recorde de 32,3 milhões de toneladas de milho na temporada passada, após um plantio antecipado, quando o maior produtor de grãos do Brasil também contou com boas chuvas.
"A tendência de ter uma safra menor (de milho) é muito grande, mas isso tudo vai depender do período chuvoso, o produtor vai plantar, o preço deu uma melhorada...", disse ele, lembrando que a expectativa de mercado é favorável com mais perdas esperadas na safra dos EUA, maior produtor global.
O preço do milho no mercado brasileiro aumentou 8,45% no mês passado, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Chuvas excessivas e uma tempestade de neve em outubro pararam a colheita no norte da faixa de grãos dos EUA, mais um golpe para os agricultores que já lutam com os efeitos de atrasos no plantio e uma guerra comercial que pressionou os preços das commodities, segundo relatos de especialistas norte-americanos.
Galvan ressaltou que esteve recentemente em viagem para verificar a safra norte-americana em Estados como Nebraska, Iowa, Wisconsin e Illinois, e que também viu tais problemas.
"Com esse frio intenso (nos EUA), a geada matou o milho que precisava de mais um período... foi fatal, onde não deu neve, deu geada, acredito que a perda vai ser grande", afirmou Galvan.
A produção de soja dos Estados Unidos 2019/20 está estimada em 350 milhões de toneladas, segundo a previsão de outubro do governo, ante 366,3 milhões de toneladas na temporada anterior.
Mas o presidente da Aprosoja-MT acredita que as perdas poderão ser acentuadas, à medida que a colheita caminhe para o final.
"E agora está uma nevasca em todo o Meio-Oeste. Com certeza vai atrasar a colheita-- solo úmido, o solo é excelente, mas a dificuldade de trabalhar é muito grande."
A produção de soja dos EUA, segundo números do mês passado do Departamento Agricultura dos EUA (USDA), havia sido mais afetada pelo clima, com a safra estimada em 96,6 milhões de toneladas, versus 120,5 milhões na temporada anterior.
De acordo com Galvan, produtores dos EUA com quem ele teve contato estão enviando informações sobre os problemas na safra, que indiretamente podem beneficiar a comercialização da safra de milho do Brasil ao sustentar os preços.
"É o velho ditado, desgraça de um, felicidade do outro. Eles têm passado por muitos problemas..."
O mercado favorável desde que os problemas na safra de milho dos EUA surgiram colaborou para a comercialização mais antecipada da safra do cereal de Mato Grosso, que atingiu 41,89% da produção projetada, segundo relatório do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), divulgado no início do mês passado.
PLANTIO LENTO
Enquanto isso, produtores de Mato Grosso têm tido um plantio de soja mais lento na safra 2019/20.
Segundo o dirigente da Aprosoja, as chuvas escassas têm dificultado os trabalhos, mas perdas ainda não são registradas.
"O produtor tem arriscado bastante, o produtor não precisa mais ir ao psicólogo, ele tem que ir ao psiquiatra direto", brincou Galvan, lembrando que a tecnologia tem ajudado a evitar perdas, apesar da baixa umidade.
"A semente de soja, quando é boa, qualquer umidade ela germina."
O plantio de soja no Brasil na temporada 2019/20 avançou para 46,9% da área estimada até esta sexta-feira, o que mostra um atraso na comparação com os 61,6% no mesmo período da safra passada e os 49,2% na média histórica para a época, informou a Arc Mercosul.
Segundo o diretor da Arc Mercosul, Matheus Pereira, o Mato Grosso segue liderando os trabalhos, mas o ritmo também está mais lento: até o momento o plantio atingiu 80,6% da área projetada, contra 88,9% em 2018 e 70,5% na média.
(Por Roberto Samora)