Por Roberto Samora e Gabriel Araujo
SÃO PAULO (Reuters) - A Petrobras (SA:PETR4) anunciou nesta quinta-feira que elevará os preços do diesel em cerca de 25% em suas refinarias, enquanto os valores da gasolina deverão subir quase 19%, na esteira dos ganhos nas cotações do petróleo no mercado internacional em função da guerra na Ucrânia.
A Petrobras afirmou que aumentará o preço médio do diesel para 4,51 reais o litro, ante 3,61 reais o litro (alta de 24,93%). No caso da gasolina, o valor passará a 3,86 reais o litro, ante 3,25 reais (+18,77%), ambos vigorando a partir de sexta-feira.
O reajuste reafirma a política de preços da estatal, de buscar manter a paridade em relação às cotações internacionais e ao mesmo tempo não repassar imediatamente as volatilidades do mercado de petróleo. As ações da estatal subiam mais de 2,5% por volta das 11h (horário de Brasília).
A alta no preço acontece apesar de pressões políticas como a do próprio presidente Jair Bolsonaro, que sugeriu na semana passada que a petroleira diminua sua margem de lucro de forma a evitar uma disparada dos valores nos postos de combustíveis.
Em paralelo, o Congresso Nacional trabalha em dois projetos que miram a alta nos combustíveis, enquanto integrantes do governo discutem a adoção de um programa bilionário de subsídios aos preços para aliviar o impacto para os consumidores.
A empresa informou ainda que o preço médio de venda do GLP (gás de cozinha) para as distribuidoras subirá 16%, passando de 3,86 reais para 4,48 reais por kg.
A Petrobras disse em nota que, apesar da disparada dos preços do petróleo e seus derivados em todo o mundo, nas últimas semanas, a empresa decidiu não repassar a volatilidade do mercado de imediato, porém o reajuste foi necessário para garantir o abastecimento do mercado, uma vez que a empresa não garante todo o suprimento, que depende de importações.
"Após serem observados preços em patamares consistentemente elevados, tornou-se necessário que a Petrobras promova ajustes nos seus preços de venda às distribuidoras para que o mercado brasileiro continue sendo suprido, sem riscos de desabastecimento, pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras", afirmou.
A empresa disse ainda que esse movimento da Petrobras "vai no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda".
Segundo a companhia, os preços de gasolina e diesel serão reajustado após 57 dias sem mudanças. E no caso do GLP, após 152 dias.
Dessa forma, "a Petrobras reitera seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, acompanhando as variações para cima e para baixo".
A forte alta anunciada nos preços dos combustíveis diminui, mas não acaba com a defasagem ante os valores externos, disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Pedro Rodrigues.
Ele estimou a defasagem do diesel em torno de 19%, enquanto na gasolina está agora, já considerando o preço do petróleo e os novos reajustes da Petrobras, em 20%.
"Ainda há uma defasagem e acho complicado a Petrobras acompanhar e alinhar por questões políticas. A Petrobras é o bem e o mal ao mesmo tempo. Sempre que ajusta preços, aumenta a inflação e tem impacto na economia, ela é vista como o mal", afirmou.
Ele acrescentou que há muitas incertezas, o "cenário ainda é bem nebuloso, e não houve acordo entre Rússia e Ucrânia e nem mesmo se tem a certeza que a Opep vai ampliar a oferta".
"Ou seja, se tem um viés para o petróleo, segue sendo de alta...", disse.
Nesta quinta-feira, o petróleo Brent subia cerca de 6%, a 117,80 dólares o barril, após despencar mais de 10% na véspera.
(Com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier)