Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Representantes do setor de biodiesel no Brasil fizeram um acordo com o governo após uma disputa judicial para retomar a realização de um leilão do público do biocombustível nesta quinta-feira, ao mesmo tempo em que já iniciaram discussões para os próximos certames.
Após uma reunião mais cedo com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, integrantes do setor aceitaram participar de um leilão para mistura provisoriamente menor no diesel --de 10%, ante os 12% da obrigação em vigor.
Mas associações das empresas disseram ter conseguido compromisso no governo da formação de um grupo de trabalho com o setor privado, para debater impasses, incluindo uma alegada menor oferta de matéria-prima.
O leilão foi retomado nesta quinta-feira após a reguladora ANP cassar liminares que impediam a realização do mesmo, após um certame anterior, para uma mistura de 12% no bimestre setembro/outubro, ter sido cancelado em meio a reclamações de distribuidoras de elevados preços do biocombustível.
O setor de biodiesel, por outro lado, argumentou que, apesar dos alertas feitos, a ANP estabeleceu um Preço Máximo de Referência (PMR) abaixo do custo de produção, não considerando adequadamente variações de câmbio e preços de matérias-primas, o que teria resultado em margens negativas aos produtores e menores ofertas no leilão L75 original.
Com um PMR abaixo dos custos de produção, as empresas ofertaram menos produto no leilão, elevando as cotações do biodiesel no certame L75 anterior, que foi cancelado.
No leilão desta quinta-feira, o preço de referência foi mantido, mas a operação atendeu a uma mistura menor (10%) --os resultados ainda não foram divulgados.
Para o próximo leilão, o L76, que será realizado para atender a mistura obrigatória de novembro e dezembro, as associações integrantes querem uma mistura maior.
"Nosso objetivo é defender a mistura mínima de 12% de biodiesel (B12) para os meses de novembro e dezembro e manter o plano de crescimento para B13 previsto no cronograma da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio)", disse em nota o presidente da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), Erasmo Carlos Battistella (SA:BTTL4).
Já o presidente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Juan Diego Ferrés, afirmou que a entidade concorda em flexibilizar a mistura para o próximo leilão (L76), no limite de B11, "mas com previsibilidade para que os produtores planejem a aquisição de matéria-prima".
No Brasil, mais de 70% do biodiesel é produzido a partir de óleo de soja, oleaginosa que vem sendo muito demanda para a exportação neste ano, principalmente pela China. Juntamente, com o câmbio, isso tem elevado os custos do setor de biodiesel.
COMITÊ
Os presidentes das duas associações concordaram com uma alguns aperfeiçoamentos no programa, mas descartaram liberar importações de biodiesel, como sugeriram integrantes do setor de distribuição e de importadores de combustíveis.[nL1N2FK2BD]
"Vamos redesenhar o programa, construir algo de positivo para o processo de comercialização do setor, uma evolução do que temos hoje", completou Battistella, da Aprobio.
Após participar de uma reunião o ministro, o presidente da Ubrabio disse que o sistema do leilão Petronet "serviu muito bem durante oito anos, mas pode ser objeto de aperfeiçoamento, sem prejuízo da continuidade dos leilões".
Porém ele reconheceu que o Selo Combustível Social merece análise e revisão, mas com participação também da ministra Tereza Cristina (Agricultura) e do ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).
"Não é possível rasgar 15 anos de história de um programa bem-sucedido. Essa mesa de negociações será fundamental para fortalecer o RenovaBio. Não é possível pensar num cenário de importação de biodiesel ou na exportação de soja para gerar emprego lá fora", destacou Battistella, ponderando que o Brasil tem insumos e expertise no segmento.
Os temas propostos serão apresentados pelo setor a um comitê proposto pelo Ministério de Minas e Energia, que irá fazer um acompanhamento das prioridades da indústria.
O comitê, segundo a Ubrabio, deverá contar com a participação dos produtores, distribuidores, Ministério da Agricultura e ANP, além da pasta de Minas e Energia, que disse à Reuters que não comentaria o que foi discutido na reunião com os produtores.
(Por Roberto Samora; edição de Nayara Figueiredo)