Por Fabian Werner e Agustin Geist e Daniela Desantis
MONTEVIDÉU/BUENOS AIRES/ASSUNÇÃO (Reuters) - Quando a Copa América de basquete começou no mês passado no meio de uma pandemia, os anfitriões de Cali, na Colômbia, não deram chance ao azar: jogadores e integrantes das seleções masculinas participantes de toda a América Latina se instalaram em uma "bolha" local sem contato com pessoas de fora e todos fizeram testes de Covid-19 constantes.
O Brasil se ausentou. O país está tão assolado pelo coronavírus, o que inclui uma variante local nova e altamente contagiosa conhecida como P1, que a Colômbia não permitiria que brasileiros pousassem em seu solo.
Uma rodada dupla de eliminatórias da Copa do Mundo de futebol também foi cancelada neste mês depois que o ministro da Saúde colombiano disse que não daria entrada a um voo fretado com jogadores brasileiros.
Os esportes são só o começo. Os vizinhos e parceiros comerciais do Brasil estão adotando medidas para limitar os contatos com o maior país da América do Sul --e cogitam outras mais draconianas. O medo é que o progresso que muitas nações da região fazem contra a Covid-19 seja revertido por novas ondas de infecções do Brasil, cuja pandemia fora de controle está incubando novas linhagens virulentas que preocupam especialistas médicos de todo o mundo.
"É uma situação muito alarmante e uma ameaça regional", disse Leda Guzzi, especialista em doenças infecciosas e membro da Sociedade Argentina de Doenças Infecciosas.
Até a Venezuela em crise tem muito a dizer. No domingo, seu presidente, Nicolás Maduro, classificou o Brasil como "a pior ameaça mundial em termos de coronavírus" e repreendeu o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, por sua "atitude irresponsável".
Bolsonaro, que contraiu Covid-19 no ano passado e só usa máscara esporadicamente, minimiza a crise com frequência, apesar de seu país somar mais de 12 milhões de infecções confirmadas de Covid-19 e mais de 300 mil mortes, só ficando atrás dos Estados Unidos. A Presidência da República do Brasil não respondeu a um pedido de comentário.
No Paraguai, onde os casos de Covid-19 estão atingindo altas recordes, o governo desaconselhou viagens não-essenciais no dia 16 de março, citando o "número alto de infecções e mortes recordes de Covid-19" no Brasil.
No início do mês, o governo do Chile ordenou que todos os visitantes do Brasil sejam levados a hotéis de quarentena a cargo do Estado para fazerem exames de PCR e mantidos ali se tiverem resultados positivos. Estas regras foram endurecidas na semana passada para se impor uma permanência obrigatória de 72 horas em um hotel de trânsito mesmo com exames negativos.
Na terça-feira, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) disse que a P1 foi detectada em 15 países das Américas e é causa de grande preocupação.
(Por Fabian Werner em Montevidéu, Agustin Geist em Buenos Aires, Daniela Desantis em Assunção, Daniel Ramos em La Paz; reportagem adicional de Julia Symmes Cobb em Bogotá, Marco Aquino em Lima, Pedro Fonseca no Rio de Janeiro, Anthony Boadle em Brasília, Marta Lopez em Buenos Aires, Aislinn Laing em Santiago e Luc Cohen em Caracas)