Investing.com – Os riscos para a inflação americana seguem e o Federal Reserve vai proceder com cautela, orientado por novos dados. Dados recentes indicam desaceleração do crescimento da economia, mas a demanda segue forte. Um mercado de trabalho resiliente ainda coloca pressão na inflação. Estes foram alguns dos apontamentos do presidente do Fed, Jerome Powell, em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 13, após o anúncio de que as fed funds serão mantidas no patamar atual, na faixa entre 5,25% e 5,50%. Assim como nos termos no comunicado, Powell preferiu ser cuidadoso com as palavras e deixar a porta aberta até para eventuais altas, se for necessário. No entanto, na visão de analistas, as elevações teriam chegado ao fim e o destaque da decisão foi a mudança nas projeções econômicas para os juros, indicando uma queda no ano que vem. A interpretação do mercado na sequência levou novamente a uma precificação de cortes em março de 2024.
As projeções econômicas do Fed apontam para uma redução de juros no próximo ano, com a mediana das estimativas saindo de uma taxa de juros de 5,1% em setembro para 4,6% nesta divulgação. Thomas Monteiro, analista do Investing.com, acredita que "apesar da sinalização de uma postura mais agressiva para combater a inflação ainda persistente, Powell e os seus pares mostraram claramente que o ciclo de subida das taxas terminou e que dois ou mais cortes nas taxas estão provavelmente a caminho em 2024”.
“Isso ficou claro tanto no dot-plot (no qual os membros do Fed estabelecem as suas projeções de taxas de juro para o próximo ano) como nas palavras de Powell, ao apontar a ampla desaceleração econômica causada pelo ciclo de alta das taxas de juro, ao mesmo tempo que prolongava a meta de inflação de 2% até 2026”.
Na opinião de Monteiro, embora dois cortes nas taxas continuem a ser um pivô bastante cauteloso em comparação com as expectativas do mercado de cortes mais profundos, os investidores compreendem que os sinais apresentados hoje, por si só, significam mais reajustes da condução da política monetária no futuro.
“Em termos gerais, o Fed envia uma mensagem ampla de risco para o futuro próximo, afetando todas as classes de ativos e, em um sentido mais profundo, alterando as perspectivas econômicas globais para o próximo ano”.
Monteiro destaca ainda que com a expectativa de uma queda menor na rentabilidade das empresas no curto prazo, as casas de análises provavelmente começarão a rever as suas previsões do S&P 500 para o próximo ano.
“Os riscos permanecem, no entanto. Por mais que esta seja uma mensagem de risco para o mercado, é também uma mensagem de risco para o próprio Fed, à medida que Powell se debate com a ideia de que a inflação não regressará em uma temida segunda onda”, conclui.
A Avenue enxergou com surpresa a revisão das projeções de juros para o final de 2024, apontando para queda na taxa para o fim de 2024.
“A queda é coerente com um cenário de menor crescimento e uma inflação que cede – a qual pode encerrar o ano de 2024 em 2,5% de acordo com a previsão do Fed. Mais e mais vemos o cenário de redução de juros se materializar e a grande questão agora reside mais em quando e quanto serão esses possíveis cortes de juros”, aponta William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities.
As novas projeções para as taxas básicas de juros para o ano que vem “contribuem para uma perspectiva mais positiva do que tínhamos com base nos indicadores de mercado de trabalho divulgados na semana passada. Na prática, estão sendo previstos três cortes de 0,25 ponto porcentual na taxa de juros no ano que vem caso o balanço de riscos não se altere muito”, conclui Danilo Igliori economista-chefe da Nomad.
Apesar da precificação do mercado para cortes em março, a Órama avalia diferente. “Nosso cenário é que o Comitê mantenha os juros nesse patamar até, pelo menos, o fim do segundo trimestre de 2024 caso a trajetória econômica prevista se consolide”, pondera a economista Eduarda Schmidt. Para a Órama, fatores mencionados por Powell, como a resiliência mercado de trabalho e a persistência da inflação não permitiriam o corte no curto prazo.