FRANKFURT (Reuters) - A inflação da zona do euro está teimosamente alta, com riscos de elevação, de modo que o próximo passo do Banco Central Europeu ainda pode ser um aumento da taxa antes que os cortes entrem na agenda, alertaram autoridades de política monetária nesta quinta-feira.
O BCE aumentou sua taxa de depósito em cada uma de suas últimas 10 reuniões, atingindo o patamar recorde de 4% na semana passada. Mas sinalizou que fará uma pausa em outubro, o que levou os mercados a descartar a possibilidade de novos aumentos, com base na premissa de que o crescimento fraco dissuadiria as autoridades de apertarem ainda mais a política monetária.
"Será que atingimos o platô (nas taxas de juros)? Isso ainda não está claro", disse o presidente do Bundesbank alemão, Joachim Nagel, em uma conferência bancária nesta quinta-feira.
"A taxa de inflação na zona do euro também não está se movendo em direção a 2% no ritmo desejado... (e) o núcleo da inflação continua teimosamente alto e a expectativa é que caia apenas gradualmente."
O formulador de política belga Pierre Wunsch argumentou que o risco de uma alta ainda é significativo, mesmo que esteja se sentindo mais confortável com as próprias projeções do Banco Central Europeu, que mostram o crescimento dos preços de volta à meta até o final de 2025.
"O risco de termos que fazer mais é significativo", disse Wunsch no Reuters Global Markets Forum. "Não tenho certeza se devemos colocar um número nele, mas certamente é mais de 10% e acho que não está muito longe de 50%."
Martins Kazaks, chefe do banco central da Letônia, argumentou, ao mesmo tempo, que o recente aumento nos preços da energia cria um risco de alta para a inflação.
"Na minha opinião, o recente aumento do preço do petróleo não é temporário ou transitório, mas sim uma questão estrutural", disse Kazaks. "Em minha opinião, isso cria riscos de alta para a inflação."
Reprimindo os comentários "hawkish" (agressivo contra a inflação), o chefe do banco central grego, Yannis Stournaras, teve uma visão diferente, argumentando que mesmo o último aumento da taxa pode não ter sido justificado.
"Acho que atingimos o pico da taxa de juros", disse Stournaras, segundo o Boersen-Zeitung, nesta quinta-feira. "Da forma como as coisas estão, presumo que nosso próximo passo será um corte na taxa de juros."
Todas as autoridades de política monetária disseram que esperam que as taxas permanecessem altas por algum tempo, mas divergiram quanto ao momento do primeiro corte, com Stournaras pedindo taxas estáveis por "alguns meses", enquanto Kazaks disse que não esperava nenhum corte no primeiro semestre de 2024.
As taxas devem ser cortadas somente quando as projeções de inflação começarem a ficar consistentemente abaixo da meta de 2% do BCE, argumentou Kazaks.
A expectativa é que a inflação, ainda acima de 5%, permaneça acima de 3% no próximo ano e desacelere para 2,1% em 2025, ficando abaixo da meta apenas no último trimestre desse ano.
Antes de qualquer corte, disse Kazaks, o BCE precisa discutir o futuro de seus esquemas de compra de títulos, incluindo um possível fim antecipado dos reinvestimentos no Programa de Compra de Emergência Pandêmica e o início das vendas definitivas de títulos do Programa de Compra de Ativos.
Wunsch e Kazaks disseram que seu cenário básico para a economia da zona do euro era de um crescimento fraco, e não de uma recessão, como temido por alguns.
(Reportagem de Divya Chowdhury, Francesco Canepa e Balazs Koranyi)