Por Mark John
(Reuters) - Os bancos centrais das maiores economias do mundo avisaram que manterão as taxas de juros tão altas quanto necessário para controlar a inflação, mesmo com dois anos de aperto sem precedentes nas políticas globais atingindo o pico.
O discurso "mais alto por mais tempo" é agora a postura oficial do Federal Reserve, do Banco Central Europeu e do Banco da Inglaterra, além de ser repetido pelos autoridades de política monetária de Oslo a Taipé.
Para os banqueiros centrais, primeiramente castigados por terem chegado tarde para detectar o aumento da inflação pós-pandemia e, em seguida, advertidos por terem exagerado em sua resposta, o prêmio de devolver a economia global a preços estáveis sem recessão está agora à vista.
A tarefa é convencer os mercados financeiros a não desfazerem seu trabalho com apostas em cortes precoces nas taxas de juros e ficarem atentos a novos riscos, como o aumento dos preços do petróleo, enquanto esperam que os governos ajudem com orçamentos que não alimentem ainda mais a inflação.
"Precisaremos manter as taxas de juros altas por tempo suficiente para garantir que o trabalho seja feito", disse o presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, nesta quinta-feira, depois que os autoridades de política monetária decidiram manter a principal taxa de juros do país em 5,25%.
As autoridades de política monetária do Federal Reserve tiveram uma mensagem semelhante na quarta-feira. Eles mantiveram a taxa de referência do Fed entre 5,25% e 5,50%, mas enfatizaram que permanecerão firmes em uma luta contra a inflação que, segundo eles, durará até 2026.
Na Europa, a presidente do BCE, Christine Lagarde, foi inflexível na semana passada ao afirmar que não poderão ser descartados novos aumentos para os 20 países da zona do euro. Os bancos centrais da Noruega e da Suécia sinalizaram que poderão aumentar novamente, e até mesmo o Banco Nacional da Suíça manteve a perspectiva de novos aumentos nas taxas de juros, apesar de a inflação estar em um confortável 1,6%.
O banco central da Turquia confirmou sua tendência "hawkish" (agressivo contra a inflação), enquanto na Ásia o banco central de Taiwan sinalizou a continuidade da política restritiva. O banco central da África do Sul manteve sua taxa básica estável, mas os autoridades de política monetária citaram riscos contínuos para as perspectivas de inflação.
Entre as exceções significativas estão o Banco do Japão, que deve manter as taxas negativas em uma reunião que termina na sexta-feira, e o Banco Popular da China, onde as recentes perspectivas econômicas melhores permitiram que ele mantivesse as taxas em espera na quinta-feira.
Na América Latina, Chile e Brasil foram os primeiros países ao iniciarem o processo de corte de juros. O Chile deu a largada no fim de julho, com corte de 1 ponto percentual da taxa de referência, e o Brasil reduziu sua taxa básica em 0,50 ponto percentual em agosto. Nos dois casos, o corte foi superior ao previsto pelo mercado, ainda que a inflação não seja um problema superado.
O discurso do BC brasileiro é de que, assim como a instituição saiu na frente das economias centrais ao iniciar o movimento de alta de juros para segurar a inflação, em março de 2021, agora também é possível liderar o processo de flexibilização. Após o pico de 13,75% ao ano, mantido entre agosto do ano passado e agosto de 2023, a taxa básica brasileira está em 12,75% ao ano.
"PONTO DE INFLEXÃO"
Apesar do arrefecimento gradual, a inflação na maioria das grandes economias continua bem acima da meta de 2% que os bancos centrais consideram saudável. Em agosto, a taxa ficou em 3,7% nos Estados Unidos e em 5,2% na zona do euro.
"Até o ano que vem, prevemos que 21 dos 30 principais bancos centrais do mundo estarão cortando as taxas de juros", escreveu a Capital Economics em um comentário intitulado "Um ponto de inflexão para a política monetária global".
As autoridades de política monetária admitem que ainda não chegaram a um consenso sobre uma explicação para esse fato. Alguns sugerem que as empresas estão ansiosas para evitar uma repetição da escassez que sofreram quando a economia global decolou em 2021 após a pandemia e, portanto, estão "acumulando mão de obra".
Esse quebra-cabeça não resolvido significa que as opiniões estão divididas quanto à força real subjacente da economia global e se ela pode suportar um período sustentado de altas taxas de juros sem que a demanda geral seja gravemente prejudicada.
Alguns argumentam que foi por isso que detectaram, em meio a toda a conversa dura, um tom descompromissado na linguagem do Federal Reserve sobre a probabilidade de um novo aumento da taxa de juros este ano.
"Powell (chair do Fed) não se mostrou comprometido e foi até levemente dovish em relação a outro aumento em 2023, que é a decisão real aqui e agora", disse Krishna Guha, vice-presidente da Evercore ISI. "Esse é um Fed que vê uma oportunidade para uma aterrissagem suave e tentará não desperdiçá-la."
(Reportagem adicional de Howard Schneider e Redações de Londres, Estocolmo, Oslo, Zurique, Taipé, Ancara e São Paulo)