Em sua última reunião de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central apertou o passo e anunciou alta de 1 ponto porcentual para a Selic, que pulou de 11,25% para 12,25% ao ano. A decisão foi unânime. Em comunicado, o colegiado já antecipou a previsão de mais dois aumentos "de mesma magnitude" nas reuniões de janeiro e de março de 2025 - o que levaria a taxa básica de juros para 14,25%, superando a máxima observada no governo Jair Bolsonaro (13,75%).
"Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas reuniões", diz o texto.
O comunicado voltou a citar a existência de um ambiente externo "desafiador" - principalmente por conta da incerteza sobre o rumo dos juros nos EUA. Em relação ao cenário doméstico, repetiu que existe "uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação" (ou seja, os riscos de elevação de preços são maiores). O tom mais crítico foi reservado para avaliar o pacote fiscal apresentado pelo governo - considerado aquém do necessário no mercado e que tem enfrentado dificuldades para avançar no Congresso.
"A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa."
Desde a reunião de novembro, todas as variáveis usadas pelo BC para conduzir os juros pioraram. A disparada do dólar para o patamar de R$ 6 é vista como o principal retrato dessa deterioração de cenário. Já as previsões para a inflação neste ano e em 2025 ficaram ainda mais distantes das metas oficiais.
A reação inicial dos analistas foi positiva. Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, por exemplo, foi a confirmação do compromisso do BC com a meta de inflação. Questionado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que "foi (surpresa) por um lado, mas por outro tinha uma precificação nesse sentido".
Foi a última reunião presidida por Roberto Campos Neto. A partir de janeiro, o BC será comandado pelo atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo. Indicado por Bolsonaro, Campos Neto foi alvo constante de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por conta da Selic em patamares elevados.
Com a entrada de três novos diretores - Nilton David (Política Monetária, no lugar de Galípolo), Gilneu Vivan (Regulação) e Izabela Correa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) -, o Copom passará a ter maioria de indicados por Lula: sete dos nove integrantes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.