Investing.com – “Estamos mais próximos do que pensamos do patamar aonde precisamos chegar”. Em coletiva de imprensa após a decisão de manter a taxa de juros, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que o pouso suave é um objetivo primário e apontou que as taxas de juros devem subir mais, se for necessário. “Estamos em uma posição de proceder cautelosamente”, ponderou, ao responder questionamentos da imprensa.
Nesta quarta, 20, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed) decidiu pela manutenção das fed funds na faixa de 5,25% a 5,50%, após reunião de dois dias de política monetária.
Com juros acima do nível neutro, Powell disse que o Fomc estaria preparado para subir as taxas de juros mais adiante, se apropriado. “Pretendemos deixar a taxa de juros em território contracionista até que estivermos confiantes de que a inflação está caindo sustentavelmente”.
Powell buscou demonstrar comprometimento em fazer com que a inflação retorne à meta de 2% e em manter as expectativas de longo prazo ancoradas. Ainda, destacou que a autoridade monetária deve proceder com cautela, com base nas próximas informações disponíveis. “Continuaremos a tomar decisões encontro a encontro, com base nos próximos dados e implicações para atividade econômica e inflação, assim como balanço de riscos".
Ao responder sobre a alta nas projeções de juros no ano que vem, Powell alegou que, se os rumos dos dados forem alterados, as decisões do Comitê devem ser ajustadas para atingir otimização de emprego e de estabilidade de preços.
Mais altas nos juros?
Projeções são incertas e difíceis, lembrou Powell durante a coletiva. O grande salto das projeções dos chamados “dot-plots” foi em relação à taxa de juros para o final do ano que vem, afirma a Ativa Investimentos. “Houve forte elevação da mediana da perspectiva para o juro de 4,6% para 5,1%. Vale ressaltar que apesar de a mediana de longo prazo do juro ter ficado em 2,5%, houve uma elevação grande da tendência central, de 2,5%-2,8% para 2,5%-3,3%”, detalha a Ativa, que demonstra ceticismo frente a novas elevações, considerando que a alta dos dots plots “ocorreu na esteira de afastar cenários com cortes precoces da Fed Funds Rate”.
O Fed precisa manter os mercados em situação de incerteza para alcançar o que deseja, que é controlar a inflação ao mesmo tempo em que evita uma recessão, aponta Thomas Monteiro, analista do Investing.com. “Isso significa que Powell soa mais favorável a medidas restritivas do que suas ações de fato indicam para a economia. Isso é exatamente o que está acontecendo agora, com ele mantendo as taxas inalteradas, mas tentando adotar um tom ainda incerto sobre o futuro em seu discurso”.
Por um lado, o Fed compreende que as expectativas do mercado, por si só, são inflacionárias devido ao efeito persistente de um mercado de trabalho apertado na economia atual, afirma o analista. “Nesse sentido, Jerome Powell está lutando para manter o mercado incerto, para que as empresas não cresçam e contratem novas pessoas muito rapidamente, mantendo assim uma forte pressão sobre o crescimento dos salários”.
No entanto, Monteiro pondera que o Fed compreendeu que precisa evitar que o mercado de títulos dos EUA apresente vendas muito fortes - o que faria com que as taxas de curto prazo ficassem altas demais, levando assim a economia em direção a uma recessão devido ao aumento dos spreads entre títulos de curto e longo prazo, que implicam riscos. “Com todos os problemas macroeconômicos que ocorreram nos últimos meses - como a mudança na política de curva de rendimento do Japão e o rebaixamento da dívida dos EUA - garantir que o mercado de títulos não venda se tornou mais importante do que nunca”, completa.
Assim, o analista do Investing.com não acredita que o Fed irá de fato subir muito mais os juros americanos. “O mais provável é que o panorama se mantenha estável e que tenhamos uma baixa de juros antes do que se espera”, avalia.
Na opinião de Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, a manutenção do patamar dos juros americanos deve favorecer o mercado brasileiro. “Deve estancar um pouco essa saída de capital de investidores estrangeiros da bolsa e também a nossa taxa de câmbio, uma vez que isso tem uma alta influência, já que quanto mais capital estrangeiro sai do país, a tendência é de que esse dólar dê uma valorizada perante o real”. Com a pausa, a expectativa é de que mais capital estrangeiro continue a entrar bolsa de valores brasileira, e consequentemente, o real tende a ter um melhor desempenho, em sua visão.