Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A produção industrial brasileira registrou em 2015 o seu pior desempenho histórico com recuo de 8,3 por cento, abalada por fortes perdas de investimentos, e continuará a enfrentar dificuldades para se recuperar em 2016 diante da confiança estremecida.
Somente em dezembro a produção caiu 0,7 por cento sobre o mês anterior, a sétima queda seguida, numa sequência inédita de perdas na série histórica iniciada em 2002.
Em relação ao mesmo mês de 2014, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou nesta terça-feira que a queda foi de 11,9 por cento, 22º resultado negativo consecutivo.
Com isso, a contração acumulada em 2015 superou com folga o pior desempenho registrado anteriormente pela indústria, a queda de 7,1 por cento vista em 2009, no auge da crise internacional.
A indústria nacional penou no ano passado com a forte contração econômica, a profunda fraqueza da confiança de empresários inibindo os investimentos e a dos consumidores inibindo o consumo. Isso num momento de alta do desemprego e inflação em dois dígitos.
Para analistas, não é possível ver uma estabilização do setor em breve.
"O quadro não vai mudar este ano, porque os fundamentos continuam ruins, o desemprego continuará aumentando, a renda real vai cair mais e o cenário de crédito vai continuar limitado", avaliou a economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro, que vê contração da produção perto de 4 por cento este ano.
A economista da CM Capital Markets Jessica Strasburg segue na mesma linha. "Tem a ver com as questões política e econômica, (incerteza) se a equipe econômica nova voltará a dar incentivos."
As expectativas de analistas em pesquisa da Reuters eram de que a produção industrial ficasse estável em dezembro sobre o mês anterior e recuasse 10,5 por cento na comparação com um ano antes.
BENS DE CAPITAL
Segundo o IBGE, foi a categoria de Bens de Capital, uma medida de investimento, que registrou o pior desempenho em 2015, com queda de 25,5 por cento. Somente dezembro, a perda foi 8,2 por cento sobre o mês anterior, terceira queda seguida e a mais acentuada desde dezembro de 2014 (-9,7 por cento).
Para Alessandra, da Tendências, isso está diretamente ligado à redução das empresas envolvidas nas investigações da Lava Jato, principalmente a Petrobras (SA:PETR4), bem como o cenário de incertezas.
Por outro lado, as demais categorias apresentaram resultados positivos no mês, mas ainda assim todas terminaram o ano com perdas acumuladas.
Dos 24 ramos pesquisados, 13 apresentaram queda na comparação mensal, sendo as principais influências negativas máquinas e equipamentos (-8,3 por cento), bebidas (-8,4 por cento), metalurgia (-5,0 por cento) e perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-3,5 por cento).
No ano, o ramo com maior impacto negativo foi veículos automotores, reboques e carrocerias, que registrou recuo de 25,9 por cento, pressionado principalmente pela redução na produção de aproximadamente 97 por cento dos produtos pesquisados na atividade.
"Em relação a automóveis, ainda permanece um quadro de férias coletivas, demissões, redução de jornada. Não é razoável esperar um melhora", destacou o economista do IBGE André Macedo.
O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) mostra que o ano de 2016 já começou fraco para a indústria brasileira, uma vez que o setor permanece em contração, ainda que em menor ritmo.
Segundo a pesquisa Focus do Banco Central junto a uma centena de economistas, a expectativa é de queda da produção industrial este ano de 3,80 por cento.