Investing.com – Enquanto as incertezas rondam a política monetária americana para os próximos meses, diante de pressão inflacionária, mercado de trabalho aquecido, desaceleração do crescimento da economia e riscos de recessão, as atenções estão voltadas a mais um indicador que pode afetar as próximas decisão sobre a taxa de juros da economia americana. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos EUA deve ser divulgado nesta quarta-feira, 10, às 9h30 (horário de Brasília). As projeções consensuais compiladas pelo Investing.com apontam para uma variação mensal de 0,4% em abril, mantendo o indicador anual a 5%.
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Apesar de o IPC não ser o dado “queridinho” do Fed, e sim o PCE, a preocupação dos economistas é em relação aos núcleos. O consenso prevê alta mensal de 0,4% e indicador passando de 5,6% para 5,5%, mas ainda pressionado. Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, estima avanço de 0,4%, com headline puxado pelos preços de energia. “O que interessa para a política monetária são os núcleos, que não devem ceder em doze meses de forma relevante”, acredita Sanchez.
Segundo Christian Gattiker, chefe de pesquisa do banco suíço Julius Baer, após a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) da semana passada, “os números da inflação de preços ao consumidor provavelmente mostrarão um quadro de inflação estável, com a inflação esperada permanecendo inalterada em 5,0% ano a ano em abril e o núcleo da inflação se moderando para 5,4%”.
Fernanda Mansano, colunista do Investing.com, economista-chefe da TRAAD e professora no Ibmec, aposta em uma alta de 0,4% para o indicador mensal no índice cheio, com pressões principalmente nos preços de habitação e de energia.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, concorda que o núcleo segue aquecido, o que mantém o receio da autoridade monetária americana. Entre as preocupações, estão os preços de moradia, que estão em patamar elevado e apresentam maior rigidez, trazendo correlação com mercado de trabalho e nível de renda. “Serviços de transporte também sofrem pressão devido ao nível de atividade, mas acho que podem preocupar um pouco menos. Como eles ainda estão em patamar superelevado, são parâmetros bem interessantes em termos de leitura do Fed”, detalha.
Política monetária em foco
O Fomc elevou, no dia 03 de maio, a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual. Dessa forma, as fed funds chegaram ao patamar na faixa entre 5-5,25%.
O comunicado da última reunião deixou aberta a porta para continuidade do ciclo de aperto, segundo Mansano. “Se vier uma inflação muito acima do esperado, acredito que o mercado pode começar a pressionar para mais uma alta de 0,25 ponto percentual na próxima decisão”, destaca a economista, que pondera que esse não é seu cenário base, tendo em vista o potencial de desaceleração e risco de recessão com novas altas nos juros.
Para Pizzani, o último reajuste abriu espaço para o Fomc fazer uma pausa e “dar um respiro para a política monetária se disseminar na economia e avaliar qual impacto no mercado de crédito com a instabilidade do sistema bancário regional americano”. A CM Capital projeta que o Fed termine ano com juros no patamar atual. Se o mercado de trabalho ficar apertado o suficiente, ainda há chance de uma alta residual da mesma magnitude da reunião passada.
O último relatório de criação de vagas de trabalho no mercado americano – o payroll – trouxe gatilhos que demonstram os canais de transmissão inflacionária, que estão ainda a pleno valor, avalia Sanchez, com salários entre as surpresas aos agentes do mercado.
A Ativa Investimentos espera em uma interrupção do ciclo de alta nos juros para observar os efeitos da restrição de política monetária. “O mais relevante são os núcleos, pela correspondência com o PCE, que é o objeto do Fed”, completa Sanchez, que aposta em uma primeira reunião do último trimestre com início do ciclo de afrouxamento monetário, diante de uma recessão técnica.