Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A inflação oficial brasileira acelerou com força em julho e atingiu o nível mais alto para o mês em quase 20 anos, ainda sob intensa pressão dos preços da energia elétrica e levando a taxa acumulada em 12 meses a encostar em 9%, enquanto o Banco Central intensifica o aperto monetário.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,96% em julho depois de avançar 0,53% no mês anterior, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira.
Essa foi o maior resultado para um mês de julho desde 2002, quando a alta foi de 1,19%.
Em 12 meses, a taxa acumulada até julho foi a 8,99%, de 8,35% em junho, indo muito além do teto da meta oficial para este ano -- inflação de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. O dado também o mais elevado desde os 9,32% atingidos em maio de 2016.
“O mês de julho teve muita influência de energia, combustíveis, monitorados e alimentos. Foi uma alta com várias causas", explicou o analista da pesquisa, André Filipe Guedes Almeida.
"A alta de combustíveis e energia pesou muito no orçamento das famílias ao longo dos últimos meses, além da alta das carnes de mais de 34%. São os principais motivos para a trajetória (da inflação em 12 meses“, completou.
Os resultados ficaram em linha com as expectativas em pesquisa da Reuters de altas de 0,94% na comparação mensal e 8,98% na base anual.
O destaque em julho foi mais uma vez a energia elétrica, que disparou 7,88% no mês de 1,95% em junho. Isso é consequência dos reajustes tarifários de 11,38% em São Paulo, de 8,97% em Curitiba (11,34%), e de 9,08% em uma das concessionárias de Porto Alegre (8,02%).
“Além dos reajustes nos preços das tarifas em algumas áreas de abrangência do índice, a gente teve o reajuste de 52% no valor adicional da bandeira tarifária vermelha patamar 2 em todo o país", destacou Almeida
Com isso, a maior elevação entre os grupos de produtos e serviços pesquisados foi em Habitação, de 3,10% em julho contra 1,10% no mês anterior.
Dos nove grupos, oito tiveram alta no mês, sendo o segundo maior impacto no índice de Transportes, com aumento de 1,52% dos preços -- nesse caso, as passagens aéreas passaram a subir 35,22% depois da queda 5,57% em junho. Os preços dos combustíveis também aceleraram o avanço a 1,24% de 0,87% em junho, com alta da gasolina de 1,55%.
A inflação de alimentos também ficou mais forte, chegando a 0,60% em julho de 0,43% em junho, com a alimentação no domicílio passando de 0,33% para 0,78% em julho, principalmente por conta das altas do tomate (18,65%), do frango em pedaços (4,28%), do leite longa vida (3,71%) e das carnes (0,77%).
A inflação de serviços, que também levanta preocupações diante da reabertura do setor após as medidas de contenção ao coronavírus, ficou mais forte, atingindo 0,67% de 0,23% antes.
Diante das pressões inflacionárias, na semana passada, o BC subiu a dose do aperto monetário ao adotar uma alta de 1 ponto percentual na Selic, a 5,5% ao ano, já indicando outro aumento de igual magnitude na próxima reunião do colegiado, em setembro.
Nesta terça, em ata desse encontro, o BC indicou que apertos seguidos e sem interrupção nos juros básicos são necessários para levar a taxa Selic para patamar acima do neutro, para que assim as projeções de inflação fiquem na meta.
De acordo com indicações do próprio BC, a taxa neutra estaria por volta de 6,5%. A autoridade monetária ainda reiterou sua visão sobre a continuidade da pressão sobre bens industriais, mencionando a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os novos aumentos nos preços de alimentos.