Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – Inicia nesta terça-feira (2) a reunião de dois dias do Comitê de Política Monetária (Copom) para definição da taxa de juros brasileira, que será divulgada na quarta-feira (03). A expectativa dos analistas é de um aumento de 0,50 ponto percentual na Selic, levando a taxa para 13,75% ao ano. Mais incerta é a expectativa sobre o fim ou não do ciclo de alta, que divide os especialistas.
Na última reunião, o colegiado elevou os juros em meio ponto, de 12,75% para 13,25%. O ciclo de alta iniciou em março do ano passado, quando a taxa saiu do nível mais baixo da história, de 2%, para 2,75%.
A política contracionista ocorre para tentar frear a inflação, que está na marca de dois dígitos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,67% em junho e atingiu 11,89% em doze meses. O IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial, chegou a 0,13% em julho, indicando diminuição na pressão, mas ainda levando a uma taxa anual de 11,39%.
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Para Gabriel Fongaro, economista sênior do Julius Baer Family Office, a expectativa para a decisão do Copom é de elevação de 50 bps na taxa Selic. Segundo o economista, apesar de o Banco Central do Brasil já estar avançado no processo de normalização monetária, com taxa de juros acima da neutra, o aperto adicional é necessário diante do cenário ainda desafiador para a inflação. “Descontando os efeitos das desonerações de impostos, a inflação no curto prazo continua em níveis preocupantes, e há evidências de que vem adquirindo maior persistência, o que demanda um aperto monetário mais agressivo para promover a desaceleração da inflação adiante”, destaca.
Outra preocupação de Fongaro é com a inflação de serviços, que possui maior inércia, e acelerou significativamente nos últimos meses, além da forte recuperação do mercado de trabalho que vem sendo acompanhada de reajustes salariais maiores. “Além disso, os riscos fiscais em alta com as medidas de desoneração de impostos e dúvidas quanto à política fiscal a partir de 2023 tornam o balanço de riscos para a inflação ainda viesado para cima. O cenário internacional é outro agravante, visto que a elevação de juros nas economias desenvolvidas reduz o fluxo de capitais para as economias emergentes”, completa o especialista da Julius Baer.
Ciclo de aperto finalizado?
Mesmo com uma reversão no preço de diversas commodities, como petróleo, minério de ferro, milho e soja, o entendimento dos especialistas é de que o Banco Central ainda não tem condições para sinalizar o fim do ciclo de aperto monetário no comunicado da decisão. Para o BTG (BVMF:BPAC11), a deterioração do cenário faz com que o Banco o Central evite interromper ciclo de aperto monetário. O banco aguarda uma elevação para 13,75% e indicação sobre um novo ajuste de igual ou menor magnitude, dando graus de liberdade para as próximas reuniões.
O economista da Julius Baer indica que o Banco Central deve sinalizar que ainda está atento ao cenário, mas que permanecem dúvidas importantes - e que o fim do ciclo de alta de juros, apesar de próximo, ainda está em aberto.
De acordo com Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, as medidas fiscais aprovadas, como a redução de alíquotas para diversos bens e PEC dos Auxílios, deterioram o cenário fiscal do país e dificultam o trabalho da autoridade monetária brasileira. Sung também espera alta de 0,50 ponto percentual, mas é mais pessimista sobre o fim do ciclo de aperto monetário.
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“Os malabarismos fiscais aumentaram a incerteza quanto ao risco fiscal do país no médio e longo prazo. O pessimismo dos investidores levou o câmbio a um patamar mais elevado. Caso se mantenha, pressionará os preços internos”, pondera.
O economista completa que as incertezas permanecem: o estado da economia brasileira, cenário internacional, inércia inflacionária, preços industriais, dos alimentos e de serviços. Com isso em vista, a tendência, segundo ele, é de que haja novas altas na taxa de juros.
“A nossa expectativa é de que o Copom sinalize novos aumentos em menor magnitude. Para a reunião de setembro, nosso cenário é que a Selic chegue a 14,0% a.a. e se mantenha até o fim do ano. Para 2023, possíveis quedas poderão vir apenas no segundo trimestre”, diz Sung.
Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, entende que a autoridade monetária brasileira vai buscar “reter graus de liberdade” em seu comunicado e considera importante que o documento destaque o ponto avançado do ciclo de juros e a defasagem tradicional da política monetária; a deterioração da percepção de risco da economia brasileira no período entre reuniões, além da permanência da política monetária apertada por um longo período. “Nossa visão é de ajuste de 50 bps nesta reunião, seguido por ajuste de 25 bps na reunião de setembro”, afirma.
E o dólar?
A semana deve ser de volatilidade na moeda americana, tendo em vista o cenário conturbado global, além das altas nos juros globais. Daniel Xavier, gerente do departamento econômico do Banco ABC Brasil (BVMF:ABCB4), concorda com a alta em 50 bps, mas espera a continuidade dessa taxa por um período maior de tempo. Ele acredita que a Selic siga nesse patamar até junho do ano que vem. “Assim, os fundamentos continuarão positivos para o real no médio prazo, dado o carry atraente para cá. Isso a despeito dos ruídos que a pauta eleitoral e fiscal podem trazer na segunda metade do ano. Projetamos 5,01 e 4,95 para o USD/BRL ao final de 2022 e 2023, nesta ordem”, detalha.
Expectativas do Focus
Os dados do último Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (1), mostram melhoria no indicador de inflação deste ano, mas estabilidade quanto à Selic. Economistas consultados pelo Banco Central reduziram as estimativas para o IPCA neste ano de 7,30% para 7,15. No entanto, a projeção para 2023 passou de 5,30% para 5,33%. Para a Selic, as expectativas não tiveram alterações nesta semana, com a expectativa para 2022 em 13,75% pela sexta semana seguida. Já para o ano que vem, as estimativas subiram de 10,75% para 11%.
FOCUS: IPCA e PIB apresentam leve melhora, enquanto dólar e Selic ficam estáveis