Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A indústria no Brasil voltou a registrar queda da produção em maio pelo segundo mês seguido, ainda que menos do que o esperado, impactada pelas chuvas no Rio Grande do Sul e com destaque para os setores automotivo e alimentício.
A produção industrial recuou 0,9% em maio em relação a abril, marcando uma queda de 1,0% na comparação com o mesmo mês do ano anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
As expectativas em pesquisa da Reuters eram de quedas de 1,7% tanto para a comparação mensal quanto na base anual.
Com o resultado de maio, a indústria brasileira acumulou perdas de 1,7% em abril e maio, eliminando o ganho de 1,1% registrando entre fevereiro e março.
"Maio tem forte influência das chuvas no Rio Grande do Sul. Os impactos na cadeia produtiva local e em outra unidades da federação traz ruído para maio", explicou o gerente da pesquisa, André Macedo. "É importante dizer que a indústria já vinha com desempenho negativo em abril, que o setor já mostrava menos intensidade e agora veio um fator importante, que foi a chuva do Rio Grande do Sul".
A indústria ainda passou a operar 1,4% abaixo do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020, e 17,8% abaixo do maior nível da série, alcançado em maio de 2011.
"O resultado de maio foi influenciado pelas chuvas no Rio Grande do Sul, mas acreditamos que esse impacto será limitado. Os dados preliminares de atividade do mês de junho já sinalizam uma recuperação da economia", destacou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
O IBGE destacou que das 25 atividades pesquisadas, 16 recuaram em maio. As duas maiores influências negativas vieram da queda de 11,7% na fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias e de 4,0% em produtos alimentícios, sendo que ambos os setores foram impactados pelas enchentes do Rio Grande do Sul, em maio e junho.
"Teve montadoras e fabricantes de peças que pararam de produzir em maio no Sul, e isso impacto tanto no Sul quanto em outras unidades da federação. Em outros Estados, plantas pararam a produção por conta da falta de insumos", disse Macedo.
Em relação aos produtos alimentícios, que respondem por cerca de 15% da produção industrial do Brasil, Macedo citou retração no processamento da cana-de-açúcar devido a uma condição climática menos favorável na segunda quinzena de maio
"Já entre os impactos negativos que podem ter a ver com as chuvas no Rio Grande do Sul estão as carnes de aves, de bovinos e de suínos e os derivados da soja, que são produtos que têm grande peso no setor", completou.
O que evitou uma queda maior no resultado da indústria em maio foram os aumentos de 2,6% na produção das indústrias extrativas e de 1,9% de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis.
Entre as categorias econômicas, todas registraram retração no mês: bens de consumo duráveis (-5,7%), bens de capital (-2,7%), bens intermediários (-0,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,1%).
Apesar do resultado fraco, Igor Cadilhac, economista do PicPay, ressalta que a perspectiva para a indústria neste ano segue positiva. Ele cita "aquecimento da demanda interna e alguma folga no aperto monetário ...; uma balança comercial robusta, com bom desempenho das exportações e aumento das importações; e políticas de estímulo à atividade econômica por parte do governo" como fatores favoráveis.