Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A produção industrial brasileira voltou a subir em março, melhor resultado mensal em pouco mais de dois anos com recuperação dos segmentos de bens de consumo e investimentos, porém insuficiente para fechar o primeiro trimestre no azul, reflexo das incertezas diante das crises econômica e política.
Em março, a produção industrial avançou 1,4 por cento na comparação com fevereiro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, melhor desempenho desde janeiro de 2014 (+1,8 por cento).
"A alta mensal não muda a trajetória negativa da indústria que vem desde o fim de 2014. O que levou ao crescimento foi uma base fraca (de comparação) e relativa redução de estoques em certos setores", explicou o economista do IBGE André Macedo.
No trimestre passado, a produção do setor despencou 11,7 por cento, pior resultado desde o primeiro trimestre de 2009 (-14,2 por cento). Em março, na comparação com um ano antes, a queda foi similar, de 11,4 por cento, chegando à 25ª taxa negativa nessa base de comparação.
As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de alta de 1,60 por cento na variação mensal e de recuo de 10,80 por cento na comparação anual.
Segundo o IBGE, a categoria de Bens de Consumo foi que a apresentou a maior alta em março, de 3,2 por cento sobre o mês anterior, mas encerrou o primeiro trimestre com perdas acumuladas 9,8 por cento.
Já Bens de Capital, uma medida de investimento, registrou alta de 2,2 por cento em março na base mensal, fechando os três primeiros meses com recuo de 28,9 por cento devido principalmente à redução na fabricação de bens para equipamentos de transporte (-28,6 por cento).
Dos 24 ramos pesquisados, ainda segundo o IBGE, 12 registraram alta na comparação mensal em março, sendo a principal influência positiva produtos alimentícios, com ganho de 4,6 por cento.
As perspectivas para o setor industrial não são positivas, de acordo com o Índice de Gerentes de Compras (PMI), do Markit. Para abril, o PMI aponta forte queda no volume de novas encomendas e a contração mais forte do setor desde março de 2009.
Por outro lado, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou melhora das expectativas, levando à do seu índice de confiança da Indústria (ICI) em abril para o maior patamar em um ano.
A perspectiva de troca de governo por conta do processo de impeachment da Dilma Rousseff em tramitação no Congresso ocorre num momento de recessão da economia brasileira, dificultando os investimentos.
Economistas consultados na pesquisa Focus do Banco Central projetam contração de 5,83 por cento da produção da indústria em 2016, com o Produto Interno Bruto (PIB) retraindo 3,89 por cento.