Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A produção industrial do Brasil ganhou algum fôlego em novembro e cresceu mais do que o esperado, mas ainda seguia a passos a lentos em um cenário de desaceleração global da atividade e juros restritivos.
Em novembro, a indústria brasileira apresentou avanço de 0,5% da produção na comparação com o mês anterior, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no melhor resultado para o mês desde 2020.
O resultado foi melhor do que a expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,2% no mês e marcou o quarto mês seguido no azul, sequência que não se via também desde 2020. O ritmo ainda se acentuou ligeiramente depois de ganhos fracos em outubro (+0,1%), setembro (+0,1%) e agosto (+0,2%).
“Mesmo com o saldo positivo de 0,9% acumulado nos últimos quatro meses, a produção industrial ainda se encontra 0,9% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 17,6% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011”, destacou o gerente da pesquisa, André Macedo.
"Temos um ritmo mais acentuado mas não dá pra chamar de trajetória clara sustentada de crescimento da indústria", completou. "Essa melhora na ponta tem a ver com melhor desempenho do mercado de trabalho com mais ocupados, massa salarial, renda e mais formais."
Na comparação com novembro do ano anterior, a produção teve alta de 1,3%, contra projeção de 0,7%.
Sem conseguir deslanchar ao longo do ano, a indústria nacional deve ter fechado 2023 com estagnação em meio a desafios externos, como problemas na China e atividade global fraca, o que não favorece as exportações brasileiras.
Também pesam os juros altos no país e o comprometimento de renda, o que afeta o consumo de bens de maior valor agregado, embora o Banco Central tenha embarcado em um ciclo de cortes da Selic que levou a taxa básica ao patamar atual de 11,75%.
"Para o ano, a indústria deve fechar no zero a zero. Isso fica evidente quando olhamos em uma perspectiva mais longa, com a indústria operando literalmente de lado desde meados de 2021", avaliou João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital.
O IBGE destacou que, em novembro, 13 dos 25 ramos industriais pesquisados tiveram crescimento na produção. Os destaques foram as indústrias extrativas (+3,4%) e produtos alimentícios (+2,8%).
“As indústrias extrativas foram impulsionadas pela maior extração de petróleo e minério de ferro, e eliminaram o recuo de 0,4% do mês de outubro. Já o setor de produtos alimentícios, que teve como destaque os itens açúcar, produtos derivados da soja e carnes de bovinos, marcou seu 5º mês seguido de crescimento na produção, e acumulou nesse período um crescimento de 6,3%”, disse Macedo.
Entre as categorias econômicas, os bens intermediários apresentaram o crescimento na comparação mensal, de 1,6%. Por outro lado, a produção de bens de capital recuou 1,7% e a de bens de consumo teve queda de 0,2%.