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Selic deve ser mantida próxima reunião, espera Tony Volpon, ex-diretor do BC

Publicado 23.05.2024, 21:05
© Divulgação

Investing.com – Os cortes na taxa de juros da economia brasileira terminaram, pelo menos por enquanto, projeta o economista Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central (Bacen), atual professor da Georgetown University, e diretor do Instituto Makros. Volpon aponta uma piora nas expectativas inflacionárias e um maior pessimismo na comunicação da autoridade monetária como motivo de uma pausa na flexibilização.

“Me parece que a única decisão coerente é realmente de deixar a taxa Selic inalterada”, reforça, indicando que há, no entanto, chance de um corte de 0,25 ponto percentual na próxima decisão, apesar de não considerar este como seu cenário base.

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Segundo o ex-diretor do Bacen, como a ata da última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central indicou como motivo de uma divisão entre os diretores somente o guidance dado anteriormente – que era de um corte de 0,5 ponto percentual, o que não ocorreu de fato, mas sim de 0,25 ponto percentual -, e o cenário vem passando por uma deterioração, e como não há mais guidance, as maiores chances são de que a Selic siga no mesmo patamar.

O economista alerta para maior pessimismo na divulgação da última ata. “As expectativas, que estavam sendo até esse momento sendo descritas como parcialmente ancoradas, agora são descritas como desancoradas”. Além disso, o quadro, de acordo com Volpon, é de que “aparentemente toda diretoria concorda em ter um compromisso com a meta e não a banda” em compromisso na plena reancoragem das expectativas.

Assim, Volpon reforça que, como nenhum membro da diretoria teria manifestado até o momento uma visão alternativa ao entendimento mais pessimista, tudo indica que os juros devem ser mantidos a partir de agora. “Quem tem voto, quem votou pelo 0,50, até o momento não vi uma defesa, uma explanação de uma análise que justificaria continuar o processo de corte de juros nesse quadro”, aponta o economista.

Confira a entrevista completa com Volpon:

Investing.com – Como enxergou a divisão da decisão do Copom e os motivos indicados, citando a questão do guidance?

Tony Volpon – Foi uma decisão que surpreendeu o mercado, com aquele racha entre uma maioria de diretores que foram empossados pela gestão anterior, contra os quatro deste governo, algo que eu vi no comunicado originalmente é que não havia qualquer justificativa para essa racha, porque que a maioria votou por 0,25 ponto percentual e não 0,5 ponto percentual.

De fato, o comunicado elencava vários pontos que pareciam justificar o voto pelo 0,25, quebrando o guidance que foi dado na reunião anterior, algo que tinha sido comunicado já pelo Roberto Campos Neto na reunião do FMI, então aquilo não foi surpresa. Esperávamos, na ata, a razão pelo qual houve essa racha.

O que a gente viu lendo a ata é que ela é muito pessimista, bastante retrabalhada. Fazendo uma comparação entre a ata anterior e a ata que foi divulgada, teve parágrafos novos, muito retrabalhada e também muito pessimista.

Inv.com – Por quais motivos?

Enquanto a decisão ou, pelo menos, o que foi meio que pré-anunciado até pelo próprio Roberto Campos como sendo a grande razão pela desaceleração de 0,50 por 0,25, que foi o cenário externo, na verdade, o cenário externo não foi o destaque da ata. O destaque da ata veio muito em função da questão da alta das expectativas, que estavam sendo, até esse momento, sendo descritas como parcialmente ancoradas, agora são descritas como desancoradas. Então, houve uma piora bastante substancial.

Houve um debate sobre o mercado de trabalho e sobre como isso pode eventualmente influenciar a inflação de serviços. Houve menção à questão fiscal. De fato, foi interessante que, no mesmo parágrafo onde se fala do fiscal, se fala na desancoragem das expectativas, parece uma coisa estranha, porque até parece que deveriam ter sido dois parágrafos, mas eles colocaram em um. Não sei se aquilo foi uma maneira talvez indireta de dizer que uma das razões pela desancoragem de expectativas foi exatamente o anúncio da mudança das metas fiscais que foi feita recentemente.

E a ata disse que, na verdade, a razão pelo racha do Copom foi exatamente uma discussão sobre a conveniência ou não de se manter o guidance. Onde quem votou por 0,50 disse que não seria conveniente quebrar o guidance, pois poderia impactar negativamente a credibilidade, o que foi um argumento que posteriormente foi dito pelo diretor Gabriel Galípolo, quando ele esteve em Nova Iorque. Ele disse que esse era o grande ponto que pesou nele e que ele, de fato, até pensou em votar em 0,25. Então, ele ficou meio dividido e decidiu optar por manter o guidance porque ele não acreditava que as mudanças de uma reunião para a outra chegavam ao patamar de ter que abandonar o guidance.

Ao ler a ata e sem entrar em muita teorização de quais são os incentivos desses diferentes diretores, parece ser uma ata onde houve de fato uma convergência de diagnósticos. Então, todo mundo aparentemente está muito preocupado com a questão das expectativas, com o fato de que as projeções subiram, um pouco, mas subiram, o que é outro ponto negativo.

Ainda, houve uma discussão sobre o balanço de riscos, em que pelo menos alguns diretores argumentaram que deveria ser um balanço de risco assimétrico. Acabou não sendo, essa posição acabou não prevalecendo. Acho até que, se tivesse prevalecido, com certeza teria tido uma sinalização que não haveria cortes adicionais de juros. Então, eu acho que eles decidiram não querer fechar a questão nessa reunião para deixar alguma opcionalidade para a próxima reunião, não fechar a questão previamente. Seria muito incoerente eles mudaram o balanço de risco e cortarem os juros na reunião seguinte. Mas houve essa discussão e claramente alguns diretores, certamente dentro do grupo que por 0,25, até argumentaram que o balanço de riscos mudou.

Então, o quadro que se desenha é um quadro pessimista, é um quadro onde aparentemente toda diretoria concorda em ter um compromisso com a meta e não a banda, mas a meta mesmo de 3%, e tem compromisso na plena reancoragem das expectativas, algo que foi de novo reconfirmado mais uma vez pelo Galípolo em NY.

Inv.com – Em suas redes sociais, o senhor citou que a única decisão coerente no momento é por parar os cortes nas taxas de juros. Quais os principais argumentos para esta visão?

Volpon – Se verdade, a única coisa que dividiu esse grupo foi a questão do guidance e na próxima reunião não tem mais guidance, com o tom pessimista e a questão das expectativas que posteriormente desancoraram ainda mais, movimento que tem vindo consistentemente no Focus, a gente não sabe exatamente onde isso vai parar, se há essa concordância de diagnóstico entre os diretores e essas pioras adicionais – teve piora nas expectativas e piora no câmbio – com esse quadro, e se esse quadro persistir até a próxima reunião, obviamente tem aquela história que tudo pode mudar, mas não me parece muito provável, me parece que a única decisão coerente é realmente de deixar a taxa Selic inalterada.

Acho que vai ser muito difícil, dado que não há mais guidance, mas vamos dizer que está entre 0 e 0,25, mas acho que está mais para zero. Se você realmente acredita na importância das expectativas de inflação como apuradas no Focus como sendo algo que é quase uma meta secundária, na maneira como está colocado na ata, é muito difícil você ter corte de juros adicionais nesse quadro.

Inv.com – As últimas semanas foram de diversas revisões altistas nas projeções de juros para o ano. Devem seguir?

Volpon – O mercado está tateando para algo entre 0,25 e 0 e uma pausa. Talvez eles possam dar 0,25 e pausam ou pausam agora. Acho que o mercado vai se dividir entre essas duas opções. Obviamente temos mais tempo para os diretores, inclusive Roberto Campos, para se manifestarem, mas eu acho que é nesta direção que está indo o mercado.

Inv.com – Nas redes sociais, o senhor mencionou uma visão alternativa que justificaria, nesse entendimento, cortes adicionais. Que visão seria esta e por quais motivos não concorda com esses argumentos?

Volpon – Os diretores que defenderam o 0,50 não estão articulando uma visão alternativa do processo que poderia justificar cortes adicionais. Eles focaram muito na questão de manter o guidance ou não, mas não houve na ata, e nem eu tenho ouvido, e o Galípolo pelo menos em Nova York não fez isso, não articulou uma análise do cenário para justificar uma continuidade de corte de juros. E essa análise, apesar de que eu acho que é uma análise que tem menos peso que essa análise mais pessimista, pelo menos não é uma análise que eu defenderia nesse momento, mas essa análise é possível.

Então tem um argumento para continuar os cortes de juros, baseado em dois pontos importantes: primeiro a taxa de juros real ex ante está bastante alta. Então é possível dizer que, até continuando, que seja agora diminuído, só 0,25 de corte, ainda você tem muita gordura na taxa de juros e, portanto, é compatível com uma eventual convergência da inflação à meta, dado que a distância entre o que está sendo projetado pelo Banco Central e a meta não é grande. Rodando novamente os modelos agora, isso pode mudar, porque, como você comentou, teve dois movimentos, teve um movimento de alta de expectativas, mas também o movimento de alta de juros esperado. A taxa de “repouso”, a taxa terminal do ciclo subiu e uma coisa compensa a outra, então não sei exatamente, pois depende das outras variáveis, como fica a projeção. Seria possível argumentar de que a inflação não está muito longe da projeção, mas a gente sabe que essas projeções possuem uma banda de erro muito grande, então 3%, ou 3,33%, do ponto de vista estatístico, é mais ou menos a mesma coisa.

Argumento número dois, a taxa de juros está muito alta, então, portanto, diante das estimativas de taxa neutra com que o Banco Central tem trabalhado - também há uma discussão no mercado sobre se talvez, como parte desse quadro mais pessimista, essa taxa neutra tem que subir, mas não subiu, temos que ver o relatório de inflação, que é uma oportunidade do Banco Central fazer esse tipo de mudança, vamos ter que esperar por isso – mas pelo menos pelos dados que eles estão trabalhando agora, poderíamos dizer que há muita gordura nessa taxa. Poderia ser dito que sim o quadro piorou, mas ainda não chegamos num ponto onde está realmente colocando do ponto de vista pelo menos probabilístico, a questão da meta em jogo para 2025, que é o horizonte relevante.

Acho que tem vários problemas com essa argumentação, pois eu acho que ela está correta, mas ela está muito parcial. O ministro Fernando Haddad no Congresso meio que tocou em alguns pontos, tocou no ponto que a taxa de juros ainda está bastante elevada etc, mas ele não senta no Copom e não tem voto.

Quem tem voto, quem votou pelo 0,50, eu, até momento, não vi uma defesa, uma explanação de uma análise que justificaria continuar o processo de corte de juros nesse quadro. Então, o meu ponto é se a única diferença realmente foi a tal diferença técnica sobre manter ou não guidance, isso colocado de lado, todo mundo converge numa análise de cenário que parece extremamente pessimista, do ponto de vista da dinâmica da inflação, e coloca como meta não só levar a inflação à meta no futuro, mas também ancorar as expectativas, então tem quase uma meta dupla onde as expectativas têm peso senão talvez até igual à primeira meta, é muito difícil chegar na próxima reunião e voltar para cortar os juros.

Então, me parece que essa ala, os quatro que voltaram para os 0,50 não estão colocando na mesa argumentos que poderiam justificar a continuidade do processo. E, até que isso seja feito, é muito difícil concluir que haverá um corte de juros na próxima reunião. Obviamente, ainda há tempo para alguém chegar e articular um cenário onde isso talvez seja a decisão que eles vão tomar. Mas até agora isso não foi feito.

Inv.com – Com os impactos no RS, acha que isso será mencionado nas próximas comunicações? Pode afetar de alguma forma as decisões?

Volpon – A literatura que a gente tem sobre esses tipos de eventos é que eles têm impactos muito fortes, mas pouco duradouros. Então, se o horizonte da política monetária, seja nove meses, um ano, um ano e meio, eu acho que em um ano, a gente pode ainda pensar que haverá outras obras sendo feitas, mas vai ter uma normalização econômica, pelo menos, desse impacto dessa tragédia climática. Talvez haja algum risco em termos de alimentação, algumas coisas muito pontuais de curto prazo que podem mexer um pouquinho com as estimativas, mas avalio ser muito difícil argumentar que vai mudar substancialmente o quadro inflacionário lá na frente de tal maneira que o Banco Central deveria fazer alguma coisa diferente hoje.

Eu não tenho visto, pelo menos, estimativas que me levariam a achar que vai ser uma situação diferente. Teve Katrina nos Estados Unidos, tem um pouquinho de histórico, a gente sabe que isso é mais ou menos o que acaba acontecendo. Então sim, vai ter um impacto fiscal, vai ter gastos, obras que serão feitas, que acabaram aumentando o nível da atividade. Obviamente tem uma queda de atividade no primeiro momento, porque as pessoas não têm chance de consumir, mas olhando o ano para frente, essas coisas meio que desaparecem e você volta a uma normalidade, pressupondo que outras calamidades desse tipo não vão ocorrer.

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