Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -O setor de serviços brasileiro registrou forte contração de volume em janeiro, iniciando o ano em tom negativo após chegar em dezembro ao ponto mais alto da série histórica, em um cenário de desafios com o aumento dos juros e a perda de força da economia global.
Em janeiro, o volume de serviços no país teve recuo de 3,1% na comparação com o mês anterior, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), maior taxa negativa desde março de 2021, período da segunda onda de Covid-19, e pior resultado para o mês na série, iniciada em 2011.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, no entanto, houve expansão de 6,1%.
O setor de serviços vem de dois anos seguidos de resultados positivos alimentados pela reabertura da economia após a pandemia de Covid-19, mas neste ano não deve ganhar muito mais força, uma vez que, assim como o restante da economia, passa a sentir com mais força os efeitos defasados da elevação nos juros no país, além da desaceleração da economia global.
"O resultado de janeiro corrobora nossa visão de que a resiliência demonstrada por serviços ao longo de 2022 vai começar a diminuir daqui para a frente", disse em nota Claudia Moreno, economista do C6 Bank. "Mas o efeito positivo da reabertura já se dissipou e agora o setor deve começar a sentir mais fortemente os efeitos dos juros altos."
De acordo com o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, a queda de janeiro elimina o ganho acumulado de 3,0% nos dois últimos meses de 2022. Ele ressalta, entretanto, que a base de comparação está em um patamar elevado.
“O setor de serviços continua muito próximo do seu ponto mais alto da série, alcançado no mês passado, o que o coloca em um patamar 10,3% acima do nível pré-pandemia”, disse ele.
"É cedo para falar em um inflexão dos serviços por conta dessa queda em janeiro. Precisamos esperar mais dados para saber se foi algo pontual ou se com o tempo vai se distanciar do pico de dezembro", completou Lobo.
Mais cedo nesta sexta-feira, o índice de vendas no varejo calculado pela empresa de meios de pagamento Cielo (BVMF:CIEL3) e apurado junto a 1,1 milhão de varejistas do país, mostrou queda de 2,6% no setor de serviços em março sobre um ano antes, já descontada a inflação.
TRANSPORTES
O IBGE destacou o desempenho do setor de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios, cuja queda de 3,7% no volume exerceu a maior influência negativa no resultado do mês.
“A queda do setor é explicada pela parte de armazenagem, que recuou 9,0%, com destaque negativo para gestão de portos e terminais; assim como o transporte aéreo de passageiros, que recuou 5,9% no mês”, explicou Lobo.
Também foi destaque negativo o setor de outros serviços, com recuo de 9,9% em janeiro sobre dezembro, em um movimento decorrente de receitas atípicas recebidas no mês anterior pelas empresas que atuam nos segmentos de serviços financeiros auxiliares.
O índice de atividades turísticas, por sua vez, avançou 0,5% frente ao mês imediatamente anterior, segundo resultado positivo seguido, acumulando ganho de 5,3%.
Segundo o IBGE, o segmento de turismo está 2,5% acima do patamar de fevereiro de 2020 e 4,6% abaixo do ponto mais alto da série, alcançado em fevereiro de 2014.
O IBGE explicou ainda que esta foi a primeira divulgação da nova série da pesquisa, que passou por atualizações na seleção da amostra de empresas, ajustes nos pesos dos produtos e das atividades, além de alterações metodológicas, para retratar mudanças econômicas na sociedade.
Com as mudanças, o IBGE passou a avaliar empresas de streaming, aplicativos de transporte e empresas de delivery e entrega de produtos, segundo Lobo.
(Edição Alberto Alerigi Jr.)