Crédito restrito e gastos fracos de famílias mais ricas podem afetar perspectivas do Fed

Publicado 18.03.2025, 10:48
Atualizado 18.03.2025, 10:50
© Reuters. Sede do Fed em Washingtonn31/07/2013. REUTERS/Jonathan Ernst/File Photo

Por Howard Schneider

WASHINGTON (Reuters) - A queda dos mercados acionários e os sinais de aperto no crédito podem dificultar ainda mais o trabalho do Federal Reserve nesta semana, conforme as autoridades banco central dos Estados Unidos tentam avaliar se os gastos dos consumidores serão afetados uma vez que as famílias avaliam o possível golpe em seu patrimônio líquido e a maior dificuldade em obter empréstimos.

As vendas no varejo dos EUA em fevereiro, informadas na segunda-feira na mais recente série de dados econômicos que as autoridades do Fed verão antes de iniciar sua reunião de política monetária de dois dias nesta terça-feira, foram mais fracas do que o esperado. Alguns economistas viram a desaceleração dos gastos em categorias opcionais, como refeições em restaurantes, como um sinal de que os consumidores em geral - e não apenas as famílias de baixa renda - estavam começando a reduzir suas compras.

O Fed divulgará seu comunicado às 15h (horário de Brasília) de quarta-feira. Embora a expectativa seja de que o banco central deixará sua taxa de juros de referência inalterada na faixa de 4,25% a 4,50%, ele também divulgará novas projeções econômicas que darão uma ideia de como as autoridades acham que as políticas do presidente Donald Trump afetarão o crescimento econômico, a inflação e o desemprego, e os juros podem precisar mudar como resultado.

Uma desaceleração nos gastos do consumidor pode aumentar as preocupações do Fed com relação ao crescimento e torná-lo mais inclinado a reduzir os juros. Mas a volatilidade em torno das políticas comerciais de Trump, que correm o risco de aumentar os preços, deixou as autoridades do Fed diante do dilema potencial de uma economia mais fraca e de uma aceleração da inflação.

O rastreador GDPNow do Fed de Atlanta, atualizado após os dados das vendas no varejo, estima que os gastos do consumidor no primeiro trimestre possam crescer apenas 0,4%, em comparação com a estimativa anterior de 1,1%.

Somando-se a uma situação já complexa, há uma recente queda nos preços das ações que apagou quase US$6 trilhões em valor de mercado, com o impacto abrangendo investidores individuais e institucionais, bem como contas de aposentadoria de famílias.

CONDIÇÕES DE APERTO

Em momentos de volatilidade do mercado, as autoridades do Fed costumam ressaltar que seu trabalho é manter a inflação estável e o pleno emprego, e não os preços das ações em alta.

Porém, os preços das ações e os mercados financeiros em geral influenciam o comportamento da economia como um todo e, nas últimas semanas, os sinais têm apontado para condições de crédito mais restritivas.

O crescimento dos empréstimos bancários diminuiu, e os rendimentos dos títulos de empresas com recomendação mais baixa aumentaram. Um índice de condições financeiras do Fed ficou ligeiramente mais apertado nos últimos dois meses.

Em uma pesquisa recente do Fed de Nova York, os consumidores tinham uma perspectiva mais fraca sobre a disponibilidade de crédito, e as taxas de rejeição de empréstimos têm aumentado.

"As ações estão em baixa... Os spreads de crédito continuam apertados, mas começaram a se ampliar", escreveram economistas do Deutsche Bank na semana passada. A menos que os planos tarifários do governo mudem ou que os mercados comecem a vê-los de forma diferente, os cortes na taxa de juros do Fed "podem representar a alavanca remanescente que pode eventualmente evitar movimentos mais perturbadores nos mercados financeiros que ameaçam a perspectiva de crescimento"

Para os gastos do consumidor, o principal motor da economia dos EUA, o golpe para o crescimento pode vir se as pessoas mais ricas se tornarem cautelosas após um período recente em que seus gastos compensaram uma retração entre as famílias menos abastadas.

Economistas discordam sobre o grau de importância dos chamados "efeitos da riqueza", e muitos acham que os dados sobre desemprego e renda são um indicador melhor do consumo do que as medidas do patrimônio líquido geral das famílias.

Mas a velocidade da recente queda e a incerteza sobre a estratégia final do governo Trump na atual guerra comercial - que tem sido justificada de várias formas como reindustrialização, aumento da receita do governo e parte de uma estratégia antidrogas - começaram a afetar a confiança dos consumidores e das empresas, com alguns analistas dizendo que pode haver um recuo.

"Os baby boomers aposentados foram responsáveis por grande parte da resiliência dos gastos dos consumidores, que foram impulsionados por um efeito de riqueza muito positivo para muitos, já que o valor de suas casas e carteiras de ações se valorizaram", escreveu recentemente Ed Yardeni, da Yardeni Research. "O risco agora é que os consumidores se retraiam."

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