Por Aluísio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A estabilização da economia brasileira não virá a tempo de livrar grandes empresas do país de pedir recuperação judicial ainda na primeira metade de 2017, disseram à Reuters executivos de bancos e de escritórios de advocacia.
Os novos pedidos, que devem envolver inclusive companhias listadas na Bovespa, refletirão em parte a negativa de grandes bancos de continuar rolando dívidas, uma vez que a capacidade de pagamento das devedoras não melhorou, disseram as fontes.
No topo da lista das que podem anunciar já nas próximas semanas que recorreram à recuperação judicial estão construtoras e incorporadoras, empresas da cadeia de óleo e gás e unidades de conglomerados investigados pela operação Lava Jato.
No primeiro grupo, a candidata a abrir a lista é a PDG Realty (SA:PDGR3), que neste mês suspendeu o resgate antecipado de Certificados de Recebíveis Imobiliários previsto para semana passada por falta de recursos. A empresa já havia anunciado no início do mês que estava inadimplente com o pagamento de juros da 3ª emissão de CRI. A empresa tem negado já ter tomado uma decisão a respeito.
Mas esse não deve ser o único caso no setor, segundo o sócio de um grande escritório de advocacia que representa credores, dado que algumas construtoras simplesmente não conseguiram vender ativos para fazer caixa e honrar acordos de rolagem de dívida com bancos.
"Só o setor imobiliário deve ter pelo menos dois grandes nomes em recuperação judicial ainda no primeiro semestre", disse o profissional à Reuters, sob condição de anonimato e evitando citar nomes.
Na semana passada, o próprio presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Gilberto de Abreu Filho, admitiu que esse deve ser o caso de algumas companhias.
"Esperava-se que as construtoras conseguissem resolver dívida bancária gerando caixa, o que, em alguns casos, não aconteceu", disse Abreu Filho. "No primeiro semestre, algumas poderão ir para recuperação (judicial)", adicionou.
Segundo a fonte jurídica e um executivo de um grande banco privado, esse já deveria ter sido o desfecho para algumas empresas, mas os bancos tomaram a iniciativa de rolar dívidas para evitar um acúmulo de provisões para perdas, após os gigantescos casos de recuperação judicial da Sete Brasil e da empresa de telecomunicações Oi (SA:OIBR4), que juntas somam cerca de 84 bilhões de reais em dívidas.
Menos de dois meses depois da afretadora de sondas para exploração de petróleo ter pedido recuperação judicial no ano passado, com dívidas totais de mais de 19 bilhões de reais, a operadora de telefonia usou o mesmo mecanismo no maior pedido de recuperação judicial da história do país, com dívida de 65 bilhões de reais.
Isso sem contar que em 2015 as empreiteiras OAS e Galvão Engenharia acionaram o mecanismo, na esteira das adversidades financeiras oriundas do envolvimento de ambas nos escândalos de corrupção investigados pela operação Lava Jato.
Como consequência desses casos, as reservas que os bancos constituem para fazer frente a prejuízos com calotes subiram. Segundo a Economatica, de julho a setembro, Itaú Unibanco (SA:ITUB4), Banco do Brasil (SA:BBAS3), Bradesco (SA:BBDC4) e Santander Brasil (SA:SANB11) fizeram provisões para perdas esperadas com calotes de 22,76 bilhões de reais, segundo maior volume em uma década.
"Agora que as provisões de maior volume já foram feitas, os bancos vão deixar rolar", disse a fonte bancária em referência aos futuros pedidos de recuperação judicial.
O maior volume de pedidos de proteção judicial contra credores por parte de grandes empresas deve acontecer num momento em que os pedidos totais de recuperação tendem a se estabilizar, diante da gradual descompressão nas condições de crédito e queda nos juros.
"Não vejo agravamento da situação nos pedidos de recuperação judicial e falências neste ano", disse o economista-chefe da Serasa Experian (LON:EXPN), referindo-se ao número total de casos.
No ano passado, segundo a instituição, os pedidos totais deram um salto de 44,8 por cento, para 1.863, recorde da série iniciada em 2006. Os pedidos de recuperação apenas de grandes empresas, com faturamento acima de 50 milhões de reais por ano, somaram 227 em 2016, ante 224 em 2015.
Para as fontes ouvidas pela Reuters, esse quadro é explicado pelo fato de que empresas de pequeno e médio portes, por terem menos fôlego financeiro, foram atingidas mais rapidamente pela recessão.
"Das menores, quem tinha que falir ou ir para recuperação, já foi", disse o executivo do grande banco privado.
As companhias maiores, ao contrário, conseguiram estender as negociações com bancos, algumas apostando que receberiam novos recursos de investidores estratégicos.
"Não foi o que aconteceu, algumas empresas ainda não são atraentes o suficiente para investidores", disse uma das fontes jurídicas.