BUENOS AIRES/LONDRES (Reuters) - A Argentina introduziu nesta segunda-feira taxas de câmbio mais fracas relacionadas ao comércio, mantendo a taxa oficial do peso estável, em um esforço para atender às expectativas em seu acordo de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional, evitando uma desvalorização politicamente custosa.
Os exportadores de milho poderão vender seus produtos no exterior a 340 pesos por dólar, de acordo com um decreto do governo, uma taxa temporária para reforçar as exportações até 31 de agosto. Essa taxa é cerca de 27% mais fraca que a cotação oficial de 268 pesos por dólar, que ficou inalterada.
O governo também introduzirá um imposto de 7,5% sobre algumas importações de bens e um imposto de 25% sobre as importações da maioria dos serviços, com novas taxas de câmbio em torno de 288 e 335 pesos por dólar, respectivamente, de acordo com uma autoridade do governo.
A medida ocorre conforme o país enfrenta negociações atrasadas com o FMI sobre a quinta revisão de um programa de 44 bilhões de dólares, que estava prevista para junho.
A medida é "um meio termo entre a desvalorização solicitada pelo FMI e a ordem política de não desvalorizar (o peso) em ano eleitoral", disse Roberto Geretto, economista da Fundcorp.
O governo da Argentina está lutando com uma taxa de inflação anual de mais de 100%, que uma desvalorização mais ampla exacerbaria.
"A desvalorização fiscal melhora as receitas do Tesouro e ajuda a economizar reservas", acrescentou Geretto, mas ainda há "pontos a resolver" nas negociações. Ambas as partes disseram que um acordo está próximo, mas ainda não foi finalizado.
Os títulos estrangeiros do país subiram até 1,4 centavo de dólar, de acordo com dados da MarketAxess. O bônus em dólar de 2035 está sendo negociado a 31,8 centavos, seu nível mais alto desde janeiro de 2022, embora ainda em níveis profundamente delicados.
Um porta-voz do FMI disse que as medidas anunciadas pelas autoridades argentinas são "positivas para fortalecer as reservas e consolidar a trajetória da ordem fiscal, variáveis fundamentais para fortalecer a estabilidade econômica".
A Argentina enfrenta vencimentos com o FMI no valor de cerca de 3,4 bilhões de dólares entre julho e agosto, em um momento em que as reservas líquidas do banco central estão com déficit de cerca de 6,5 bilhões de dólares.
O governo argentino espera alterar as metas econômicas acertadas com o FMI e antecipar alguns desembolsos do Fundo programados para este ano, enquanto enfrenta uma grave crise financeira que a falta de reservas pode agravar.
Uma fonte do Ministério da Economia disse à Reuters que o programa de desembolsos para o segundo semestre de 2023 foi acertado e o acordo sobre o nível de pessoal pode ser selado na quarta ou na quinta-feira.
(Reportagem de Hernan Nessi e Jorgelina do Rosário, com reportagem adicional de Walter Bianchi)