Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro comemorou como uma vitória pesssoal, nesta terça-feira, a suspensão dos testes da vacina contra a Covid-19 CoronaVac, da chinesa Sinovac e que está sendo testada no Brasil pelo Instituto Butantan, em uma comentário em sua conta no Facebook, além de insunuar, sem provas, que o medicamento poderia causar "morte, invalidez e anomalias".
Ao responder uma pergunta de um seguidor em uma publicação sobre as ações do governo na pesquisa sobre medicamentos para a Covid-19, Bolsonaro colocou o link de um artigo sobre a suspensão dos testes e afirmou: "Mais uma que Jair Bolsonaro ganha".
O seguidor perguntou se o governo federal iria comprar e produzir a CoronaVac se a ciência disser que ela é segura. Bolsonaro respondeu: "Morte, invalidez, anomalia... Esta é a vacina que Doria (João Doria, governador de São Paulo) queria obrigar todos os paulistanos a tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória".
Os efeitos adversos citados pelo presidente são razões pelas quais um teste pode ser suspenso, citadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no comunicado em que informou a suspensão dos testes. A agência não detalhou qual desses efeitos a levou a determinar a interrupção.
De acordo com o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, um voluntário dos testes com a CoronaVac morreu, mas a morte não teve relação com a vacina. O Butantan e o governo paulista disseram que foram surpreendidos pelo anúncio da Anvisa e que tomaram conhecimento dele pela imprensa.
"Primeiro, a Anvisa foi notificada de um óbito, não de um efeito adverso. Isso é um pouco diferente. Nós até estranhamos essa decisão da Anvisa, porque é um óbito não relacionado à vacina. Como são mais de 10 mil voluntários neste momento, podem acontecer óbitos. O sujeito pode ter um acidente de trânsito e morrer", disse o presidente do Butantan em entrevista à TV Cultura na noite de segunda.
Em nota divulgada na noite de segunda, a Anvisa afirmou que suspendeu os testes clínicos para "avaliar os dados observados até o momento e julgar sobre o risco/benefício da continuidade do estudo", mas sem dar maiores detalhes.
Em guerra política com Doria, Bolsonaro tem desmerecido a vacina chinesa em diversas ocasiões. No mês passado, depois que os testes mostraram um alto grau de segurança da vacina e um calendário adiantado, o Ministério da Saúde assinou um protocolo de intenções para comprar do Butantan 46 milhões de doses do imunizante para ser distribuído dentro do Plano Nacional de Imunizações (PNI).
No dia seguinte, depois de críticas de seus apoiadores mais radicais, Bolsonaro, também em uma publicação nas redes sociais, afirmou que mandara suspender o protocolo e que o governo federal não iria comprar a CoronaVac.
Na segunda-feira, Doria afirmou que o governo federal também não liberou os recursos que haviam sido prometidos para construção pelo Butantan da fábrica para produzir a CoronaVac localmente.