Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - À espera da visita do presidente da China, Xi Jinping, em novembro, o governo brasileiro desenha uma proposta para atrair investimentos chineses, mas o modelo deve ser adaptado ao que o país pretende, e não uma cópia do contrato da iniciativa Nova Rota da Seda que os chineses têm levado ao mundo, disseram fontes com conhecimento das tratativas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou uma reunião na semana passada com diversos ministros para começar a trabalhar em uma lista de projetos que gostaria de apresentar aos chineses, mas também em um modelo de financiamento que foge do tratamento que a China normalmente dá aos países que aderem à Nova Rota da Seda -- um plano de investimentos chineses em parceiros comerciais ao redor do mundo.
Até hoje, o Brasil olhava de lado para a iniciativa. Não porque não se interessasse pelos investimentos chineses, mas porque o modelo de negócios não se adequa ao país. Normalmente, junto com o financiamento, o governo chinês envia trabalhadores e materiais, em um modelo que cria a infraestrutura, mas poucas oportunidades locais.
"Para o Brasil não pode ser um contrato pré-desenhado. Estamos desenhando qual a ideia do que pode funcionar", disse uma fonte brasileira envolvida no processo de negociação com os chineses.
"Tem que ser feito de acordo com os interesses e as circunstâncias brasileiras. Temos as nossas leis trabalhistas, a lei de licitações, as leis ambientais, responsabilidade fiscal, várias coisas que precisam ser cumpridas", acrescentou.
Dentre as áreas que o país tem interesse em atrair investimentos chineses -- e estrangeiros de um modo geral -- estão o desenvolvimento da indústria e integração sul-americana, entre outras. Do lado chinês, dizem as fontes, há interesses estratégicos na América do Sul e, durante visita de Lula a Pequim, no ano passado, Xi disse ao brasileiro que quer sair da visita ao Brasil com acordos concretos.
"O principal é definir qual o lugar a China terá para o Brasil nos próximos anos. O cenário é de um acordo desenhado para o Brasil", disse uma outra fonte do grupo de negociadores.
EUA X CHINA
Em meio às disputas geopolíticas que envolvem China e Estados Unidos, a aproximação dos governo brasileiro com o país asiático desperta a preocupação dos norte-americanos, de acordo com fontes ouvidas pela Reuters. Com dificuldades de encarar no mesmo grau a disposição chinesa de despejar financiamento e distribuir tecnologias, os norte-americanos tentam, ainda assim, aumentar as parcerias com o Brasil e fazer frente aos chineses.
No início deste ano, os Estados Unidos abriram seu primeiro escritório da Development Finance Corporation (DFC) na América Latina. Além disso, tentam também fazer investimentos no país através da Partnership for Global Infrastructure and Investment (PGII), iniciativa do G7 que financia infraestrutura em países em desenvolvimento.
Os dois movimentos, disse à Reuters uma fonte que acompanha o processo, são parte de iniciativas dos Estados Unidos para tentar ampliar a presença no Brasil, em um movimento de contrabalançar o peso da China.
Existe a intenção norte-americana de investir na área dos chamados minerais críticos, cruciais para o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono -- um setor que também interessa à China.
"Existem estudos de como oferecer ao Brasil tecnologia para aumentar o refino desses materiais, ampliar o papel do Brasil nessa cadeia", disse uma fonte norte-americana.
As conversas começaram em março do ano passado, durante a visita do o subsecretário de Estado para Assuntos Econômicos, Energia e Meio Ambiente, José W. Fernandez, como mostrou na época a Reuters, mas ainda não avançaram em medidas concretas.