Por Geoffrey Smith
Investing.com -- Quer assustar as pessoas na festa de Halloween deste ano? Experimente se vestir como a coisa mais assustadora de todas hoje – uma cadeia de fornecimento global.
Mas antes, um alerta de spoiler: você vai ter que fazer essa fantasia você mesmo. A fábrica do Vietnã que as confecciona acabou de reabrir após meses de lockdown e, mesmo que você conseguisse uma em Ho Chi Minh, o navio que a transporta teria que entrar na fila atrás de mais outros 70 que hoje estão ancorados fora do porto de Long Beach, à espera para descarregar mais de US$ 26 bilhões em carga.
O congestionamento nos portos dos EUA é um bom lembrete de que o que muitas vezes chamamos de crise da cadeia de fornecimento é, pelo menos em parte, uma questão de demanda: as importações dos EUA atingiram um recorde de US$ 287 bilhões em setembro, 8% acima do seu pico durante a era Trump, em 2018. Tanto varejistas como fabricantes sabem há meses que a próxima temporada de festas de fim de ano seria um enorme desafio, e correram para fazer suas encomendas com antecedência.
Tudo isto aconteceu num momento de contínuas restrições em locais de trabalho e lockdowns esporádicos devido à Covid-19 na China. Não é de admirar que o sistema esteja quebrando.
As cadeias de fornecimento vêm lançando notícias verdadeiramente assustadoras durante e às vésperas da atual temporada de resultados. Empresas desde Toyota (NYSE:TM) (SA:TMCO34) a Kimberly-Clark (NYSE:KMB) (SA:KMBB34) e Whirlpool (NYSE:WHR) (SA:W1HR34) estenderam suas previsões de por quanto tempo seu setor será afetado pela escassez de mão de obra sobre componentes.
O que parecia ser uma breve, embora dramática, peculiaridade do cenário pós-pandemia se transformou em algo mais disseminado e ameaçador.
Enquanto os bancos centrais e ministros das Finanças do mundo se encontravam no início deste mês na reunião anual do Fundo Monetário Internacional, a percepção geral é de que o que se esperava ser um aumento dos preços começa a se parecer com um platô - pelo menos em alguns países e alguns produtos.
"O que tudo isso significa, em todos os nossos países, é que a inflação - as leituras de inflação - provavelmente vão demorar um pouco mais para cederem", resumiu o Governador do Banco do Canadá, Tiff Macklem.
No final de setembro, um relatório afirmou que a Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34) está planejando cortar envios de sua nova série de iPhone 13 por não ser possível obter peças críticas. Isso serviu como um despertador para todos que descartaram a falta de chips em geral como algo com impacto apenas sobre consumidores de produtos mais barato e de tecnologia mais baixa.
Na semana passada, a Snap (NYSE:SNAP) – a controladora da Snapchat, empresa de redes sociais – alertou que os anunciantes tinham cortado seus orçamentos, ilustrando que até as empresas de redes sociais e outras empresas chiques baseadas em software vivem, em última análise, na mesma cadeia alimentar que os fabricantes e varejistas.
Até mesmo os fabricantes de chips estão culpando a escassez global de chips pelas vendas fracas. A Intel (NASDAQ:INTC) (SA:ITLC34) disse na semana passada que não alcançou as metas de vendas porque os fabricantes de dispositivos que compram seus chips tinham feito menos encomendas – porque eles enfrentavam a falta de semicondutores em outras empresas necessárias para fazer seu produto acabado, um conceito que a Intel resumiu de maneira memorável como "restrições do ecossistema de notebooks".
Os semicondutores, cada vez mais incorporados em quase todos os aspectos da fabricação e dos serviços, continuam no cerne do problema. E embora não haja unanimidade sobre quanto tempo a escassez vai durar, a tendência tem sido inequivocadamente para horizontes de tempo mais longos. As políticas de estímulo em todo vapor garantiram que a procura por bens se manteve melhor do que muitos esperavam, apesar do relaxamento das restrições de lockdown e os consumidores tenham recuperado a liberdade de gastar novamente com serviços.
O que coloca o foco de volta no lado do fornecimento. Leva tempo para construir uma fábrica de chips. E os fabricantes – especialmente os vulneráveis a cortes por parte da China – ficam agoniados em empenhar bilhões na construção de fábricas que podem não ser totalmente utilizadas.
No entanto, a geopolítica, sob a forma de uma política comercial cada vez mais robusta dos EUA em relação à China, deu à indústria um grau de conforto nessa frente. A holandesa ASML (NASDAQ:ASML) (SA:ASML34), única empresa do mundo que produz as máquinas litográficas de US$ 150 milhões capazes de imprimir os menores e mais poderosos chips, está represando essas máquinas da China sob a pressão diplomática dos EUA.
Os resultados disso começam a ser vistos vistos agora, do Arizona e Texas ao Japão. Só a Intel planeja construir duas novas unidades de fabricação, ao custo de US$ 20 bilhões. A Samsung (KS:005930) está perto de concordar em construir uma nova fábrica no Texas. A Taiwan Semiconductor Manufacturing (NYSE:TSM) (SA:TSMC34), a maior fabricante contratual de chips do mundo, deverá fechar um acordo para construir uma nova fábrica no Japão.
Todos estes projetos levam tempo. A Samsung prevê que uma fábrica nova só entre em operação em 2024. Pat Gelsinger, CEO da Intel, disse que espera que a escassez dure por todo o ano de 2023. Mas, em última análise, uma expansão sincronizada da capacidade como essa pode significar apenas uma coisa: a indústria dos chips, que sempre foi intensamente cíclica, permanecerá assim, apesar das suas perspectivas de crescimento seculares.
Mais cedo ou mais tarde, a oferta não só irá satisfazer a demanda, como também a excederá (muito provavelmente quando os bancos centrais do Ocidente começarem a elevar as taxas de juros a fim de controlar a inflação). Talvez o pico ainda não tenha chegado, mas em breve ele estará à vista.