Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar teve mais um dia de firme alta ante o real, fechando no maior patamar em um mês e cruzando duas importantes resistências técnicas, evento que pode sinalizar mais valorização da moeda à frente.
A cotação chegou a operar em queda durante os negócios, mas por volta de 14h30 (de Brasília) tomou fôlego e disparou para alta de mais de 1%, em meio à forte aversão a risco global depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou a China com mais tarifas de importação. A ameaça indica que a guerra comercial entre as duas potências ainda está longe de terminar.
O dólar à vista fechou em alta de 0,79%, a 3,8475 reais na venda. É a quarta alta diária consecutiva. O patamar é o mais elevado desde 2 de julho (3,855 reais). As operações no mercado spot se encerram às 17h.
Já na B3, em que as negociações com derivativos vão até as 18h, o dólar futuro saltou 0,68%, para 3,8475 reais. O primeiro vencimento movimentou quase 500 mil contratos, maior volume desde 17 de maio.
Indicativo do maior grau de nervosismo no câmbio, a volatilidade implícita das opções de dólar/real para três meses foi a 11,26% ao ano, máxima em duas semanas, tomando distância da mínima de 10,37% atingida na semana passada.
Além disso, a cotação superou suas médias móveis de 200 dias e 50 dias --o que não ocorria desde julho e maio, respectivamente. Deixar para trás essas médias é visto no mercado como sinal de força de um ativo (no caso, o dólar), o que pode alimentar compras adicionais da moeda, retroalimentando a valorização da divisa.
A pressão sobre o câmbio também se deu depois de o Copom indicar na véspera mais cortes da Selic. Com isso, há risco de mais queda no diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. Isso piora a relação risco/retorno de se trazer fluxo para a renda fixa doméstica, potencialmente limitando oferta de dólar no país.
"A questão do diferencial de juros entre Brasil e EUA está impactando o câmbio e vai continuar assim", disse Thiago Silencio, operador de câmbio da CM Capital Markets.
No exterior, o dólar tinha firme alta contra outras divisas emergentes, como peso mexicano, rand sul-africano e lira turca. Já contra o iene --tradicional ativo seguro--, a moeda dos EUA caía mais de 1%.