Investing.com - Uma das propostas mais comentadas do novo presidente da Argentina, Javier Milei, é a dolarização da economia e o desaparecimento do Banco Central; entretanto, alguns relatórios da imprensa do país sugerem que essa proposta pode ser suspensa.
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A tarefa parece difícil, mas não impossível. O que é certo é que o novo presidente enfrentará um cenário de inflação alta, restrições cambiais e uma dívida externa histórica. E para realizar essa mudança radical no sistema monetário do país sul-americano, que inclusive foi uma de suas principais propostas de campanha, ele precisará do apoio de um Congresso fragmentado, o que complica ainda mais a possibilidade de sucesso.
Nesse cenário, o diretor de Pesquisa Econômica para a América Latina do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), Martín Castellano, analisou os desafios envolvidos na dolarização da economia argentina para o podcast Norte Econômico do Grupo Financeiro Banorte (BMV:GFNORTEO).
"A implementação da dolarização na Argentina exigiria muitas coisas que não existem hoje, principalmente porque a Argentina não tem dólares para absorver os pesos no mercado. O banco central tem reservas líquidas negativas de cerca de 10 bilhões de dólares e a dolarização exigiria cerca de 30 bilhões de dólares para fazer isso. A capacidade de empréstimo em dólares também é muito limitada", disse ele.
O especialista argumentou que não haveria apetite no mercado para obter esse tipo de financiamento rapidamente, nem as organizações multilaterais seriam capazes de financiar a dolarização; e ao considerar a opção de usar o dinheiro dos argentinos no exterior, Castellano apontou que isso poderia ter um impacto sobre a confiança na política econômica, portanto não seria viável como fonte de financiamento.
"No final das contas, o que teria de acontecer é que a Argentina teria de se mover em direção a uma situação de economia das contas externas, onde seriam gerados superávits em conta corrente que permitiriam a reposição das reservas. E isso claramente não poderia acontecer muito rapidamente no curto prazo e também exigiria, digamos, um ajuste muito grande no nível de atividade a fim de aumentar ou acumular esse nível de dólares", disse ele.
De acordo com o diretor do IIF, Javier Milei enfrenta dois grandes desafios: estabilizar a economia e encontrar financiamento. Quanto ao primeiro ponto, o desafio será garantir que, ao desmantelar os controles cambiais, o país não caia em um cenário de hiperinflação que gere mais problemas sociais. Quanto ao financiamento, o principal objetivo será renegociar um acordo com o Fundo Monetário Internacional, cujo passivo ultrapassa 31 bilhões de dólares.
Em uma análise separada, os economistas da BBVA Research alertaram que os planos iniciais de Milei para um aperto fiscal significativo, maior desregulamentação e abertura da economia poderiam levar a uma queda maior do que a inicialmente esperada no PIB até 2024.
"Os dados do segundo semestre de 2023 mostram uma contração menor do que a esperada, com um bom impulso dos gastos eleitorais, de modo que cortamos nossa previsão de variação do PIB para 2023, mas, em vista da profundidade e da velocidade dos ajustes anunciados pelo governo eleito, aprofundamos a contração esperada para -4% em 2024 (anteriormente -2,5%)", disseram eles.
No período que antecedeu a posse de Milei em 10 de dezembro, os analistas da BBVA Research observaram que o presidente eleito da Argentina disse que buscará o equilíbrio fiscal com um corte acentuado nos gastos (subsídios, obras públicas, etc.), além de uma grande reestruturação do Estado e da melhoria dos impostos sobre as exportações devido ao fim da seca (~1% do PIB).
"Portanto, esperamos uma correção significativa do déficit primário de 3,2% do PIB no final de 2023 para um déficit primário de 0,8% do PIB em 2024", disseram eles.
O que Milei conseguirá fazer com e sem o apoio do Congresso?
De acordo com os analistas da BBVA Researcho que Javier Milei será capaz de implementar sem a necessidade de amplo apoio político do Congresso:
- Remover os controles de capital
- Liberalizar parcialmente o comércio
- Reduzir os gastos públicos em 2 a 4%.
- Desregulamentar o setor financeiro
Pelo contrário, eles alertam que ele não conseguirá fazer isso sem apoio legislativo suficiente:
- Dolarizar
- Remover ou estabelecer novos impostos (exceto para o comércio exterior)
- Reformas estruturais: trabalhista, previdenciária, tributária, entre outras.
- Privatização de empresas públicas importantes