👀 Não perca! As ações MAIS baratas para investir agoraVeja as ações baratas

História do cacau produzido na Bahia é tema do Caminhos da Reportagem

Publicado 04.11.2022, 08:27
Atualizado 04.11.2022, 08:40
© Reuters.
CC
-

O cacau do sul da Bahia participa da história do país há mais de 250 anos e chegou quase ao fim na década de 1980, quando a vassoura-de-bruxa, doença causada por um fungo nos cacaueiros, devastou as plantações.

Hoje, a região ressurge no cenário nacional mais uma vez como zona cacaueira, mas focada nas amêndoas de qualidade, nos formatos de produção e na preservação ambiental. As mudanças trazem novos ares para um modelo que, no passado, ficou marcado pela escravidão e pelos coronéis do cacau.

O fruto foi levado para a Bahia para substituir as plantações de cana-de-açúcar no século 18, que entravam em decadência, e logo se adaptou ao clima quente e úmido do estado. Tanto que, em 2018, a região conquistou o selo de indicação geográfica com nome Sul da Bahia, que destaca a tradição e qualidade diferenciada do cacau produzido ali.

Da árvore à barra

A Yrerê é uma das fazendas que carregam a história do cacau. Foi uma sesmaria doada pela coroa portuguesa em 1818 para uma família de alemães. O atual proprietário, Gerson Marques, é o primeiro dono fora da linha sucessória da família. Comprou o local há 24 anos e se especializou em produzir cacau fino e orgânico, além de explorar o turismo de experiência. Produz cerca de 400 arrobas de amêndoas por ano. Para o produtor, após a vassoura-de-bruxa na região, a quantidade deixou de ser meta. “O caminho que nos resta é o da alta especialização, da alta qualidade, vender cacau a um preço que vale a pena”, afirma.

Na fazenda, os turistas percorrem quase todos os processos de produção do chocolate, que é chamado pelo proprietário de tree to bar (da árvore à barra), numa alusão ao conceito beans to bar (da amêndoa à barra), em que todo o processo é transparente para o consumidor. Ali, eles conhecem a plantação de cacau, provam o fruto, acompanham a secagem das amêndoas e, depois, participam de uma degustação dos vários tipos de chocolate produzidos na fazenda.

Segundo a gerente regional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em Ilhéus, Claudiana Campos, a estratégia é produzir uma amêndoa de qualidade, fugindo do formato de commodity (produto primário com cotação em mercados internacionais), que é a venda em grandes quantidades, mas sem tanta qualidade. “Hoje, já vendemos um produto de qualidade para chocolatiers (profissionais especializados em chocolates) e indústrias do mundo inteiro, com muitas amêndoas premiadas em concursos nacionais e internacionais”, diz.

Cacau fino

Em 2019, o Brasil foi reconhecido como produtor de cacau fino de aroma para exportação, pela Organização Internacional do Cacau. Essa amêndoa representa 3% da produção brasileira, conforme dados da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). A meta é chegar a 10%.

O controle de qualidade é rígido. Em Ilhéus, é feito pelo Centro de Inovação de Cacau (CIC), onde fica o Chocolab, laboratório que emite laudos para atestar se as amêndoas daquela safra estão no padrão da IG Sul da Bahia. No local, são feitos testes com a matéria-prima e também sensoriais de sabor, aroma e textura do chocolate. A norma da IG prevê percentual de 3% de defeitos nas amostras, uma norma mais rígida que as internacionais.

Cerca de 4 mil produtores fazem parte da Associação Cacau Sul Bahia, que podem usar o selo da IG. Segundo o diretor executivo da instituição, Cristiano Sant’ana, os associados também podem usar a marca de chocolate Sul Bahia, uma produção coletiva. Por meio de um QR Code na embalagem do produto, é possível ter acesso às informações da matéria-prima, nome do produtor, localização geográfica e padrão de qualidade daquele lote.

Um dos associados é o assentamento Dois Riachões, formado por 40 famílias que produzem em uma área de 160 hectares. Rubens Dário de Jesus diz com orgulho que eles são os primeiros produtores da agricultura familiar a conseguir o selo de Indicação Geográfica. Para ele, a certificação permite agregar valor ao produto e, para o consumidor, saber a procedência, a cadeia produtiva daquele chocolate e também a qualidade da matéria-prima.

Uma mudança de vida não só para as famílias do assentamento, como também em todo o processo de trabalho com o cacau. A produtora Delineia Batista dos Santos lembra de como era o trabalho dos pais nas plantações das grandes fazendas. “Sempre tinha alguém que ficava ali, vigiando o trabalho deles, porque não podiam chupar o fruto do cacau.” Quem era pego fazendo isso, era demitido. “Meus pais começaram a saber, a sentir o sabor do fruto do cacau, depois que nós viemos para o assentamento.”

Além de plantar, processar e vender as amêndoas de cacau, as famílias do assentamento também fazem o próprio chocolate para venda, com o nome Dois Riachões. São produzidos chocolates com 70% e 56% de cacau, com certificações não só da IG, mas também orgânica e de agroecologia.

Estar presente em todo o processo – da plantação à comercialização direta ao consumidor – quebra um ciclo de dois séculos. “A vida toda a gente trabalhou no cacau, mas nunca ganhou dinheiro com ele. Agora, conseguimos desenvolver o modelo que é rentável para o agricultor, que consegue ter uma qualidade de vida vivendo no campo”, conclui Rubens Dário.

O episódio Cacau, uma história ainda escrita na Bahia do programa Caminhos da Reportagem e vai ao ar no próximo domingo (6), às 22h, na TV Brasil.

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2024 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.