Investing.com - Há tempos, os mercados financeiros apostam que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) fará um ajuste suave e que a inflação cairá logo, como previsto. Esse cenário já está embutido nos preços, assim como os seis cortes de juros esperados para este ano, o que abre margem para frustrações, segundo o economista Daniel Lacalle:
“O primeiro risco vem dos preços das commodities e dos custos de transporte. Os agentes de mercado quase desprezaram a escalada dos riscos geopolíticos e viram a queda atípica e contrária à intuição dos preços das commodities em 2023 como algo definitivo”.
Porém, no começo do ano, a realidade mudou. Os custos de transporte subiram, os preços do petróleo saltaram e a redução da inflação europeia em novembro se apoiou muito em efeitos de base, fazendo a inflação de dezembro subir de novo.
Mas não é só isso: Lacalle indica mais dois riscos que os investidores privados deveriam levar em conta:
“O segundo risco decorre do aumento expressivo da liquidez e da oferta monetária efetiva, tanto nos EUA quanto na zona do euro. Assim, os próximos três meses serão decisivos para compreender o verdadeiro processo de desinflação e verificar se as estimativas de mercado são muito otimistas. Se a oferta monetária não cair, poderá ser difícil atingir uma taxa de inflação de 2%. A ata do Comitê Federal de Mercado Aberto surpreendeu muitos, pois os membros, assim como o BCE, mantiveram a postura de aguardar, em vez de baixar logo as taxas de juros”.
Em geral, Lacalle acha que o excesso de atenção nos cortes de juros está tirando o foco da inflação. Porém, o mandato dos bancos centrais de assegurar a estabilidade de preços também influenciará suas decisões de juros, e a ruptura das cadeias de fornecimento estabelecidas tem efeitos inflacionários, conforme Lacalle:
“O terceiro risco vem dos efeitos inflacionários do protecionismo estatal. Com o aumento das barreiras comerciais, o processo de desinflação monetária pode perder força por causa de guerras comerciais, obstáculos ao comércio e tarifas. Infelizmente, os governos na zona do euro e nos EUA estão reforçando suas medidas protecionistas, que às vezes são mascaradas de ‘política ambiental’, dificultando a concorrência e elevando os preços de alimentos e moradia ao limitar o acesso a terras e áreas agrícolas e ao atrapalhar projetos de construção. Intervencionismo e guerras comerciais aumentam o custo de bens e serviços para os cidadãos, fixando um preço mínimo, mesmo quando a oferta monetária está caindo”.
Para Lacalle, a falta de uma recuperação no início do ano não é uma surpresa, mas sim o resultado de expectativas exageradas anteriores:
“Devemos ter cuidado com o otimismo exagerado em relação à inflação e estar mais atentos aos riscos que surgem ao esperar uma desinflação sem prejuízos econômicos. Muitos agentes de mercado ficaram repentinamente surpresos com o começo negativo de janeiro, mas isso se deve às expectativas exageradas de cortes agressivos e imediatos dos juros.”