Investing.com – O retorno de Donald Trump à presidência dos EUA deverá trazer mudanças expressivas ao cenário macroeconômico, inclusive pressões inflacionárias, de acordo com a Capital Economics.
Embora os impactos imediatos sejam considerados limitados, a perspectiva de longo prazo sugere um panorama bastante distinto.
A pesquisa da Capital Economics aponta que um consenso começa a se formar sobre o potencial de maior crescimento do PIB dos EUA, sustentado por cortes de impostos e expansão fiscal.
Obstáculos para a expansão fiscal
A empresa, contudo, não está totalmente convencida dessa perspectiva, apontando a ausência de uma maioria no Congresso capaz de evitar obstruções legislativas como um possível obstáculo à aprovação de cortes de impostos abrangentes.
“A economia americana está em um ponto muito diferente do que estava durante o primeiro mandato de Trump em 2016”, explicou a firma em relatório.
“O déficit orçamentário federal é maior, e a dívida pública está mais elevada, o que significa que uma grande expansão fiscal pode provocar uma forte reação negativa no mercado de títulos,” acrescentaram os analistas.
Além disso, com a economia próxima ao pleno emprego, um estímulo fiscal pode gerar mais inflação do que crescimento econômico.
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Políticas inflacionárias
A incerteza em torno das políticas que serão implementadas e seu cronograma de execução é um ponto relevante. Ainda assim, as promessas de campanha de Trump indicam um viés inflacionário, com possíveis restrições à imigração, aumento de tarifas e cortes de impostos elevando os preços.
Com isso, a Capital Economics projeta um acréscimo de aproximadamente 1% em sua previsão de inflação dos EUA entre meados de 2025 e meados de 2026. Além disso, revisou sua projeção para a taxa básica de juros do Federal Reserve, esperando agora que ela atinja um piso de 3,50% a 3,75% neste ciclo, 50 pontos-base acima da previsão anterior.
“Isso implica em rendimentos mais altos para os títulos do governo americano e um dólar mais forte,” concluiu o relatório.
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Trump e a independência do Fed
De acordo com o Piper Sandler, Trump não parece disposto a instalar uma liderança paralela no Federal Reserve para enfraquecer a posição do atual presidente do banco central, Jerome Powell, cujo mandato vai até 2026.
Apesar de rumores sugerirem que alguns conselheiros de Trump defendem a nomeação de um substituto para emitir declarações concorrentes às de Powell, analistas acreditam que esse cenário é improvável.
Na semana passada, Powell rejeitou publicamente qualquer possibilidade de ser demitido, afirmando que não renunciaria caso fosse solicitado pelo novo governo. O Wall Street Journal reportou que Powell provavelmente contestaria judicialmente qualquer tentativa de remoção antes do fim de seu mandato.
Trump também sinalizou em junho que permitiria que Powell concluísse seu mandato, “especialmente se achasse que ele está fazendo a coisa certa.”
Impactos nas políticas do Fed
Mudanças imediatas na composição do Fed seriam mais complicadas desta vez, já que não há vagas abertas na diretoria de sete membros. Além disso, intervenções no banco central poderiam prejudicar os esforços em curso para conter a inflação sem desestabilizar a economia ou o mercado de trabalho.
Na semana passada, o Fed reduziu os juros em 25 pontos-base, afirmando que a atividade econômica permanece em ritmo “sólido.” Entretanto, o mercado ainda mostra incertezas sobre a trajetória de cortes adicionais.
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Propostas de Trump, como a imposição de tarifas abrangentes sobre importações, podem aumentar a inflação e levar o Fed a manter os juros em níveis mais elevados do que o inicialmente previsto. Essa possibilidade de maior volatilidade amplia o risco de choques entre o Fed e o novo governo, segundo o Wall Street Journal.
Mesmo assim, os analistas do Piper Sandler acreditam que Trump provavelmente respeitará a independência do Fed. Eles argumentam que deixar o banco central atuar de forma autônoma seria a opção mais pragmática para o presidente eleito atingir sua preferência por juros baixos, especialmente se suas políticas ampliarem o déficit fiscal.
Um déficit maior poderia forçar o governo a emitir mais títulos para financiar a dívida, potencialmente elevando os custos de empréstimos.
“Se a nova administração, como todos esperam, for incapaz de reduzir os déficits, metas numéricas de inflação e a independência do banco central serão compensações eficazes para manter os custos de financiamento o mais baixos possível,” disseram os analistas do Piper Sandler.